Temer cede até tribuna para senador

Carla Araújo e Tânia Monteiro

10/08/2016

 

 

Otto Alencar (PSD), que não tinha declarado voto sobre impeachment, falou em evento no Planalto; à noite, disse ser contra afastamento.

No dia em que o plenário do Senado decidia sobre a continuação ou não do processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff, o presidente em exercício Michel Temer dedicou parte da agenda a parlamentares e até cedeu a tribuna de um evento no Planalto para um discurso do senador Otto Alencar (PSD-BA), um dos que não tinham declarado voto sobre o afastamento da petista. Normalmente, discursam em cerimônias no Palácio do Planalto o presidente da República, ministros ligados ao tema do evento ou algum homenageado.

Não é comum parlamentares usarem a palavra nesse tipo de solenidade.

Otto discursou por quase 15 minutos no evento de assinatura de decreto que instituiu o programa de revitalização da Bacia do Rio São Francisco, que será batizado de Novo Chico. “É o mais importante projeto para o Nordeste brasileiro. Com esse projeto o senhor (Temer) será um cidadão nordestino.” Apesar do “agrado”, à noite o senador se declarou contra o impeachment de Dilma.

A fala de Otto foi a mais longa, superando a de ministros e até mesmo a do presidente em exercício, que discursou por menos de dez minutos. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), também esteve presente, já demonstrando um gesto de cortesia a Temer. Ambos sentaram lado a lado durante a cerimônia. O senador Antonio Carlos Valadares (PSB-SE) também estava no evento.

O presidente em exercício citou ainda a intenção do governo federal de retomar obras inacabadas e disse que estabeleceu projetos entre R$ 500 mil e R$ 10 milhões. Segundo ele, nesse segmento, poderão ser retomadas mais de 1.500 obras com um impacto financeiro “pequeno”, da ordem R$ 1,8 bilhão.

A retomada das obras foi tema de reunião anteontem entre Temer e parlamentares. O presidente em exercício recebeu no Planalto um grupo de senadores para definir um pacote de 1.519 obras que estão paralisadas, na véspera da votação do relatório do senador Antonio Anastasia (PSDB-MG) no plenário do Senado que trata do impeachment.

A retomada dessas obras atende a um pedido dos próprios senadores e, indiretamente, é uma forma de fazer um afago a eles – responsáveis pela análise final do impeachment da presidente afastada.

Agenda. À tarde, enquanto o processo de impeachment era analisado no plenário do Senado, Temer abriu a agenda para receber a senadora Lúcia Vânia (PSB-GO). Ela disse que votará pela cassação do mandato da petista e rechaçou a ideia de que o encontro com o presidente em exercício tenha sido para tratar sobre o tema. “Eu fui tratar das centrais elétricas de Goiás que esta pra ser leiloada. Fui com minha filha que é secretária da Fazenda para explicar pra ele como estavam as tratativas.” Temer deixou de acompanhar os trabalhos do Senado pela TV por um período para evitar discursos com ataques dos aliados da petista contra ele e era informado do desenrolar da sessão por auxiliares e pelo senador Romero Jucá (PMDB-RR).

Durante todo o dia, o Planalto atuou para encurtar a sessão para que ela não se estendesse até hoje. A intenção era dar tempo, contando os trâmites burocráticos no Senado, para que o processo de definição do afastamento definitivo de Dilma se inicie no dia 25 e seja concluído até o dia 29. Assim, Temer poderá participar da reunião do G- 20, na China, no início de setembro, como presidente de fato.

Tema

“Eu fui tratar (em encontro com Michel Temer) das centrais elétricas de Goiás que está para ser leiloada. Fui com minha filha que é secretária da Fazenda para explicar para ele como estavam as tratativas.”

Lúcia Vânia (PSB-GO)

SENADORA

BATISMO

“ È o mais importante projeto para o Nordeste brasileiro. Com esse projeto o senhor (Temer) será um cidadão nordestino”

Otto Alencar

SENADOR (PSD-BA)

“Eu estou me sentindo muito orgulhoso por ser considerado nordestino, naturalmente subordinado a uma condição. Ou seja, se o governo levar adiante a revitalização do Rio São Francisco. É como se fosse um batismo.”

Michel Temer

PRESIDENTE EM EXERCÍCIO.