Título: Perfil Romário
Autor: Jeronimo, Josie
Fonte: Correio Braziliense, 13/11/2011, Política, p. 8

Ex-jogador começa a vencer o estereótipo de deputado celebridade, tem atuação destacada na Câmara e conquista velhos caciques da política nacional

Chegou e sentou na janela

Ele acabou de entrar no ônibus, mas já consegue sentar na janela. Eleito com 146 mil votos e egresso da cota das celebridades, o deputado federal Romário (PSB-RJ) repete a fórmula "agilidade de raciocínio e marra", combinação que o projetou como jogador, para se livrar da pecha de parlamentar folclórico.

Depois de aparecer em terceiro lugar em uma pesquisa espontânea de intenção de votos que o deputado Anthony Garotinho (PR-RJ) encomendou para ver as chances de sua filha Clarisse Garotinho na disputa pela prefeitura do Rio de Janeiro, Romário se sentiu como em seu primeiro contrato com um clube internacional. Os eleitores apontaram o prefeito Eduardo Paes (PMDB), o ex-deputado Fernando Gabeira (PV) e Romário como os mais fortes para a disputa, e criaram um problema para o presidente do PSB, o governador Eduardo Campos (PE).

Romário gostou da ideia de se tornar prefeito do Rio de Janeiro e quer dar asas ao projeto, para desespero do presidente da sigla no estado, Alexandre Cardoso. Foi ele quem convocou Romário para o partido, torcendo para que o ídolo fosse um bom puxador de votos para ampliar a bancada fluminense. À época da filiação, teve que convencer o ex-jogador de que a Câmara era melhor do que a Assembleia Legislativa, pois o ex-craque achava a opção regional mais vantajosa, para conciliar praia e parlamento. Agora, uma ala do partido acha genial ter um Romário no Palácio da Cidade, como forma de "desnordestilizar" o PSB. Cardoso, por sua vez, veste a saia justa, pois, além de ser secretário de Ciência e Tecnologia do governo peemedebista de Sérgio Cabral, é responsável por conservar a aliança das siglas no Rio de Janeiro.

Em menos de um ano de mandato, Romário age como alto clero, discursa como tal e só anda com deputados e senadores escolados na arte da política e da administração pública. Foi apresentado ao senador José Sarney (PMDB-AP) pelo deputado Francisco Escórcio (PMDB-MA) e impressionou o presidente do Senado pela vivacidade e interesse pelo novo universo. As críticas à Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e à Federação Internacional de Futebol (Fifa) também o aproximaram do líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PR).

Quando chegou à Câmara, foi muito assediado pelos colegas, mas, depois de passar pela euforia da popularidade, Romário decidiu filtrar as companhias. "Ele soube detectar as pessoas que queriam explorar sua imagem e quem poderia qualificar o mandato dele", conta um colega de partido. Romário ainda assusta os outros deputados pela fama de marrento. Geralmente, senta-se sozinho no plenário e, quando precisa de assinaturas para requerimentos, recorre aos deputados com quem costuma jogar futebol. A bancada dos parlamentares que Romário já sabe o nome é de 40 deputados.

Aos poucos, tenta deixar para trás as encrencas que causou no início da legislatura: ao ser flagrado jogando futevôlei na praia da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, em dia de sessão; e ao se aproximar de figuras políticas de histórico questionável do Distrito Federal assim que chegou a Brasília.

Para tentar se redimir e mudar no parlamento a imagem de "talentoso, mas descompromissado", passou a pedir conselhos a deputados mais experientes sempre que julga necessário. Fez isso durante a votação do processo de cassação da deputada Jaqueline Roriz (PMN-DF). Ouviu de seus mentores políticos que todos os que mantivessem o voto fechado pagariam a conta pela absolvição da parlamentar do DF. Pegou o microfone, declarou o voto pela cassação e publicou o posicionamento no blog.

Também pediu conselhos quando foi convidado para ser comentarista de uma emissora de televisão nos jogos Pan-Americanos de Guadalajara. Perguntou aos colegas se deveria pedir licença sem vencimento quando estivesse no México, não justificou as cinco faltas em sessões e terá o salário descontado. Romário começa a entender que o dinheiro que recebe é público e a vida parlamentar carrega o ônus da prestação de contas, mas o trato com a coisa pública ainda é um aprendizado — o ex-jogador optou por contratar mulheres bonitas e sem experiência no trabalho legislativo para o seu gabinete e, recentemente, foi pego gastando recursos de verbas indenizatória para custear seu deslocamento em partidas de exibição de futebol que tem feito pelo país.

Regras do jogo Além de aprender a usar verbas públicas, Romário também precisa de um curso intensivo de regimento, avaliam correligionários. O embate do ex-jogador com o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, e o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, foi criticado por seus pares. Colegas de partido disseram que ele "exagerou". Por diversas vezes, Romário interrompeu a fala de outros deputados sem usar artifícios regimentais, como o pedido de réplica. Ele não respeitava a vez dos outros pronunciamentos e quebrou o rito da audiência pública realizada na Comissão Especial da Copa, na última terça-feira. Preocupado, o partido se revezou, mandando emissários para ficar ao lado do ex-jogador, a fim de evitar dores de cabeça. "Te colocaram aqui para me marcar, né?", reclamou Romário com um dos colegas.

A marra (ou excesso de autoconfiança) que fez o ex-jogador superar a infância pobre na Vila da Penha e se tornar ídolo produz choques, como as críticas a Pelé e o clima de idolatria que cultiva, que deram origem, por exemplo, ao "Romário Day", trending topics do Twitter na sexta-feira (11/11/11). Mas, na vida parlamentar, o ex-camisa 11 respeita a hierarquia da liderança. Colegas contam que ele, até agora, não tem utilizado a influência para conseguir acesso direto ao Planalto, e sempre que precisa levar demandas ao Executivo, pede à líder do partido, a deputada Sandra Rosado (PSB-RN).

No Salão Verde e nos gramados

Confira os números de Romário, que trocou o uniforme de jogador pelo terno e gravata usado no Congresso

O PARLAMENTAR

3 matérias relatadas 10 discursos em plenário 48 projetos apresentados Titular de uma comissão e suplente em outra93% de presença em lenário e 90% de presença nas comissões

O CAMISA 11

55 gols marcados pela Seleção Brasileira Título de melhor ogador do mundo concedido pela Fifa em 1994 Bola de Ouro da Copa o Mundo de 1994 26 vezes artilheiro e competições 22 títulos por clubes e pela Seleção