Valor econômico, v. 17, n. 4081, 31/08/2016. Política, p. A7

Sucesso na economia definirá chance de reeleição

Por: Fernando Exman

 

A conclusão do processo de impeachment, resultando num governo Michel Temer que durará cerca de dois anos e meio, deve dar novo impulso às articulações sobre o processo sucessório de 2018. Assim como já fez em diversas ocasiões nos últimos meses, Temer continuará rechaçando qualquer insinuação de que buscará permanecer no cargo, a fim de evitar problemas com os partidos que integram sua base de sustentação no Congresso. Seus aliados, no entanto, têm a convicção de que depois de deixar a interinidade ele será um candidato natural à reeleição, caso consiga reaquecer a economia do país e aumentar a sua popularidade.

As mais recentes pesquisas públicas demonstram que o governo Temer ainda deverá percorrer um longo caminho até obter a aprovação da maioria da população. Segundo sondagem do Datafolha divulgada em julho, Temer iniciou sua administração com aprovação de 14% dos entrevistados - ante 13% que tinham em abril e a mesma percepção em relação à gestão Dilma Rousseff. A diferença, no entanto, era que 31% consideravam o governo Temer ruim ou péssimo, contra 63% de Dilma antes de a petista ser afastada.

A preocupação de Temer é justificável. Dirigentes de diversos partidos vislumbram uma disputa repleta de concorrentes e a possibilidade de surgir um candidato com discurso popular capaz de cativar o eleitorado insatisfeito com a classe política, em um cenário que lembraria a eleição presidencial de 1989. Enquanto isso, contudo, tentam prever quais serão os impactos dos escândalos de corrupção investigados no país, da disputa municipal de outubro e o papel a ser desempenhado por Temer no cenário pré-eleitoral.

As perspectivas em relação a 2018 já levaram o PSDB, por exemplo, a lançar dúvidas sobre o comprometimento do governo com o ajuste fiscal. O partido conta com três possíveis candidatos: o senador Aécio Neves (MG), o chanceler José Serra (SP) e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. O PSB vê a possibilidade de abrigar Alckmin, caso ele seja preterido por seu partido. O PSD, por sua vez, poderia abrir espaço para Serra ou lançar o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.

No Planalto, a candidatura de Meirelles é vista como uma possibilidade, se Temer de fato não tentar a reeleição e a economia tornar-se um ativo eleitoral do campo governista. O líder do DEM, senador Ronaldo Caiado (GO), também é cotado para a disputa.

O secretário-geral do PSDB, deputado Silvio Torres (SP), reforça o discurso de que ainda é cedo para deixar 2018 contaminar o debate. Em sua avaliação, a economia é justamente o que vai ditar as expectativas para a eleição presidencial e Temer dizer publicamente que não é candidato "é suficiente" para acabar com as especulações. "O PSDB tem duas prioridades. A primeira é ajudar a recuperar a economia e o país. A outra é a eleição municipal", diz, acrescentando que apenas em 2017 o PSDB deve começar a se preparar para o pleito seguinte.

"Os partidos que apoiam o governo têm que ter a consciência de que precisamos chegar bem em 2018", afirma o líder do governo no Senado, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), segundo quem o sucesso do governo Temer ajudará todos os partidos que integram a base, independentemente de seus projetos para 2018.

Na avaliação de interlocutores de Temer, a tendência é o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tentar atrai-lo para a arena eleitoral, alimentando assim possíveis crises na coalizão governista e construindo um discurso para a campanha. "O PT, que tem uma liderança do tamanho do ex-presidente Lula, tem um nome que naturalmente está colocado em qualquer disputa pela Presidência da República", destaca o líder do partido no Senado, Humberto Costa (PE).

Para dirigentes do PT e partidos de esquerda, porém, as investigações e denúncias contra Lula têm como objetivo inviabilizar sua potencial candidatura. Se isso ocorrer, além do já esperado processo de reavaliação interna pelo qual o PT deve passar após o processo de impeachment de Dilma, Costa prevê que a legenda também deverá aguardar o resultado das eleições municipais para analisar os possíveis cenários para 2018. Se reeleito, por exemplo, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, poderia ser um candidato. Os nomes do ex-ministro da Casa Civil Jaques Wagner e do governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, também não saíram da lista. Pimentel, porém, depende dos desdobramentos de investigações que envolveram seu nome.

O PDT já lançou o ex-deputado Ciro Gomes, que vem circulando pelo país para apoiar os candidatos da sigla. E espera o apoio do PT, se Lula se inviabilizar. "Acho que o PMDB não terá candidato. Temer era vice de Dilma, não tem representatividade forte e terá um governo difícil", diz Manoel Dias, secretário-geral do PDT e ex-ministro do Trabalho de Dilma, acrescentando que ainda não há conversas no sentido de o PT apoiar Ciro Gomes. Uma ala do PT defende que o partido lance candidato de qualquer forma, para marcar posição e defender o legado da sigla.

A ex-ministra Marina Silva (Rede) também tem aproveitado a campanha municipal para fortalecer sua presença país afora. Enquanto interino, Temer não teve uma agenda de viagens domésticas. Mesmo assim, algumas das medidas que anunciou têm o potencial de fortalecer a presença de sua administração no Nordeste, justamente a região onde Dilma tem mais apoio da população e Lula mantém sua maior força eleitoral. Tal vacina é composta, por exemplo, por anúncios como o reajuste do Bolsa Família, anúncios relativos ao Minha Casa, Minha Vida, linhas de microcrédito e um programa de revitalização do rio São Francisco.

Senadores relacionados:

Órgãos relacionados: