Correio braziliense, n. 19381, 18/06/2016. Política, p. 3

PMDB da Câmara quer indicar a novo ministro

Com a queda de Henrique Eduardo Alves no liurismo, bancada vai pressionar o governo pela escolha do titular da pasta. Uma das possibilidades é que o nome seja de Minas Gerais

Por: Paulo de Tarso Lyra

 

A bancada de deputados do PMDB vai reivindicar a indicação do substituto do ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves. Citado na Operação Lava-Jato e ameaçado pelo surgimento de novas denúncias que apontam a existência de contas dele na Suíça para o recebimento de propinas desviadas da Petrobras, Alves pediu exoneração do cargo na última quinta-feira. Os deputados peemedebistas aproveitam a brecha e desejam indicar o sucessor na pasta, que pode, inclusive, nem ser parlamentar.

O perfil já está desenhado. “Queremos indicar uma mulher, para ajudar o presidente Michel Temer a nomear um nome feminino para o primeiro escalão federal”, afirmou uma das lideranças partidárias. O nome ainda é guardado com sigilo pelo grupo. Mas pode vir de Minas, já que o estado tem o maior número de representantes na bancada e não teve ninguém escolhido para o primeiro ministério montado por Temer. O presidente interino ainda não chamou os representantes da bancada para discutir o tema e os deputados tampouco se reuniram oficialmente para debater o assunto.

Alves entregou a carta de exoneração na tarde de quinta-feira. Na véspera, ela havia sido citado como beneficiário de uma propina de R$ 1,55 milhão para financiar a campanha dele ao governo do Rio Grande do Norte. Mas essa não foi a causa real da queda do peemedebista potiguar. Como adiantou o Correio na edição de ontem, o procurador-geral da República concluiu uma denúncia, fundamentada contra Alves, que será encaminhada ao Supremo Tribunal Federal no início da próxima semana.

Além da conta no exterior, o Ministério Público teria extratos que comprovam a movimentação bancária fruto da propina recebida pelo ex-ministro. O caso dele se assemelharia, em muito, ao do presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha. Ao ser informado disso, Henrique decidiu entregar a carta de demissão para poupar Temer e o governo de novos constrangimentos.

 

Riscos

O Planalto sabia que a nomeação de Henrique Alves para o Turismo era uma manobra arriscada. Até mesmo a antecessora de Temer, a presidente afastada, Dilma Rousseff, hesitou em nomear o peemedebista para o posto. Quando a petista fez a reforma ministerial para o segundo mandato, esperou até abril de 2015 para confirmar o peemedebista potiguar, para ter a certeza de que ele não seria citado na Lava-Jato. Como ele escapou da primeira leva de investigados, tornou-se ministro.

Em um gesto de solidariedade e lealdade a Temer, Henrique foi o primeiro ministro do PMDB a pedir exoneração após a legenda decidir abandonar a administração petista, em 28 de março deste ano. Antes mesmo da aprovação da admissibilidade do impeachment pelo Senado, ministros próximos a Temer já consideravam um risco trazer Alves para a Esplanada. O presidente interino bancou a indicação. A pressão aumentou após Romero Jucá ter sido obrigado a renunciar ao cargo de Ministério do Planejamento, ao ser flagrado em conversas com Sérgio Machado. Mas a queda definitiva só ocorreu na quinta-feira.