Valor econômico, v. 17, n. 4081, 31/08/2016. Política, p. A7

Temer espera ser empossado ainda hoje

Presidente interino viaja em seguida para a China

Por: Andrea Jubé / Murillo Camarotto / Cristiano Zaia

 

Convicto da vitória na votação final do processo de impeachment, prevista para esta manhã, o presidente interino Michel Temer convocou uma reunião ministerial para depois de sua posse formal. A expectativa do Palácio do Planalto é que a solenidade, em sessão conjunta do Congresso Nacional, ocorra no início da tarde. Temer avalia se faz uma declaração à imprensa, antes de embarcar, no fim da tarde, para a China. Está prevista a veiculação de seu pronunciamento à Nação à noite, em cadeia de rádio e na televisão. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), acompanha Temer na viagem.

Temer mantém o compromisso de participação em um seminário empresarial em Xangai, na China, no dia 2 de setembro. Os ministros da Agricultura e dos Transportes, Blairo Maggi e Maurício Quintella, viajaram na frente, ontem à noite. Depois, nos dias 4 e 5, Temer participa da cúpula de líderes do G-20, na cidade de Hangzhou, onde terá reuniões bilaterais com o presidente chinês, Xi Jinping, com a primeira-ministro da Espanha, Mariano Rajoy e o primeiro-ministro da Itália, Matteo Renzi.

"Temer vai em busca de parceiros, o Brasil é um mar de oportunidades, mas que neste momento não tem condições de investir em infraestrutura, logística, saneamento, mobilidade urbana", disse ao Valor o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, sobre a viagem oficial à China, e as futuras viagens ao exterior. Temer ainda pretende visitar, neste semestre, os Estados Unidos, a Argentina, a Índia e talvez o Japão. "Para buscar essas parcerias, o Brasil tem que internacionalmente conhecido, como um país que garante segurança jurídica e mereça confiança", afirmou.

Padilha reafirmou o compromisso de Temer com as reformas estruturantes, depois de confirmado no cargo. "O Estado brasileiro vai se inviabilizar se não fizer a reforma fiscal. Temos que conter o déficit previdenciário e a dívida pública, e não se contém isso com uma freada brusca", explicou.

O secretário-executivo do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), Moreira Franco, disse ao Valor que, confirmado no cargo, as atenções de Temer vão se voltar, prioritariamente, para a recuperação econômica. "A prioridade do presidente é a economia, depois a economia e depois a economia", reiterou.

Michel Temer quer uma solenidade discreta, inspirada na cerimônia que deu posse ao então vice-presidente Itamar Franco, em 1992.

As circunstâncias, contudo, são diferentes. Na ocasião, Fernando Collor (hoje senador pelo PTC alagoano) renunciou à Presidência no início do julgamento do impeachment. O processo foi interrompido para que uma sessão do Congresso fosse convocada e Itamar prestasse juramento, sem discursos.

Como Temer tem origem parlamentar, ele deve fazer uma fala breve aos deputados e senadores, depois de assinar o livro de posse e prestar juramento à Nação. Ele não vestirá a faixa presidencial.

A principal manifestação de Temer aos brasileiros será em um pronunciamento, que vai ao ar à noite, em cadeia de rádio e na televisão. O próprio Temer redigiu sua manifestação, com a ajuda de assessores e ministros próximos. Assessores fazem mistério sobre a fala presidencial, mas Temer vai reiterar o apelo pela "reunificação do país". Vai se comprometer com reformas estruturantes para "recolocar o país nos trilhos do crescimento" e com a geração de empregos, que tem sido sua principal preocupação.

O Planalto espera um placar de, pelo menos, 60 votos favoráveis ao impeachment, um a mais que o resultado da votação relativa à pronúncia da presidente afastada Dilma Rousseff. Há pressão para que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), vote favoravelmente ao impedimento, mas ele resiste. "Renan tem que se posicionar, o momento exige que todos nós tenhamos posição", argumentou um líder pemedebista, próximo a Temer e ao presidente do Senado. Bastam 54 votos para confirmar o afastamento de Dilma.

Temer pediu ao ministro da Agricultura, Blairo Maggi, que antecipasse para ontem sua viajem para a China e chegasse antes dele para representá-lo nos primeiros compromissos do governo brasileiro no país asiático.

Maggi já havia planejado há mais de um mês um longo roteiro em setembro, com 22 dias de viagem por sete países da Ásia a começar pela China. A ideia inicial porém, era que o ministro embarcasse para Pequim apenas dia 3 de setembro.

Maggi ficará na Ásia até 27 de setembro. Na bagagem, levará a intenção de negociar acordos comerciais para abertura ou consolidação de mercados asiáticos e prospectar novas oportunidades de negócios para os produtos agropecuários brasileiros. Além da China, Maggi terá como destino a Coreia do Sul, a Tailândia, Myanmar, o Vietnã, a Malásia e a Índia.

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