Correio braziliense, n. 19369, 06/06/2016. Brasil, p. 5

Jarbas Passarinho, 96 anos

Presente na cena política brasileira por cerca de 30 anos, o militar reformado foi governador, senador e ministro da Educação, da Justiça, do Trabalho e da Previdência. Presidente interino Michel Temer e políticos de diferentes partidos lamentam a perda

Por: Paulo de Tarso Lyra

 

Morreu ontem em Brasília, aos 96 anos de idade, por falência múltipla de órgãos decorrente da idade, o ex-senador e ex-ministro Jarbas Passarinho, um dos nomes mais longevos da história política brasileira. Apesar da maior parte da trajetória dele ter se desenvolvido durante o regime militar — antes de entrar para a política, Passarinho chegou à patente de tenente-coronel artilheiro do Exército — sua presença no cenário nacional estendeu-se até 1994, quando foi derrotado em disputa pelo Senado Federal.

A morte de Passarinho foi muito lamentada nas redes sociais. O presidente interino Michel Temer postou: “Quero expressar meus sentidos pêsames pela perda desse grande brasileiro, Jarbas Passarinho”. Outro que lamentou foi o chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha: “Morre Jarbas Passarinho, brilhante homem público deste país. Independentemente de concordarmos ou não com suas posições, é uma grande perda”, disse Padilha.

O senador Fernando Collor (PTB-AL), de quem Passarinho foi ministro, também demonstrou pesar com a notícia. “Com tristeza, registro o falecimento de Jarbas Passarinho, grande amigo e conselheiro”. Ministro da Integração Nacional e filho do senador Jader Barbalho, desafeto e posterior aliado de Passarinho, Helder Barbalho afirmou que “perdemos hoje (ontem) o acriano, ex-ministro de várias pastas e ex-governador do Pará Jarbas Passarinho, que foi um grande líder do nosso estado”.

Para o senador Romero Jucá, “é com pesar que registramos a morte do senador Jarbas Passarinho, um homem preocupado com o Brasil que sempre contribui muito com o nosso país”. Outros políticos também lamentaram a morte do ex-governador. O presidente do DEM, senador Agripino Maia (RN), lembrou que foi colega de Jarbas Passarinho no Senado. “Talentoso, foi uma das melhores expressões políticas de sua época. Distante da atividade já há algum tempo, se vai deixando o respeito do país ao grande homem público que a história, por dever de justiça, haverá de registrar”, afirmou, em nota.

 

Trajetória marcante

Passarinho nasceu em Xapuri, no Acre, em 11 de janeiro de 1920, mas escreveu o nome na política paraense. Pouco antes do golpe militar de 1964, Passarinho tornou-se tenente-coronel da artilharia. Com a chegada dos militares ao poder, ele foi nomeado governador do Pará, no lugar de Aurélio do Carmo. Filiou-se à Arena, partido que dava sustentação ao regime militar, pelo qual foi eleito senador em 1966.

Logo após tomar posse, em 1967, foi nomeado ministro do Trabalho e Previdência Social do governo Costa e Silva. Nesse período, foi um dos signatários do Ato Institucional nº 5, que endureceu de vez o regime. Para defender a medida, cunhou uma das frases mais emblemáticas da história recente do país. “Sei que a Vossa Excelência repugna, como a mim e a todos os membros desse Conselho, enveredar pelo caminho da ditadura pura e simples, mas me parece que claramente é esta que está diante de nós. Às favas, senhor presidente, neste momento, todos os escrúpulos de consciência.”

Foi um dos poucos arenistas eleitos para o Senado em 1974, na primeira eleição direta para o cargo durante o regime militar. Presidiu a Casa entre 1981 e 1983. Passou pelo Ministério da Educação, quando criou o Movimento Brasileiro de Alfabetização (Mobral), e pelo Ministério da Justiça de Fernando Collor de Mello. Passarinho foi articulista do Correio e integrante do Conselho de Curadores da Fundação Assis Chateubriand. Deixa cinco filhos, 14 netos e 15 bisnetos.

