PT encolhe candidaturas a menor patamar em 20 anos

Ricardo Galhardo, Daniel Bramatti e Pedro Venceslau

08/08/2016

 

 

Disputa. Sigla terá 1.135 candidatos neste ano ante 1.759 em 2012 – queda de 35,5%; em 1996, foram 1.077. Fim de financiamento empresarial e Lava Jato provocaram recuo.

Levantamento preliminar feito pela Direção Nacional do PT mostra que a legenda terá 1.135 candidatos a prefeito nas eleições de outubro. O número representa uma redução de 35,5% em relação aos 1.759 candidatos petistas que disputaram prefeituras nas eleições de 2012. É a menor quantidade de representantes do partido em um pleito municipal nos últimos 20 anos, quando disputou 1.077 prefeituras em 1996. Segundo dirigentes do PT, a redução reflete as turbulências pelas quais tem passado o partido.

“É a crise”, afirmou o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), vice- presidente da legenda. A queda ocorre em todas as regiões do Brasil, de acordo com os dados do PT – o País tem 5.750 municípios. O único Estado onde o número de candidaturas aumentou é o Piauí, governado por Wellington Dias (PT), com 70 nomes em disputa neste ano contra 49 há quatro anos.

Segundo o secretário nacional de Organização do PT, Florisvaldo Souza, o número vai aumentar até o término do prazo para registro de candidaturas, dia 15 deste mês, mas certamente ficará bem abaixo do registrado nas últimas eleições municipais.

“Não tenho os números calculados ainda. De fato há uma redução de candidatos, mas, em compensação, devemos disputar mais eleitores.” O PT vai ter mais candidaturas neste ano em capitais. Serão 20 nomes contra 17 em 2012. Já nas cidades com mais de 150 mil eleitores, o número também caiu. O PT lançou 84 candidatos quatro anos atrás e agora vai encabeçar 70 chapas, uma redução de 11%.

A cúpula partidária aponta três motivos para o encolhimento: o sentimento antipetista amplificado pelas revelações da Operação Lava Jato; a proibição das doações empresariais, defendida pelo partido; e o processo de impeachment de Dilma Rousseff, que distanciou o PT de aliados tradicionais e restringiu as alianças – a direção proibiu coligações com políticos que tenham se manifestado publicamente a favor do afastamento da presidente.

Efeitos. O impacto do impeachment pode ser sentido com mais intensidade no Rio, onde o PT mantinha alianças com o PMDB no governo estadual e na prefeitura da capital. O número caiu de 34 candidaturas, em 2012, para nove, neste ano.

“O PT, por causa da política nacional de alianças, ficou dez anos submisso ao PMDB no Rio. Isso enfraqueceu o partido”, afirmou o presidente estadual no Rio, Washington Quaquá. A Lava Jato e a falta de dinheiro das empresas tiveram fortes efeitos em São Paulo, berço do PT e maior colégio eleitoral do País. O número de candidatos no Estado caiu de 251, em 2012, para 116, neste ano.

O diretório estadual paulista tem uma dívida de R$ 24 milhões e não vai aportar recursos nas candidaturas municipais, o que fez com que muitos possíveis candidatos desistissem. Por causa em grande parte do antipetismo, o partido perdeu 37 dos 72 prefeitos eleitos em 2012 no Estado. Muitos deles vão disputar a reeleição por outras legendas.

“O ‘golpe’ impactou toda a política brasileira. Não é só o PT que vai ter menos candidatos. O PSDB também vai. Por outro lado, partidos menores como PDT e PSB vão disputar mais cidades. Depois de mais de duas décadas de PT versus PSDB, estão se formando outros polos”, disse Florisvaldo Souza.

 

Vácuo. O PSDB e o PMDB ainda não fecharam o número de candidaturas. Já outras legendas de esquerda como PDT, PCdoB e PSOL devem lançar mais candidatos do que em eleições anteriores. O objetivo é ocupar o vácuo deixado pelo PT. O PDT traçou uma estratégia para tentar nacionalizar o nome de Ciro Gomes nas eleições municipais e dessa forma cooptar ex-eleitores do PT. “Nosso discurso será para atrair o eleitor decepcionado com o PT. Existe um vazio e alguém precisa ocupá-lo”, disse o presidente do PDT, Carlos Lupi.

O PCdoB e o PSOL também vão disputar mais prefeituras neste ano. “Aumentou o fluxo de ex-petistas na nossa militância. Tem o lado do desencanto”, disse o deputado Ivan Valente (PSOL-SP), candidato a vice-prefeito na chapa de Luiza Erundina (PSOL). 

O PARTIDO NAS URNAS

● Apesar do crescimento de candidaturas em capitais, o PT terá 35,5% menos candidatos a prefeito em 2016 na comparação com as eleições municipais de 2012

Número de candidatos lançados pelo PT

POR ESTADO

2012/ 2016

Acre

2012 - 16

2016 – 14

Alagoas

2012 - 14

2016 – 11

Amazonas

2012 - 15

2016 – 12

Amapá

2012 - 8

2016 – 4

Bahia

2012 - 206

2016 – 132

Ceará

2012 - 59

2016 – 39

Espírito Santo

2012 - 15

2016 – 11

Goiás

2012 - 47

2016 – 25

Maranhão

2012 -  56

2016 –  25

Minas Gerais

2012 - 299

2016 – 265

Mato Grosso do Sul

2012 – 25

2016 – 11

Mato Grosso

2012 -  29

2016 – 09

Pará

2012 -  56

2016 – 46

Paraíba

2012 -28

2016 – 22

Pernambuco

2012 - 49

2016 – 24

Piauí

2012 - 49

2016 – 70

Paraná

2012 - 115

2016 – 37

Rio de Janeiro

2012 - 34

2016 – 09

Rio Grande do Norte

2012 - 23

2016 – 13

Rondônia

2012 - 21

2016 – 08

Roraima

2012 - 5

2016 – 3

Rio Grande do Sul

2012 - 196

2016 – 155

Santa Catarina

2012 - 90

2016 – 55

Sergipe

2012 - 19

2016 – 7

São Paulo

2012 - 251

2016 – 116

Tocantins

2012 - 34

2016 - 12

TOTAL POR ELEIÇÃO

1996

1.077

2000

1.306

2004

1.947

2008

1.667

2012

1.759

2016

1.135

MUNICÍPIOS COM MAIS DE 150 MIL ELEITORES

VARIAÇÃO

- 11%

84 – 2012

75 – 2016

CANDIDATOS PRÓPRIOS NAS CAPITAIS

2012 – 17

2016 – 20

Apoios a candidatos de outros partidos

PARTIDO

PCdoB

2012 - 5

2016 - 8

PDT

2012 - 6

2016 - 6

PMDB

2012- 6

2016 - 3

PR

2012 - 2

2016 - 3

PRB

2012 - 3

2016 - 3

PSB

2012- 9

2016 - 3

PSD

2012- 1

2016 - 1

PP

2012 - 2

2016 - 2

Rede

2012 - 0

2016 - 2

SD

2012 - 0

2016 - 2

PMB

2012 - 0

2016 - 1

PPS

2012 - 0

2016 - 1

PSOL

2012 - 0

2016 - 1

PTB

2012 - 1

2016 - 1

PTN

2012 - 0

2016 - 1

PV

2012 - 0

2016 – 1