Rosana Hessel
12/06/2016
O governo está tratando o tema com reservas, mas documentos que circulam entre técnicos da equipe econômica indicam que, mantido o quadro atual, o Tesouro Nacional terá que capitalizar as principais empresas estatais em, pelo menos, R$ 140 bilhões até 2020. A lista inclui a Petrobras, a Eletrobras, a Caixa Econômica e o Banco do Brasil. Antes, porém, de recorrer a dinheiro público, o Planalto tentará encontrar mecanismos de mercado para reforçar o capital dessas empresas, como a venda de ativos. Não será tarefa fácil, sobretudo se o presidente interino, Michel Temer, não entregar o que prometeu: um ajuste fiscal consistente e a retomada do crescimento econômico.
“A situação das estatais não é das melhores”, diz Julio Hegedus, economista-chefe da Lopes Filho & Associados. “Diante das dificuldades que essas empresas enfrentam, não conseguirão se financiar no mercado, muito menos vender ativos para fazer caixa”, acrescenta. Ele ressalta que o nível de endividamento das companhias é assustador. Somente no caso da Petrobras, aproxima-se de R$ 500 bilhões. A geração de receitas não é suficiente para arcar com as despesas, nem no caso da petroleira nem da Eletrobras. Restará, portanto, ao governo socorrê-las. No caso dos bancos, a situação mais dramática é da Caixa Econômica Federal, que foi usada politicamente pelos governos petistas.
Para Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset, é possível que a injeção de capital nas estatais seja maior do que R$ 140 bilhões, dado o loteamento político que se viu nos últimos anos e os esquemas de corrupção que vêm sendo desvendados. “Se o governo está prevendo essa quantia, é porque pode ser o dobro”, avalia. “O problema é grave porque a questão da capitalização das estatais esbarra na oferta. Se o Tesouro não quiser bancar tudo, a diferença terá que vir do mercado. Mas o rebaixamento do país deixou o crédito escasso e mais caro, o que é muito ruim”, destaca. Há ainda outro empecilho: a gestão. “Se não for técnica, não há como se falar em boa vontade do mercado.”
Negócios ruins
Professor do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB), Roberto Ellery lembra que o quadro fiscal pode se agravar no caso de socorro às estatais. Pelos cálculos dele, o rombo de R$ 170,5 bilhões previsto para este ano não inclui a capitalização dessas empresas. “Se o socorro se confirmar, as contas públicas ficarão completamente fora de controle. Acredito que a União deverá evitar isso e tentar buscar uma saída vendendo ativos. O problema é que o momento não é muito propício. Por isso, a volta de possibilidades como a fusão da Caixa com o BB”, destaca.
Apenas três estatais, Petrobras, Eletrobras e Correios, registraram prejuízos de R$ 49,4 bilhões no ano passado e apresentam problemas de liquidez, segundo especialistas. A Petrobras, que está no centro das investigações da Operação Lava-Jato, se endividou absurdamente devido a escolhas erradas, a negócios ruins e à corrupção. A dívida da companhia passou de R$ 115,9 bilhões, em 2010, para R$ 450 bilhões, neste ano. A petroleira garante, porém, ter “equacionadas as necessidades de caixa até 2017”. No entender de analistas, com o patrimônio de R$ 266,4 bilhões em queda, a estatal precisará de capitalização de R$ 100 bilhões a partir de 2018.
“A necessidade anual de caixa da Petrobras gira em torno de R$ 80 bilhões ao ano. A dívida da empresa é enorme e há um volume maior que vencerá em 2019. Esse será o grande ano, é quando saberemos se a estatal terá capacidade de honrar seus compromissos”, explica o economista Rodrigo Zeidan, professor da Fundação Dom Cabral. O consenso entre os especialistas é de que a entrada de Pedro Parente no comando da petroleira acende uma luz no fim do túnel.
Sergio Lazzarini, professor de estratégia competitiva e corporativa da escola de negócios Insper, destaca a palavra refocalização como lema para a retomada da saúde financeira da companhia. “O resgate da União é muito restrito, e estamos em um processo de ajuste fiscal. Na Petrobras, o novo presidente não trabalha com um cenário de capitalização e, por isso, é importante vender subsidiárias que não fazem parte das áreas-fim da empresa”, afirma.
Quadro crítico
Principais estatais brasileiras têm piora financeira. Apenas no ano passado, três delas tiveram perdas de R$ 49,4 bilhões.
No vermelho (Em R$ bilhões)
Veja a evolução dos resultados. Em cinco anos, companhias saíram do lucro para prejuízos
Empresas 2010 2015 2016*
Petrobras 35,2 -36,9 -1,2
Eletrobras 2,2 -10,4 -3,8
Banco do Brasil 11,7 14,4 2,6
Caixa 4,8 7,1 0,8
Correios 0,8 -2,1 ND
Patrimônio líquido (Em R$ bilhões)
Situação mostra que, em algum momento, o Tesouro Nacional terá que dar socorro às companhias
Empresas 2010 2015 2016*
Petrobras 310,2 257,9 266,4
Eletrobras 71,0 41,7 37,8
Banco do Brasil 50,4 81,5 84,1
Caixa 20,7 62,7 62,9
Correios 3,6 2,6** ND
(*) Dados do 1º trimestre (**) Balanço de 2014 ND: Não divulgado
Ações desvalorizadas
Desde o início do governo Dilma, valor dos papéis das estatais negociadas na BM&FBovespa só caiu
Petrobras PN (em R$)
Dez/10 23,21
Jan/11 23,04
Dez/15 6,70
Jan/16 4,84
Jun/16 8,78***
Eletrobras ON (em R$)
Dez/10 17,15
Jan/11 17,28
Dez/15 5,76
Jan/16 5,82
Jun/16 8,80***
(***) Em 10 de junho Fontes: empresas e mercado.