Título: Palestina vive Dia D
Autor: Tranches, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 11/11/2011, Mundo, p. 16

Comitê de Admissão de Novos Membros apresenta hoje o relatório sobre o pedido de adesão ao Conselho de Segurança da ONU. Medida deve ir a votação na próxima semana, e os EUA preparam veto.

O Conselho de Segurança da ONU se reunirá formalmente hoje para ouvir o posicionamento do Comitê de Admissão de Novos Membros sobre o pedido de integração da Palestina como membro permanente do organismo. Elaborado sob sigilo, o documento do comitê será debatido hoje. Nos últimos dias, no entanto, ganharam força indicações de que o órgão não foi capaz de alcançar uma recomendação unânime sobre a apresentação da demanda ao Conselho. Sem grandes expectativas sobre um consenso no órgão máximo da ONU, a Autoridade Palestina (AP) já considera buscar alternativas para ingressar em outros braços do organismo, na tentativa de repetir o sucesso no caso da Unesco (leia ao lado).

A expectativa era de que a proposta fosse levada à votação no Conselho na próxima semana. Para aprová-la, a AP precisaria de ao menos 9 votos favoráveis entre os 15 membros e nenhum veto. Os Estados Unidos, porém, já anunciaram que devem usar o seu poder para impedir a aprovação, caso a maioria seja conquistada. Segundo conversas de bastidores diplomáticos, somente oito países estariam dispostos a aprovar a medida — Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Líbano, Nigéria e Gabão. Nesse caso, Washington poderia se poupar do desgaste de vetar uma medida apreciada pela maioria.

Além do anunciado veto norte-americano, o Reino Unido, a Colômbia e a França acenaram com a abstenção, durante reunião do comitê, na semana passada. A Alemanha ainda não divulgou sua posição, apesar de se esperar uma abstenção ou um voto contrário, segundo fontes diplomáticas. É aguardada ainda a abstenção de Portugal e da Bósnia. Alguns membros do Conselho teriam indicado que o mais apropriado seria adiar a votação até segunda-feira, quando o Quarteto para o Oriente Médio se reunirá separadamente com israelenses e palestinos em Jerusalém. O objetivo do encontro é discutir as circunstâncias para retomada do diálogo entre os dois lados.

O site What"s in Blue, que fornece análises sobre os principais temas no Conselho de Segurança, afirma que há também um senso entre os membros do Conselho de que qualquer atitude antes da reunião da Liga Árabe com o presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, seria prematura. O encontro está marcado para a próxima quarta-feira, no Cairo. A pretensão de Abbas e dos chefes de Estado e de governo árabes é definir uma estratégia de ação a ser seguida após a divulgação do relatório do Comitê hoje, como explicou o embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim Al-Zeben, em entrevista ao Correio.

Segundo Al-Zeben, desde a apresentação do pedido palestino, os Estados Unidos têm usado seu poderio e trabalhado abertamente na tentativa de convencer os outros 14 membros a não aprovarem a medida. "Os EUA têm agido como um tanque passando por cima de uma formiga", lamentou o embaixador. Em entrevista à rádio Voice of Palestine ontem, o ministro das Relações Exteriores palestino, Riad Malki, disse não pedir por nenhuma votação hoje, mas espera "ouvir as posições" dos países. "Estamos diante de uma dura batalha, na qual os EUA têm usado toda sua capacidade para nos enfraquecer."

Sem esperanças de uma votação favorável no Conselho, os palestinos deverão mudar a estratégia e levar a causa à votação na Assembleia Geral, onde Israel não obtém maioria. Aprovada sua requisição, a Palestina ganharia o status de Estado não membro. O dia de hoje é também uma importante data para os palestinos, que lembrarão os sete anos da morte do líder Yasser Arafat.