Título: PF faz cerco a ONG esportiva
Autor: Luiz, Edson
Fonte: Correio Braziliense, 11/11/2011, Política, p. 5

Entidade mineira que é comandada por filiados do PCdoB, e recebeu R$ 9,5 milhões da União, é alvo de operação policial

A Polícia Federal apreendeu 16 malotes de documentos no Instituto Cidade, suspeito de desvios de recursos do Programa Segundo Tempo, do Ministério do Esporte. A organização não governamental (ONG), sediada em Juiz de Fora (MG), recebeu cerca de R$ 9,5 milhões em quatro anos para o desenvolvimento de ações esportivas. Uma investigação preliminar da PF feita após a descoberta de desvios no programa indicou indícios de irregularidades na movimentação das verbas da União transferidas à entidade. A partir disso, a Polícia Federal decidiu abrir inquérito. Dois dos dirigentes da ONG são filiados ao PCdoB, partido que comanda a pasta do Esporte.

Em seu site na internet, o Instituto Cidade é definido como uma entidade voltada para a "transformação e o desenvolvimento humano" por meio de projetos e programas realizados nas áreas de geração de empregos e renda, educação, cultura e esporte. Nos últimos anos, segundo o delegado Cláudio Dornelas, que chefiou a operação ontem, a organização recebeu uma grande soma de dinheiro. A partir das denúncias de irregularidades no Programa Segundo Tempo, a PF começou a investigar outras entidades citadas nos processos por suspeita de desvios de recursos públicos.

"Na investigação preliminar, detectamos indícios de irregularidades, por isso decidimos abrir o inquérito policial para apurar os fatos", diz Dornelas, afirmando que o passo inicial do trabalho foi recolher documentos relacionados ao programa. As buscas e apreensões foram feitas em três locais, sendo que a PF só revelou um deles: a sede da instituição, no centro de Juiz de Fora. "Coletamos 16 malotes de documentos variados, como contratos, recibos e mídias", explica o delegado. Ele calcula que em 15 dias a PF já tenha feito a análise do material apreendido. A apuração da Polícia Federal indicou nos levantamentos iniciais uma grande discrepância entre os montantes dos repasses financeiros e a precariedade dos núcleos abrangidos pelo programa.

Comunistas O Instituto Cidade é presidido por José Augusto da Silva, filiado ao PCdoB, assim como o secretário Nacional de Esporte do ministério, Wadson Ribeiro. Silva teria sido cabo eleitoral do dirigente, candidato a deputado federal no ano passado. O presidente da ONG não foi encontrado pela reportagem. O secretário-geral da entidade, Jefferson Monteiro, que também pertence aos quadros do PCdoB, não quis falar sobre a operação da Polícia Federal, ressaltando que o assunto seria tratado apenas pelo presidente do instituto.

Em outubro, o secretário do Ministério do Esporte foi questionado sobre uma suposta ligação com o Instituto Cidade, afirmando que a ONG recebeu recursos obedecendo aos trâmites legais. Ribeiro era o responsável pela liberação de verbas para o Programa Segundo Tempo e, em abril deste ano, esteve na sede da entidade. O dinheiro foi destinado a atividades esportivas e à compra de lanches para crianças e adolescentes inscritos no programa, além de financiar o projeto Pintando Cidadania e a construção de uma fábrica de material esportivo em Juiz de Fora. Ao todo, a instituição teria assinado seis convênios com a União.

Oposição recolhe assinaturas O deputado federal Fernando Francischini (PSDB-PR) e o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) começaram a recolher ontem assinaturas na tentativa de criar a CPI mista do Segundo Tempo. Se reunir os pré-requisitos para ser instaurada, essa comissão parlamentar de inquérito será destinada a investigar os supostos desvios de dinheiro do principal programa do Ministério do Esporte. As denúncias culminaram com a demissão do então ministro, Orlando Silva (PCdoB).