PMDB age para esvaziar votação do caso Cunha

Igor Gadelha

12/08/2016

 

 

Deputados estimam que mais da metade dos 66 membros da bancada na Câmara deverá faltar à sessão marcada para uma segunda-feira.

A bancada do PMDB na Câmara se articula para esvaziar a sessão do dia 12 de setembro que analisará o pedido de cassação do deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). A data da votação foi confirmada ontem pelo presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

O movimento começa a influenciar bancadas de outros partidos da base aliada, principalmente do Centrão – grupo de siglas liderado por PP, PSD e PTB e que apoia o peemedebista. Em algumas dessas bancadas, deputados já admitem que podem seguir o exemplo do partido de Cunha.

Parlamentares do PMDB avaliam que mais da metade dos 66 membros da legenda na Câmara pode faltar à votação. “Há um movimento grande para o pessoal se ausentar no dia da votação”, diz um influente deputado do partido. A desculpa oficial será a necessidade de ficar próximo à base eleitoral por causa da campanha municipal.

Peemedebistas têm evitado comentar publicamente o assunto.

Nos bastidores, relatam desconforto de votar contra um correligionário. A avaliação é de que, com a pressão da opinião pública e a proximidade das eleições, seria difícil comparecer à sessão e votar a favor de Cunha.

No PMDB, há também deputados que relatam pressão do expresidente da Câmara para faltar ou votar a seu favor.

Segundo relatos dos parlamentares, não houve pressão do Palácio do Planalto como tampouco houve, de acordo com eles, na análise do recurso de Cunha na Comissão de Constituição e Justiça. Na ocasião, dos 10 peemedebistas, 5 votaram contra e 5 a favor do recurso, que acabou rejeitado por 48 a 12.

Decisão. Entre os deputados do PMDB que dizem pretender comparecer, a previsão é de que a maioria votará a favor da cassação de Cunha. Por enquanto, porém, são poucos os que afirmam abertamente isso, como Jarbas Vasconcelos (PE) e Vitor Valim (CE).

“Já tomei minha decisão, mas ainda não é o momento de torná-la pública”, diz o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA).

Para ele, a Câmara tem de trabalhar para que a votação seja a mais isenta possível. “Vamos julgar um de nossos pares, tem de ter cuidado”, afirma. O movimento de esvaziamento no PMDB já anima deputados do PP e de outras siglas menores que não querem votar contra Cunha a também faltar à sessão. O argumento é de que o exemplo do próprio partido do deputado afastado diminui a cobrança sobre eles.

Partidos declaradamente favoráveis à cassação de Cunha minimizam o efeito dessa articulação para esvaziar a votação.

“O dia que marcar vai ter 500 deputados. Quem vai ter coragem de faltar com a pressão pública e em plena campanha elei eleitoral?”, diz o líder do PPS, Rubens Bueno (PR).

O presidente da Câmara já afirmou que só prosseguirá a votação caso haja pelo menos 400 deputados presentes. Do contrário, cancelará a sessão e marcará uma nova data, até conseguir o quórum. Maia teme que uma eventual salvação de Cunha manche sua biografia.

 

‘Armação’. Para deputados da oposição, a data escolhida por Maia tem ares de “armação”. “Julgamento de Cunha para 12 de setembro cheira a armação. Dia 12 é uma segunda-feira, quando nem os governos com interesse em matérias conseguem quórum”, diz Chico Alencar (PSOL-RJ).

Para o parlamentar, a desculpa do plenário esvaziado será a “senha” para o presidente da Câmara dispensar os parlamentares e só votar a cassação de Cunha após as eleições, como defendem os aliados do peemedebista.

“Não daremos trégua aos que temem que Cunha revele o que sabe”, promete.

“É uma data que tem tudo para não dar certo, seja pela proximidade da eleição, seja por ser uma segunda”, critica o líder da Rede, Alessandro Molon (RJ); Ele promete apresentar requerimento de convocação extraordinária pedindo a antecipação da votação.

A inclusão do requerimento na pauta de votações, porém, depende de decisão do próprio presidente da Câmara, o que diminui as chances de o pedido de antecipação da votação de Cunha ser submetido ao plenário.

Posições

“Julgamento de Cunha para 12 de setembro cheira a armação. É uma segunda, quando nem os governos com interesse em matérias conseguem quórum.”

Chico Alencar (PSOL)

DEPUTADO FEDERAL

“O dia que marcar vai ter 500 deputados. Quem vai ter coragem de faltar com a pressão pública e em plena campanha eleitoral?”

Rubens Bueno (PPS-PR)

DEPUTADO FEDERAL

“Vamos julgar um de nossos pares, tem de ter cuidado.”

Lúcio Vieira Lima (PMDB)