Título: O dilema de Aldo é montar a equipe
Autor: Decat, Erich
Fonte: Correio Braziliense, 13/11/2011, Política, p. 4

Novo ministro do Esporte tem enfrentado negativas na hora de escolher os subordinados. Os motivos são os salários oferecidos e os recentes escândalos na Esplanada

Há 13 dias no comando do Ministério do Esporte, Aldo Rebelo passa por uma verdadeira gincana para tentar conseguir montar a equipe. Com a determinação do Planalto de compor o ministério com técnicos, o problema do novo ministro não é falta de nomes, mas os salários que o setor público oferece e o "campo minado" que a Esplanada se tornou com as constantes denúncias. O próprio Aldo assumiu a pasta após ver o antecessor, Orlando Silva, cair em meio a suspeita de irregularidades.

Apesar de ter se tornado uma vitrine em decorrência da proximidade da Copa de 2014 e das Olimpíadas de 2016, Aldo ainda precisa suar para convencer técnicos do setor privado que queiram desembarcar no ministério. Hoje o valor mais alto de salário oferecido é R$ 22.357,88. Esse montante é pago para o cargo de secretário executivo. Os demais secretários ganham entre R$ 20.252,57 e R$ 21.450,16 — Aldo recebe R$ 26,7 mil. Um dos convidados no início do mês para assumir como Secretário de Esporte Nacional foi o iatista Lars Grael, que já trabalhou na pasta em 1998, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso.

"O Lars ganha só com consultoria 50 vezes mais do que no ministério. É difícil que alguém abra mão disso", disse um integrante do PCdoB que acompanha de perto as discussões sobre a tentativa de montagem da equipe no ministério. Segundo ele, desde que assumiu o posto, Aldo já conversou com vários técnicos, mas não teve resposta definitiva de nenhum deles. "Se não conseguirmos trazer do setor privado, vamos buscar dentro do partido", ressaltou.

Entre os nomes do PCdoB sondados para assumir o cargo de secretário executivo está o da paulista Nádia Campeão. Na análise de integrantes da cúpula do partido, há dificuldades de trazê-la em razão de ela ter assumido recentemente o posto de presidente do PCdoB em São Paulo. "Ela é uma peça fundamental lá, pois está envolvida no processo eleitoral do próximo ano", ressaltou outro integrante da cúpula do PCdoB.

O aquecimento no mercado interno do país é um dos principais fatores apontados por especialistas como gerador de supersalários no setor privado. "Aqui no país nos dois últimos anos os salários aumentaram de 30% a 40% nos níveis executivos. Hoje um CEO de uma empresa média a grande ganha de R$ 60 mil a R$ 100 mil por mês", ressaltou Bernardo Entschev, presidente da De Bernt Entschev Human Capital, empresa especializada em recrutamento de executivos.

Para Entschev, um dos fatores para esse cenário tem relação direta com a Copa de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016, que deverão ficar sob a coordenação do ministério. "Com a proximidade dos eventos, as empresas nacionais e multinacionais estão tendo que produzir ainda mais. Isso gera um efeito cascata no mercado para atender as demandas", avaliou.

Denúncias Outro fator que afasta os executivos de uma cadeira nos ministérios é a possibilidade de ver o nome envolvido em alguma denúncia. "Vivemos um momento de campo minado. E ter o nome exposto nas manchetes é ruim para qualquer um", disse outro aliado de Aldo, que também acompanha a dança das cadeiras no ministério.

"Não importa se a reportagem vai ser verdadeira ou não. Depois, para o funcionário retornar ao mercado, é muito difícil", ressaltou Bernardo Entschev. "Temos exemplo de que na hora de um profissional ter entrado numa seleção, os entrevistadores associaram o nome dele à época em que houve problemas no Ministério por onde ele passou. Os recrutadores gentilmente tiram o nome dele da seleção."

R$ 22.357,88 Salário mais alto disponível no Ministério do Esporte para cargos de livre nomeação