 

Frases

“Morre Jarbas Passarinho, brilhante homem público deste país. Independentemente de concordarmos ou não com suas posições, é uma grande perda”

Eliseu Padilha, ministro da Casa Civil

 

“Distante da atividade já há algum tempo, se vai deixando o respeito do país ao grande homem público que a história, por dever de justiça, haverá de registrar”

Agripino Maia (RN), presidente do DEM

 

Militar, senador e ministro

A presença de Jarbas Passarinho no cenário político brasileiro

 

11/01/1920 – Nasce em Xapuri, no Acre, filho de Inácio de Loiola Passarinho e Júlia Gonçalves Passarinho.

15/06/1964 – Após tornar-se tenente-coronel artilheiro, com a instauração do regime militar, é nomeado governador do Pará, no lugar do deposto Aurélio do Carmo.

1º/02/1967 – Filiado à Arena, assume o mandato de senador, logo após deixar o governo paraense.

15/03/1967 – Nomeado ministro do Trabalho, ocupa o cargo até 30 de outubro de 1969.

30/03/1969 – Nomeado ministro da Educação, permanece no posto até 15 de março de 1974, época em que criou o Mobral (Movimento Brasileiro de Alfabetização).

24/02/1981 – Um dos poucos arenistas eleito senador em 1974, torna-se presidente do Senado Federal, ocupando o posto até 1º de fevereiro de 1983.

14/11/1983 – Nomeado ministro da Previdência Social pelo presidente João Figueiredo, permanece no cargo até 15 de março de 1985.

1986 – É eleito senador em coligação com o PMDB de Jader Barbalho. Vira presidente do diretório nacional do PDS, mas renuncia pouco antes das eleições presidenciais de 1989.

13/10/1990 – Nomeado ministro da Justiça de Fernando Collor, permanece no posto até 2 de abril de 1992.

1993 – Preside a CPI dos Anões do Orçamento.

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Homenagens na despedida

Por: JULIA CHAIB

 

Coronel reformado do Exército, o corpo de Jarbas Passarinho foi velado com honrarias militares no Oratório do Soldado, em Brasília, e sepultado no cemitério Campo da Esperança, onde o ex-senador recebeu a mais ganhou a mais alta homenagem para um militar: a Salva de Artilharia, em que são disparados 19 tiros de canhão. O caixão foi carregado por militares. Autoridades do Exército, ministros e políticos acompanharam a despedida.

Um dos filhos do ex-ministro, Carlos Passarinho recebeu de um militar do Exército as bandeiras do Brasil, do Pará e do Flamengo, três paixões do pai. “Creio que tenha sido mais do que ele imaginava. Ele tinha uma ligação muito forte com o Exército. Cultivava os valores adquiridos da formação”, disse. Um parente de Passarinho disse que ele costumava repetir a seguinte frase: “Fui governador, fui ministro, fui senador, mas sou coronel”. Carlos relatou que o pai morreu em casa, por opção. “Ele queria partir honradamente, pela falência múltipla de órgãos. E em casa. Recusou ir ao hospital”, contou. Segundo Carlos, o pai esteve consciente até o fim, exceto nos últimos dois dias, em que também foi sedado para amenizar as dores.

Ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurelio Mello esteve no velório e classificou Passarinho, que é padrinho de uma das filhas do magistrado, como um político “exemplar”. “Ele atuou com desprendimento, com pureza de alma” afirmou Marco Aurélio. Ministro aposentado do STF, Carlos Velloso compareceu ao velório no cemitério Campo da Esperança. O jurista conheceu Passarinho em 1997 e disse que tinha profunda admiração pelo ex-governador do Pará. “Tive o prazer de conversar com ele até mais ou menos cerca de 10 anos atrás. E nas reflexões, sempre esteve presente o Brasil. Era um homem preocupado com o nosso povo, com o Brasil”, afirmou.

O deputado federal Heráclito Fortes (PSB-PI) ressaltou a importância de Passarinho para o país. O parlamentar disse que teve “divergências” com o ex-ministro na época em que conviviam no Congresso, mas que o respeitava bastante. “Foi umas das figuras mais importantes processo político no Brasil nos últimos 50 anos. Ele surgiu com o movimento revolucionário, mas soube o momento exato da mudança, e aí foi um colaborador fantástico para que a transição fosse feita com harmonia, com diálogo”, disse. O ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, Sérgio Etchegoyen, também prestou homenagens.