Polícia Civil descarta sequestro de jovem

Igor Gadelha, Valmar Hupsel Filho, Mateus Coutinho, Julia Affonso e Fausto Macedo

10/08/2016

 

 

Patrícia Lélis acusa Marco Feliciano de tentativa de estupro e chefe de gabinete de a manter em cárcere privado para não denunciar caso.

A Polícia Civil de São Paulo descartou ontem que a jornalista Patrícia Lélis, de 22 anos, tenha sido alvo de sequestro qualificado (cárcere privado) e ameaça por parte do chefe de gabinete do deputado federal Pastor Marco Feliciano (PSC-SP), Talma Bauer. A jovem acusa o parlamentar de tentativa de estupro, assédio sexual e agressão.

Ela registrou dois boletins de ocorrência sobre o caso. A queixa contra Feliciano foi feita em Brasília, na noite de domingo.

Segundo ela, o crime aconteceu no apartamento funcional do parlamentar. Três dias antes, Patrícia havia registrado um boletim de ocorrência contra Bauer, em São Paulo.

No entanto, para o delegado titular do 3.º Distrito Policial (Campos Elísios), Luis Roberto Hellmeister, a jovem não foi vítima de crimes praticados pelo chefe de gabinete. “Descarto totalmente que houve sequestro e ameaça que pudesse impedir o ir e vir da garota”, afirmou. Segundo Patrícia, ela ficou em cárcere e foi obrigada pelo funcionário de Feliciano a desmentir, em vídeos divulgados na internet, as denúncias que havia feito.

Três depoimentos levaram à conclusão do delegado. O principal deles foi o de Emerson Biazon, que se apresenta como assessor do PRB. Ele contou ter participado da negociação entre Patrícia e Bauer, que envolvia o pagamento de R$ 70 mil para que ela não denunciasse Feliciano. Ele entregou seu celular no qual há vídeos e fotos em que a jovem e Bauer são retratados em momentos de descontração, dentro do carro e em restaurantes.

Patrícia mantém a versão da ameaça. “Tinha de mostrar que estava tudo bem, né?”, disse ela ao Estado. O advogado José Carlos afirmou que pretende pedir proteção à cliente. “Ela está com muito medo”, afirmou

Partido. Após as denúncias feitas por Patrícia contra Feliciano, a presidência do partido decidiu ontem mantê-lo como líder na Câmara. Em reunião realizada em Brasília, os dirigentes decidiram também recorrer à Justiça contra o que chamaram de “mentiras” da jovem.

“O PSC vai até as últimas consequências para garantir que os fatos sejam corretamente apurados”, afirmou a direção em nota assinada por Marcondes Gadelha (PB), presidente do partido, Denise Assumpção, do PSC Mulher, e Samuel Oliveira, do PSC Jovem. A medida, segundo a assessoria de imprensa, será tomada “para defender a imagem do partido”.

Nas denúncias, Patrícia afirmou que o PSC “sempre soube da denúncia”, mas pediu para que ela “ficasse calada”. O partido informou que a jovem “foi recebida coletivamente por membros da Executiva Nacional que, pacientemente, ouviram seu relato e recomendaram que procurasse a Justiça, uma vez que o órgão é uma instância política”. Segundo a cúpula, o relato da jovem “é confuso e descomprometido com as provas” e ela nunca foi filiada ao PSC.

Por causa das denúncias, chegou ao gabinete do procuradorgeral da República, Rodrigo Janot, a representação movida contra Feliciano pelas deputadas do PT Erika Kokay, Margarida Salomão, Luizianne Lins e Ana Lúcia Perugini. Elas pedem a apuração do caso. “Sendo verdadeiros os diálogos, os direitos fundamentais da jovem foram ostensivamente desrespeitados, gravemente ultrajados e afrontam os ditames constitucionais, ensejando punição que a imunidade parlamentar não alcança”, escreveram.

Denúncia.

Patrícia Lélis deixa Procuradoria Especial da Mulher do Senado, na segunda-feira.