MPF defende que processo contra Cláudia Cruz continue em Curitiba

Thiago Herdy

22/08/2016

 

 

Para procuradores, mulher de Eduardo Cunha se beneficiou de 'esquema criminoso'

 O Ministério Público Federal (MPF) defende que o processo contra a mulher do deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), Cláudia Cruz, permaneça sob a jurisdição da 13ª Vara Federal em Curitiba, presidida pelo juiz Sérgio Moro. A defesa dela alegou a “incompetência” de Curitiba para cuidar do caso e pediu que ele fosse transferido para o Rio de Janeiro, cidade onde vivem ela e alguns dos réus na mesma ação penal.
Em petição apresentada à Justiça, o MPF reafirma que a mulher do parlamentar tem ligação com o “esquema criminoso” instalado na Petrobras e reforçou a conexão entre os crimes a ela atribuídos com os fatos apurados no escândalo de corrupção, cartel e propinas na estatal.

“É imprescindível o julgamento conjunto das infrações penais que constituem o objeto da denúncia questionada”, escreveram os procuradores do MPF em Curitiba.

Cláudia Cruz é ré por lavagem de dinheiro e evasão de divisas em processo que apurou pagamento de propina de US$ 1,5 milhão a Eduardo Cunha no exterior, desviados de contrato de aquisição, pela Petrobras, de direito de exploração do bloco 4 de um campo de petróleo na costa do Benin, na África, em 2011.

O dinheiro abasteceu contas em nome de off-shores e trusts em nome de Cunha e de sua esposa. Para a força tarefa da LavaJato, Cláudia tinha “consciência dos crimes que praticava”, pela condição de única controladora da conta em nome da offshore Köpek, na Suíça, uma das contas usadas para pagar despesas de cartão de crédito no exterior.

Entre 2008 e 2014, ela gastou mais de US$ 1 milhão, a maior parte em artigos de grife, como bolsas, sapatos e roupas femininas. De acordo com a denúncia do MPF, o gasto era “totalmente incompatível com os salários e o patrimônio lícito” dela e de Cunha.

Quase a totalidade do dinheiro depositado na Köpek teve origem nas contas Triumph SP (US$ 1.050.000,00), Netherton (US$ 165 mil) e Orion SP (US$ 60 mil), todas pertencentes a Eduardo Cunha e abastecidas com propina da Petrobras, segundo a investigação.

“Em se tratando do mesmo esquema criminoso, da mesma sociedade de economia mista vitimada, do mesmo diretor internacional corrompido, do mesmo operador de propinas, de um deputado federal pertencente a um dos partidos políticos beneficiados pelo esquema e dos mesmos valores provenientes da Petrobras que abasteceram a conta titularizada pela esposa do deputado", escreveram os procuradores do MPF, “não é preciso muito esforço cognitivo e argumentativo para concluir que os casos são conexos e devem ser julgados pelo mesmo juízo”.

Além de Cláudia Cruz, são réus no mesmo processo o empresário português Idalécio de Castro Rodrigues de Oliveira, acusado de corrupção ativa e lavagem de dinheiro; o operador João Augusto Rezende Henriques, denunciado por lavagem de dinheiro, evasão de divisas e corrupção passiva; e o ex-diretor a área internacional da estatal Jorge Luiz Zelada, por corrupção passiva.

Embora não tenha sido denunciada, a filha de Cunha, Danielle Dytz, também é investigada no caso, já que usou recursos das contas abastecidas com propina para pagar despesas pessoais.

Na época da denúncia, Cunha argumentou, em nota, que a esposa “possuía conta no exterior dentro das normas da legislação brasileira, declaradas às autoridades competentes no momento obrigatório”. Disse também que “a origem dos recursos nela depositados em nada tem a ver com quaisquer recursos ilícitos ou recebimento de vantagem indevida”.

Afastado da presidência da Câmara dos Deputados em 5 de maio deste ano por decisão do Supremo Tribunal Federal, Cunha renunciou ao cargo dois meses depois. O pedido de cassação de seu mandado de deputado federal será votado pelo plenário do Congresso no próximo dia 12 de setembro.

Dinheiro do petrolão abasteceu contas externas em nome do ex-presidente da Câmara e sua mulher

 

 

O globo, n. 30331, 22/08/2016. País, p. 3.