Título: O milionário Nem vai parar em Bangu
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Fonte: Correio Braziliense, 11/11/2011, Brasil, p. 7
O traficante que movimentava R$ 2 milhões por semana na Rocinha é levado à cadeia carioca. Ele pode ser transferido para um presídio federal
Chefe da quadrilha que coordenava um esquema milionário de tráfico de drogas na Favela da Rocinha, uma das maiores do Rio de Janeiro, Antônio Bonfim Lopes, conhecido como Nem, 35 anos, chegou ontem ao Complexo Penitenciário de Bangu, depois de ser preso no fim da noite de quarta-feira. Além de Nem, outras lideranças criminosas da mesma facção foram detidas por policiais do Batalhão de Choque da Polícia Militar em uma ação conjunta com as polícias Civil e Federal. A operação desarticulou um dos esquemas mais lucrativos de tráfico de entorpecentes no Rio. De acordo com estimativas da Delegacia de Combate às Drogas, o comércio ilegal na comunidade movimenta quase R$ 2 milhões por semana, em torno de R$ 100 milhões por ano. A Rocinha é considerada a favela que mais vende drogas na cidade, principalmente cocaína.
Após prender Nem, os policiais encontraram cerca de R$ 180 mil no porta-malas em que o bandido estava escondido. O veículo foi inicialmente abordado na saída da Rocinha por policiais do Batalhão de Choque da Polícia Militar, mas a revista não pôde ser feita porque um dos passageiros se identificou como cônsul honorário da República do Congo e alegou imunidade diplomática. A polícia, então, decidiu escoltá-los até a Polícia Federal. No meio do caminho, o grupo teria oferecido propina de R$ 20 mil aos militares para que fossem liberados. Após a recusa, os bandidos aumentaram o valor para R$ 1 milhão. A vistoria do carro só foi feita por policiais federais, que encontraram, entre notas de euro e real, o chefe do tráfico da Rocinha. Ontem, as embaixadas do Congo e da República Democrática do Congo, em Brasília, negaram a informação de que o homem detido pela PF seria cônsul.
Chegada da UPP Com a prisão desses criminosos, o governador carioca, Sérgio Cabral, anunciou que a ocupação da comunidade será concluída até domingo para a inauguração da 19ª Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do Rio. "É mais um passo importante na política de pacificação das comunidades para oferecer paz aos moradores. É um processo de integração das polícias com as Forças Armadas", destacou o governador. A operação receberá homens da Marinha e equipamentos militares enviados pelo Ministério da Defesa, pedido feito por Cabral há cerca de 10 dias. O secretário de Segurança Pública do Rio, José Mariano Beltrame, preferiu manter sigilo sobre o avanço da política pacificadora nos morros cariocas, mas mostrou-se satisfeito com os últimos acontecimentos no estado. "Sem dúvidas, a prisão (de Nem) é emblemática, pois representa a perda do domínio de criminosos e, consequentemente, a retomada de territórios", avaliou.
De acordo com informações da Secretaria de Segurança do Rio de Janeiro, o governo quer pedir ao Ministério Público a transferência de Nem e de outros traficantes presos também na quarta-feira para um presídio federal. Horas antes de Nem ser descoberto no porta-malas de um carro, a PF havia prendido cinco traficantes em frente ao Shopping da Gávea. O grupo estava sendo escoltado por três policiais civis e dois ex-PMs. Um dos presos é o ex-chefe do tráfico na Favela de São Carlos, o Coelho, escondido na Rocinha desde fevereiro, depois da pacificação da comunidade que comandava.
Bandido audacioso O terror causado pela quadrilha do traficante Nem é antigo no Rio de Janeiro. Em agosto de 2010, durante uma fuga após trocar tiros com policiais, 10 bandidos armados com fuzis invadiram um hotel de luxo na cidade, que fica próximo a uma das entradas da Favela da Rocinha e mantiveram 35 reféns. O traficante também é conhecido por ordenar o assassinato dos moradores da comunidade que desobedeciam às suas ordens.