Título: Ipea reclama do Pnud e vai fazer o próprio IDH
Autor: Mariz, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 11/11/2011, Brasil, p. 7

O Ministério das Relações Exteriores enviará ao Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), em Nova York, uma reclamação sobre a metodologia e os dados referentes ao Brasil usados para calcular o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). O governo brasileiro não se contentou ao subir de 85ª para 84ª posição no ranking, divulgado há uma semana, que mede o bem-estar da população de 187 nações. A contrariedade é tão grande que o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) vai fazer um relatório mundial paralelo no ano que vem. "Temos todas as condições técnicas de desenvolver esse estudo", diz Marcio Pochmann, presidente da instituição e preferido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para candidato à prefeitura de Campinas.

A primeira bronca sobre o IDH, aliás, veio exatamente do padrinho político. Lula ligou para Gilberto Carvalho iradíssimo, nas palavras do próprio secretário-geral da Presidência da República, com a performance do Brasil no estudo. No mesmo dia, em uma coletiva de imprensa convocada às pressas, a ministra do Desenvolvimento Social, Tereza Campello, desqualificou o estudo. Hoje, Pochmann fez o mesmo, mas com a habilidade de um economista. "Queremos apenas tornar público nosso incômodo com a falta de clareza dos dados usados e da metodologia. Se não, se faz um uso político inadequado, mas nosso ponto de vista é técnico", disse. Ele negou qualquer determinação da presidente Dilma Rousseff ou de Lula na decisão de fazer um ranking paralelo de IDH.

Procurado, o Pnud afirmou que avaliará o documento do governo brasileiro e se manifestará em momento oportuno. Na mesma ocasião em que se queixou do órgão das Nações Unidas, destacando que as reclamações vêm desde o relatório divulgado no ano passado, Pochmann lançou uma pesquisa apontando redução de desigualdade no país com base no rendimento domiciliar per capita médio. O estudo utiliza o índice de Gini, que varia de 0 a 1, sendo maior a desigualdade no rendimento quanto mais próximo de 1 for o indicador. A desigualdade caiu no país 22,8% nos últimos 30 anos, conforme a pesquisa. Em 2010, o índice de Gini para o Brasil foi de 0,24, enquanto em 1980 era de 0,31.