Lava Jato denuncia ex-tesoureiro do PT e mais 14

Julia Affonso, Mateus Coutinho e Ricardo Brandt

10/08/2016

 

 

Paulo Ferreira é acusado de corrupção e lavagem de dinheiro no contrato de construção do centro de pesquisas da Petrobrás no Rio.

O Ministério Público Federal em Curitiba denunciou 15 pessoas por corrupção e lavagem de dinheiro no contrato para construção do Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello (Cenpes), obra da Petrobrás no Rio. A força-tarefa da Lava Jato informou que executivos do Consórcio Novo Cenpes pagaram mais de R$ 20 milhões em propina a funcionários da estatal e representantes do PT – o ex-tesoureiro do partido Paulo Ferreira é um dos denunciados.

O contrato, de 2008, entre a Petrobrás e o Consórcio Novo Cenpes, formado pelas empreiteiras OAS, Carioca Engenharia, Schahin, Construbrase e Construcap, inicialmente de R$ 850 milhões, saltou para R$ 1 bilhão após sucessivos aditivos.

Além de Ferreira, foram denunciados nove investigados ligados às empreiteiras do consórcio, quatro pessoas apontadas como operadoras do esquema e o ex-diretor da Petrobrás Renato Duque, que está preso.

“Os 15 denunciados desempenharam diferentes funções no interesse da organização criminosa, sendo inseridos em quatro diferentes núcleos criminosos: empresarial, operacional, político e administrativo”, afirmou a Procuradoria.

Segundo o Ministério Público, o núcleo empresarial era integrado por sócios e administradores da OAS, Carioca, Schahin, Construbase e Construcap, “e voltava-se à prática de crimes de cartel contra a Petrobrás, de corrupção de seus agentes e de representantes de partidos políticos que lhes davam sustentação, bem como à lavagem dos ativos obtidos com a prática destes crimes”. Entre os denunciados incluídos nesse grupo estão Léo Pinheiro e Agenor Medeiros, ambos da OAS e já condenados na Lava Jato.

O núcleo político, segundo o Ministério Público, indicava e dava suporte à permanência de funcionários da Petrobrás em seus cargos, recebendo, em troca, vantagens indevidas de empresas contratadas pela estatal.

O ex-tesoureiro petista representou o núcleo político nos fatos, informou a Procuradoria.

Ex-tesoureiro. Provas documentais, como contratos fictícios e notas fiscais frias, somadas a depoimentos de colaboradores, apontaram que Ferreira era o beneficiário de recursos oriundos de empreiteiras contratadas pela Petrobrás. “Numa engrenagem criminosa cujo eixo é a corrupção e na qual se envolvem empresários, operadores financeiros, agentes públicos e políticos, chama atenção a intensa participação de tesoureiros partidários”, disse o procurador Júlio Noronha. O núcleo operacional do esquema criminoso era formado, de acordo com a denúncia, pelo empresário Adir Assad – apontado como um dos principais operadores de empresas de fachada investigadas na Lava Jato – e pelo ex-vereador petista Alexandre Romano, que fez delação premiada. Conforme o Ministério Público, eles intermediavam o pagamento das vantagens indevidas entre o núcleo empresarial e o núcleo político.

Duque pertenceria ao núcleo administrativo e foi corrompido pelos integrantes do núcleo empresarial, “passando a auxiliá- los na consecução dos delitos de cartel e licitatórios”.

Defesas. O advogado de Paulo Ferreira não foi localizado pelo Estado. A Schahin informou que colabora com as autoridades “para os devidos esclarecimentos”. A Carioca Engenharia não quis comentar. O advogado Miguel Pereira Neto, de Adir Assad, afirmou que não teve acesso aos autos e não iria se manifestar.

As defesas dos outros denunciados não responderam até a conclusão desta edição.

‘Funções’

“Os 15 denunciados desempenharam diferentes funções no interesse da organização criminosa”

Ministério Público Federal

EM DENÚNCIA