Correio braziliense, n. 19368, 05/06/2016. Política, p. 3

Delação pressiona Dilma

Base interina usa informações de Odebrecht para impulsionar o impeachment. Presidente afastada nega pedido para empresário pagar dívidas

 

As acusações feitas pelo empreiteiro e presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, de que a presidente afastada Dilma Rousseff teria pedido a ele, pessoalmente, R$ 12 milhões como contribuição para a campanha presidencial de 2014, pode reforçar o discurso do impeachment no Senado, na opinião de aliados do presidente em exercício Michel Temer. Para o líder do DEM na Casa, Ronaldo Caiado (GO), Dilma deveria renunciar ao cargo. “Já existiam insinuações nesse sentido e agora vem a comprovação final da participação direta da presidente da República em todos esses atos irregulares e criminosos na operação da Petrobras”, afirmou. “Para mim, essa é a pá de cal. A possibilidade de ela negar a sua participação no processo é desmontada e cai por terra.”

Nas últimas semanas, sobretudo após as revelações de conversas envolvendo integrantes do governo e do PMDB em tentativas de barrar as investigações da Operação Lava-Jato, o placar do impeachment ficou instável. Na sexta-feira, por exemplo, vieram à tona trechos da delação do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado na qual ele afirma ter pago R$ 70 milhões em propinas ao ex-ministro do Planejamento e senador Romero Jucá (PMDB-RR), Presidente do SenadoRenan Calheiros (PMDB-AL) e ex-senador José Sarney (PMDB-AP).

Aliados de Temer, no entanto, ocultam as fragilidades do governo e focam na delação de Marcelo Odebrecht. Nela, o empresário afimou que, antes da conversa com a presidente, ele foi procurado pelo então tesoureiro da campanha petista, Edinho Silva (que posteriormente foi nomeado ministro da Secretaria de Comunicação Social), pediu diretamente o montante de R$ 12 milhões, mas ele se recusou a pagar. O empresário, então, teria procurado a presidente afastada, que teria afirmado: “É para pagar”.

“Isso tudo vai consolidando ainda mais a condição do impeachment”, afirmou o senador Eunício Oliveira (PMDB-CE), evitando, porém, comentar diretamente a fala de Odebrecht. “Não vou comentar delação de ninguém, porque não me cabe”. Já o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), acredita que a delação de Marcelo é ruim não apenas para Dilma, mas também para Temer, pois, em tese, configuraria crime eleitoral envolvendo a chapa presidencial PT-PMDB.

 

Chapa

“Se confirmado, isso contamina a chapa. Afinal, Temer não seria presidente interino se Dilma não tivesse sido eleita”, afirmou Randolfe, que defende pressa no julgamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e a realização de novas eleições presidenciais.

Em nota divulgada pela sua assessoria, Dilma classificou como “calúnia e mentira” a informação de que teria conversado pessoalmente com Marcelo Odebrecht. A petista afirmou que essa tese é “infundada” e que “jamais intercedeu pessoalmente junto a qualquer pessoa ou empresário buscando benefícios financeiros para si ou para qualquer pessoa”.

Já Edinho Silva afirmou tratar-se de uma “acusação leviana de ter pedido recursos por caixa 2 para a campanha da presidenta Dilma nas eleições de 2014”.

 

Depois de troca, EBC entrevista petista

Depois de volta do jornalista Ricardo Melo ao comando da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), a estatal deve veicular uma entrevista com a presidente afastada Dilma Rousseff. A entrevista deve ser realizada hoje, no Palácio da Alvorada, pelo jornalista Luís Nassif, que tinha contrato com a estatal no governo de Dilma, mas foi rescindido pelo presidente interino Michel Temer. Melo voltou ao cargo de diretor-presidente graças a uma liminar concedida na última semana pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Dias Toffoli, que suspendeu a exoneração dele.

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AGU na linha de tiro

Por: Julia Chaib

 

Indicação política do ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, o advogado-geral da União, Fábio Medina Osório, pode ser o próximo integrante do primeiro escalão a deixar o governo interino de Michel Temer. Ele tem encontro marcado com ambos amanhã. Osório nega qualquer tipo de mal-estar e a intenção de pedir demissão, mas assessores do presidente dizem que a situação do ministro é delicada.

Interlocutores de Temer  afirmam que ele está insatisfeito com algumas condutas do AGU. O governo editaria uma medida provisória alterando o estatuto da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) para justificar a demissão de Ricardo Melo da Presidência da Estatal.

Na semana passada, uma liminar do ministro do Supremo Tribunal Federal Dias Toffoli obrigou que Melo fosse reconduzido, o  que representou uma derrota para o governo interino. No entendimento de Temer, Medina Osório não atuou como deveria, porque havia garantido que não perderia a causa.

Uma das primeiras decisões que Temer tomou quando assumiu o governo interino foi trocar a chefia da estatal e colocar Laerte Rimoli no comando. A troca ocorreu porque Temer avaliou que a empresa estava atrelada ao governo anterior. Melo, então, judicializou a questão, alegando que o mandato de diretor-presidente da EBC é de quatro anos, não coincidentes com os do presidente da República, e obteve a liminar. “A batata dele (Medina) está assando”, disse um assessor.

 

Carteirada

Outro motivo que teria irritado Temer também ocorreu na semana passada. Em uma viagem que fez a Curitiba, no primeiro dia de junho, para acompanhar as investigações da Operação Lava-Jato, a Aeronáutica teria se recusado inicialmente a autorizar a viagem de Medina. O advogado, então, teria afirmado que é ministro e, por isso, deveria viajar, já que, legalmente, Temer não tirou o status de ministro do cargo, segundo o AGU tem afirmado.

Medina Osório nega ter cometidos erros na condução da pasta. Em relação à polêmica da EBC, ele defende a condução do caso pela AGU. “A questão da medida provisória (para modificar o estatuto da empresa) seria um erro grosseiro. Não me arrependo de tê-los orientado.”

Ele também nega ter se desentendido com integrantes da FAB e alega serem apenas boatos as notícias de sua demissão. O ministro, que teve como uma das primeiras ações a abertura de uma sindicância por improbidade administrativa contra seu antecessor, José Eduardo Cardozo, disse ainda que não tem a intenção de se demitir do cargo.