Correio braziliense, n. 19372, 09/06/2016. Política, p. 2

Lobista vai revelar os segredos do PT

Zwi Skornicki fecha acordo de delação premiada com a força-tarefa da Lava-Jato e a expectativa dos investigadores é que ele conte tudo sobre o dinheiro sujo que abasteceu campanhas políticas realizadas pelo marqueteiro João Santana

Por: João Valadares

 

Preso com o ex-marqueteiro do PT João Santana, na 23ª fase da Operação Lava-Jato, denominada Acarajé, o engenheiro e lobista polonês Zwi Skornicki fechou com o Ministério Público Federal (MPF) acordo de delação premiada com o objetivo de diminuir a pena. Um dos filhos dele, Bruno Skornicki, alvo de condução coercitiva, também está negociando a colaboração. A informação preocupou os aliados da presidente afastada Dilma Rousseff, que tenta reverter votação no Senado para retornar ao poder. Os investigadores querem comprovar repasses de propina para abastecer a campanha de reeleição da petista, em 2014. Skornicki, assim como Santana e a mulher, Mônica Moura, além de outras cinco pessoas, viraram réus na Lava-Jato e respondem pelos crimes de corrupção, organização criminosa e lavagem de dinheiro.

O lobista é responsável pela intermediação de contratos na Petrobras que somam R$ 6 bilhões. A expectativa do Ministério Público Federal é de que o polonês ofereça provas contundentes de como o dinheiro sujo abasteceu campanhas políticas. Ele é representante no Brasil no estaleiro Keppel e, de acordo com o MPF, foi citado por delatores como um forte operador do esquema de pagamento de subornos. Segundo reportagem publicada ontem pelo site do jornal O Globo, Zwi Skornicki disse à Lava-Jato que João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT, lhe pediu US$ 4,5 milhões para ajudar a financiar a campanha pela reeleição de Dilma Rousseff, em 2014. O pagamento foi realizado diretamente para o marqueteiro João Santana e não foi declarado à Justiça Eleitoral.

A Polícia Federal investigou inicialmente o destino de US$ 7,5 milhões recebidos na Suíça por João Santana. A maior parte dos recursos — 60% — teria sido remetida, em 2013 e 2014, ao exterior por Skornicki, utilizando a empresa Shellbill Finance S.A. A Lava-Jato já sabe que pelo menos US$ 3 milhões, depositados entre abril de 2012 e março de 2013, foram repassados para um conta de Santana a partir de uma articulação de offshores controladas pela construtora Norberto Odebrecht.

Na Inovation, a Odebrecht teria repassado US$ 500 mil. A outra parte, no valor de US$ 2,5 milhões, foi encaminhada a Klienfield. As duas offshores transferiram os valores para a Shellbill Finance S.A., que teria repassado a contas de Santana.

Foi na casa de Zwi Skornicki que policiais federais encontraram, na 9ª fase da Operação Lava-Jato, em fevereiro de 2015, uma carta escrita por Mônica Moura. Ela encaminha dados de duas contas, uma que recebia em euro e outra em dólar, no exterior. Na mesma carta, a mulher de Santana diz que enviou o modelo de contrato e que apagou, por motivos óbvios, o nome da empresa. Avisa também que, “por motivos de segurança”, não tem uma cópia eletrônica da carta.

 

Patrimônio gordo

Os investigadores da Lava-Jato descobriram que o patrimônio do engenheiro Zwi Skornicki aumentou 35 vezes em 10 anos. Passou de R$ 1,8 milhão para R$ 63 milhões. Quando foi preso, policiais federais recolheram em suas residências 15 carros antigos e diversas obras de arte de pintores famosos.

A Polícia Federal ainda não tem provas de que os recursos foram repassados para pagamento de serviços prestados por Santana durante as campanhas presidenciais de Dilma. A delação de Skornicki pode ser a peça que faltava para fechar a investigação. Na época da prisão de João Santana, chamou a atenção dos policiais o fato de Santana ter declarado legalmente o recebimento de aproximadamente R$ 170 milhões por serviços eleitorais prestados no Brasil desde 2005 e ter escondido o recebimento de valores menores no exterior.

Quando a Acarajé acabou deflagrada, em despacho, o juiz Sérgio Moro, à frente dos processos relativos à Operação Lava-Jato, afirmou que “é extremamente improvável que a destinação de recursos espúrios e provenientes da corrupção na Petrobras a Santana e sua mulher, no exterior, ‘esteja’ desvinculada dos serviços que prestaram à aludida agremiação política (o PT)”. Segundo o juiz, “por mais que tenham declarado ao Fisco” os valores, o casal “tinha conhecimento da origem espúria dos recursos” e ocultou valores que recebeu no exterior “mediante expedientes notoriamente fraudulentos”, como contas em nome de offshore e contratos falsos feitos por Skornicki.

Na época da prisão, a defesa de João Santana alegou que todos os recursos em contas do exterior do marqueteiro eram provenientes de campanhas feitas fora do Brasil. Os advogados atestaram que não havia nenhum valor referente a pagamentos por serviços prestados no país.

 

Frase

“É extremamente improvável que a destinação de recursos espúrios e provenientes da corrupção na Petrobras a Santana e sua mulher, no exterior, ‘esteja’ desvinculada dos serviços que prestaram à aludida agremiação política (o PT)”

Trecho de despacho do juiz Sérgio Moro, quando a Operação Acarajé foi deflagrada

 

US$ 4,5 MILHÕES

Valor pedido pelo ex-tesoureiro João Vaccari Neto a Zwi Skornicki para a campanha de Dilma em 2014