Ilan indica inflação de 4,5% só em 2018

Paulo Silva Pinto e Antonio Temóteo

14/06/2016

 

 

Novo presidente do BC garante buscar o centro da meta, mas com trajetória %u201Ccrível%u201D, o que sugere necessidade de tempo maior para atingir o objetivo. Economistas apostam em queda na taxa de juros a partir de agosto para evitar o agravamento da recessão.

Com críticas implícitas à política econômica do governo afastado, o novo presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn, disse ontem que perseguirá o centro da meta de inflação, de 4,5%. No discurso de transmissão de cargo, que recebeu de Alexandre Tombini, Ilan destacou ter participado da implantação do regime de metas quando foi diretor de Política Econômica da autoridade monetária, entre 2000 e 2003, sob o comando de Arminio Fraga.

“Nesse regime, o objetivo é cumprir plenamente a meta de inflação estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional, mirando o seu ponto central. Os limites de tolerância estabelecidos servem para acomodar choques inesperados de inflação, que não permitam a volta ao centro da meta em tempo hábil”, explicou.

Desde o início da gestão de Tombini, iniciada em 2011, a inflação ficou próxima do teto, de 6,5%. A avaliação de analistas de mercado era que limite havia virado o novo centro. No ano passado, quando surgiram problemas adicionais, com a liberação de preços administrados, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) estourou muito o limite, atingindo dois dígitos: 10,71%.

Ilan apresentou as ressalvas que justificam o uso do intervalo de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. “Quando ocorrerem raros, fortes e infrequentes choques que levem a inflação para fora do intervalo de confiança da meta, é relevante que a trajetória de convergência ao centro seja ao mesmo tempo desafiadora e crível”.

A falta de um comprometimento com o cumprimento do limite em 2017 levou os analistas a darem como certo, porém, que isso só ocorrerá em 2018. A palavra “crível”, na avaliação de muitos, indica a necessidade de um prazo maior; do contrário, obrigaria a manutenção de uma alta taxa de juros em um ambiente de queda abrupta do Produto Interno Bruto (PIB), adiando ainda mais a retomada do crescimento econômico.

O novo presidente do BC deixou claro que não quer agravar a situação. “Atravessamos a pior recessão da nossa história, com desemprego em alta e relevante desafio fiscal. Há problemas conjunturais e dificuldades estruturais. A incerteza econômica paralisou o investimento e sequestrou a esperança de muitos”, destacou.

Sem problema

Há, entre analistas, quem alerte até mesmo para o risco de dominância fiscal. Por isso, a extensão da convergência da meta para 2018 não foi vista como um grande problema. “Se ele levar o IPCA para 5,5% em 2017 já será ótimo”, disse o economista de um grande banco. Como economista-chefe do Itaú Unibanco, cargo que ocupava antes de ser nomeado para o BC, Ilan via possibilidade de cortes na Selic no segundo semestre. Analistas acham hoje que, diante da persistência da inflação, ele será obrigado a adiar essa queda para agosto. Mas não acreditam que ele mantenha a Selic nesse patamar por muito tempo.

Ilan destacou que estabilidade do poder de compra da moeda beneficia a todos, aproveitando para apontar defeitos a criatividade das políticas implantadas na gestão da presidente afastada, Dilma Rousseff, e para defender a volta do modelo anterior. “Considero haver praticamente consenso de que é preciso substituir os efeitos ainda presentes da chamada Nova Matriz Econômica pelo velho e bom tripé macroeconômico formado por responsabilidade fiscal, controle da inflação e regime de câmbio flutuante, que permitiu ao Brasil ascender econômica e socialmente em passado não muito distante”, defendeu.

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disse em seu discurso na cerimônia do BC, que o governo pretende ajudar o controle da inflação com uma política fiscal consistente, que terá como essência a proposta de limite de aumento dos gastos públicos pela inflação, a ser enviada nesta semana ao Congresso. Ele destacou que, entre 2008 e 2015, a receita da União cresceu 14,5%, ao mesmo tempo em que a despesa total se elevou em 51%. Isso resultou em alta de R$ 2,2 trilhões da dívida pública.

Havia seis ex-presidentes da autoridade monetária na cerimônia de ontem, além de Meirelles: Arminio Fraga, Gustavo Franco, Persio Arida, Pedro Malan, Carlos Langoni e Wadico Bucchi. A presença de tantos ex-dirigentes, de presidentes e economistas de bancos, foram interpretadas como sinais do prestígio do ministro e de Ilan no mercado.

Foram anunciados quatro novos diretores do BC, que precisarão ser aprovados pelo Senado: Carlos Viana de Carvalho, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) será diretor de Política Econômica no lugar de Altamir Lopes; Tiago Berriel, também da PUC-Rio, de Assuntos Internacionais, substituindo Tony Volpon; o diretor do Bradesco Asset Management Reinaldo La Grazie irá para a diretoria de Política Monetária, no lugar de Aldo Mendes; e Isaac Ferreira, atual procurador-geral do BC, para a de Relações Institucionais e Cidadania, hoje acumulada por Luiz Édson Feltrim, diretor de Administração.

O novo presidente do BC deu sinais de que pretende tomar cuidado para eliminar os contratos de swap cambial, mesmo não tendo citado claramente esse mecanismo. “Sem ferir o regime de câmbio flutuante, o Banco Central poderá utilizar com parcimônia as ferramentas cambiais de que dispõe. Nesse sentido, poderá reduzir sua exposição cambial em determinado instrumento em ritmo compatível com o normal funcionamento do mercado, quando e se estiverem presentes as adequadas condições”, afirmou.

Tombini, que será indicado pelo governo como representante do Brasil no Fundo Monetário Internacional, admitiu em seu discurso de despedida, pela primeira vez, que o excesso de gastos do governo Dilma atrapalhou o controle dos preços. “O balanço das forças resultou em pressões claramente inflacionárias”. Entre os vários fatores que, ele elencou, levaram a isso, houve medidas de aumento salarial e “uma política fiscal que, desde 2012, se manteve em terreno expansionista”.

Risco elevado

A dominância fiscal se configura quando o gasto do governo com os juros é tão alto que torna inviável novas elevações da taxa básica, que, no Brasil, é a Selic. O problema é que ao elevar a taxa, para estimular a poupança e restringir o crédito, a autoridade monetária também eleva o gasto do governo com juros. Se esse desembolso já é muito alto, o mercado verá maior risco de calote. Assim, a elevação provoca perda de confiança do país e não melhora.

Futuro

O BC tem hoje R$ 62 bilhões em contratos de swap cambial, nos quais se compromete a entregar dólares no vencimento a determinado preço, o equivalente à venda da moeda no mercado futuro. Foi usado a partir do terceiro trimestre do ano passado para dar segurança a empresas que precisam de dólares, evitando, assim, que fossem obrigadas a recorrer ao mercado à vista. Embora hoje isso seja menos necessário, a não renovação de todos os contratos é vista como um risco, pois poderia elevar a demanda por dólares.

Sob nova direção

Reinaldo Grazie, Política Monetária

Isaac Sidney, Relações Institucionais e Cidadania

Carlos de Carvalho, Política Econômica

Tiago Berriel, Assuntos Internacionais.