Operação conclui cerco a empreiteiras na Lava Jato

03/08/2016

A Polícia Federal prendeu ontem o ex-presidente da Queiroz Galvão Ildefonso Colares Filho e o ex-diretor da empresa Othon Zanoide Moraes Filho, além de cumprir outros 30 mandados judiciais na 33.ª fase da Operação Lava Jato. A empreiteira, a terceira com maior volume de contratos na Petrobrás, foi o principal alvo das buscas, que tiveram como objetivo colher provas adicionais sobre o envolvimento da companhia e seus funcionários no esquema de corrupção na estatal. A empreiteira é a última integrante do “clube vip” do cartel que dividia a participação em obras da Petrobrás a ser alcançada pela Lava Jato – o que serviu de inspiração para o nome da nova fase, Operação Resta Um.

Estão sob investigação obras da Queiroz Galvão em quatro refinarias e no Complexo Petroquímico do Rio (Comperj). Os dois executivos detidos ontem já haviam sido presos temporariamente em novembro de 2014, quando foi deflagrada a 7.ª fase da Lava Jato – primeiro avanço das investigações sobre grupos empresariais.

Eles, no entanto, não foram denunciados pelo Ministério Público Federal. Segundo o juiz Sérgio Moro, que atua na Lava Jato na 1.ª instância, eles ficaram de fora “pela necessidade de colher melhores provas do pagamento de propina”.

As provas esperadas por Moro vieram após a série de delações premiadas da Lava Jato.

Entre elas está a do ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás Paulo Roberto Costa, que relatou pedido do ex-presidente do PSDB Sérgio Guerra – morto em 2014 – de R$ 10 milhões para encerrar a CPI da Petrobrás, aberta em 2009 pelo Senado.

O pedido foi reafirmado mais tarde na delação do doleiro Alberto Youssef e um vídeo obtido pelos investigadores mostra a participação de Guerra em reunião para negociar o fim da comissão.

Segundo Costa, o dinheiro foi providenciado pela Queiroz Galvão.

“O contexto não é de envolvimento episódico em crimes de corrupção e de lavagem de dinheiro, mas de atuação profissional, longa e sofisticada, no pagamento de propinas em contratos públicos, com utilização de expedientes de ocultação e dissimulação relativamente complexos”, afirmou Moro ao decretar as prisões e buscas.

Consórcio. A operação de ontem realizou buscas e apreensão em seis Estados e, além das duas prisões preventivas, foi expedido um mandado de prisão temporária contra Marcos Pereira Reis, do consórcio Quip, liderado pela Queiroz Galvão.

Segundo sua defesa, Reis está na China a trabalho. A Queiroz Galvão era investigada desde agosto de 2014, quando Costa, um dos primeiros delatores da Lava Jato, citou o envolvimento de executivos da construtora no esquema de corrupção na Petrobrás.

Partidos. Com as prisões dos dois ex-dirigentes da construtora, a força-tarefa aprofunda as apurações em obras da Petrobrás que podem atingir nomes ligados ao PT, PP, PMDB e PSDB. Além de pagamentos de propina, a Lava Jato investiga doações aos partidos.

Entre elas está a citada na delação do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado. O ex-dirigente disse à Procuradoria que o presidente em exercício Michel Temer (PMDB) pediu R$ 1,5 milhão para a campanha de Gabriel Chalita em São Paulo e citou a Queiroz Galvão.

Temer negou ter feito o pedido e disse que a versão é “absolutamente inverídica”. A operação ainda cita suspeita de caixa 2 da Queiroz Galvão, via consórcio Quip, para a campanha à reeleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2006. Os investigadores afirmam que o ex-tesoureiro José de Filippi Júnior captou R$ 2,4 milhões naquele ano.

Outra delação que envolve a Queiroz Galvão é a do ex-deputado Pedro Corrêa (PP-PE), que relatou repasse ao governador interino do Rio, Francisco Dornelles (PP), também para abafar a CPI no Senado, conforme revelou o Estado em junho.

“O problema da corrupção é estrutural da política brasileira”, disse o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima. “Temos fatos envolvendo campanhas do PT e também esse caso do PSDB, que era oposição. Isso nos mostra que o problema da corrupção não é partidário.”

‘Expediente complexo’

“O contexto não é de envolvimento episódico em crimes de corrupção e de lavagem de dinheiro, mas de atuação profissional no pagamento de propinas.”

Sérgio Moro

JUIZ FEDERAL

‘RESTA UM’

● Polícia Federal deflagrou ontem a 33ª fase da Lava Jato; alvo são executivos da Queiroz Galvão investigados por pagamento de propina na Petrobrás

A operação

32 mandados expedidos

23 mandados de busca e apreensão

6 mandados de condução coercitiva

1 mandado de prisão temporária – ( Marcos Pereira Reis Diretor do consórcio Quip, do qual a Queiroz Galvão era líder. Está no exterior)

2 mandados de prisão preventiva – ( Ildefonso Colares Filho - EX-PRESIDENTE DA QUEIROZ GALVÃO / Othon Zanoide Moraes Filho - EX-DIRETOR DA QUEIROZ GALVÃO)

R$ 20 bilhões

É o valor dos contratos da Queiroz Galvão com a Petrobrás

EMPREITEIRA MANTÉM CONTRATOS EM OBRAS SOB INVESTIGAÇÃO

● Refinaria de Abreu e Lima (PE)

● Refinaria Henrique Lage (Revap) (SP)

● Refinaria Landulpho Alves (BA)

● Refinaria Duque de Caxias (RJ)

● Complexo Petroquímico do Rio (Comperj)

Delatores citaram empreiteira e executivos

Paulo Roberto Costa

EX-DIRETOR DA PETROBRÁS

Disse que Sérgio Guerra (morto em 2014), ex-presidente do PSDB, cobrou R$ 10 milhões para enterrar CPI da Petrobrás aberta em 2009 no Senado. Segundo Costa, o dinheiro veio da Queiroz

Alberto Youssef

DOLEIRO

Confirmou o pagamento ao PSDB relatado por Costa. Relatório da PF também reúne mensagens trocadas entre o doleiro e Othon Zanoide Moraes Filho, ex-diretor da Queiroz Galvão

Sérgio Machado

EX-PRESIDENTE DA TRANSPETRO

Disse que Michel Temer negociou com ele o repasse de R$ 1,5 milhão em propina para a campanha, em 2012, de Gabriel Chalita a prefeito. Segundo o delator, o valor saiu da Galvão. Temer nega

 

Pedro Corrêa

EX-DEPUTADO (PP-PE)

Afirmou que o governador interino do Rio, Francisco Dornelles (PP), recebeu R$ 9 milhões para abafar CPI da Petrobrás no Senado. Ele nega. O dinheiro, disse Corrêa, foi entregue por Ildefonso Colares

 

O Estado de São Paulo, n. 44850, 03/08/2016. Política, p. A4