Machado cita Temer e mais 22 políticos

Eduardo Militão

16/06/2016

 

 

CRISE NA REPÚBLICA » Em acordo de delação premiada fechada com a força-tarefa da Lava-Jato, o ex-presidente da Transpetro afirma que repassou R$ 109 milhões em propinas para integrantes de oito partidos. A maior fatia ficou com o PMDB

O ex-presidente da Petrobras Transporte S/A (Transpetro) Sérgio Machado disse em depoimentos em delação premiada à Operação Lava-Jato que propinas de R$ 109 milhões beneficiaram 23 políticos de oito partidos — a maior parte fruto de recursos desviados da estatal. O PMDB, que bancou a indicação do ex-senador para o cargo de 2003 a 2015, ficou com 95% dos valores, segundo levantamento do Correio com base nas afirmações do colaborador: R$ 104 milhões.

Segundo Machado, o presidente interino, Michel Temer, obteve R$ 1,5 milhão em benefício da campanha eleitoral do ex-correligionário Gabriel Chalita para a Prefeitura de São Paulo, em 2012. Mas o dinheiro ainda abasteceu, por meio de doações de campanha ou pagamentos em espécie, políticos de PSDB, PT, DEM, PSB, PP, PCdoB e PDT. O senador Aécio Neves (PSDB-MG) obteve R$ 1 milhão, de acordo com o delator, como parte de um esquema montado por ambos entre 1998 e 2000. Todos os políticos que se manifestaram negaram as acusações ontem.

Os peemedebistas lideram o “ranking” do suborno. O Presidente do Senado, Renan Calheiros (AL); o ex-presidente da República José Sarney (AP); e os senadores Jader Barbalho (PA), Romero Jucá (RR) e Edison Lobão (MA) receberam os maiores valores: R$ 95 milhões, somados. “É o núcleo que me colocou na Transpetro”, disse Machado ao ser ouvido pelos procuradores do caso no Rio de Janeiro, em 4 de maio. Sozinho, Lobão teve R$ 24 milhões. O ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves, ficou com R$ 1,55 milhão.

De acordo com o ex-presidente da Transpetro, desde 1946 o país convive com esquemas de arrecadação no governo e em estatais por meio de altos funcionários públicos indicados por políticos, que repassam a eles valores obtidos em contratos com fornecedores do Estado. O delator contou que nunca disse abertamente que se tratava de propina, mas os políticos sabiam que ele vinha de contratos oriundos da estatal. Se não fosse dirigente do órgão, os políticos nunca pediriam o dinheiro, contou. “No código do político, você nunca fala, embora eu ache que, dentro do meio político, todo mundo saiba a origem”, disse ele, em vídeo gravado pelos investigadores. “Eram pessoas políticas com os quais eu tinha interesse em ter relação e eu dispunha de uma parcela de recurso para atender a esse tipo de doação”. Depois do pedido, Machado procurava os fornecedores da Transpetro e solicitava o pagamento que seria descontado do caixa de propinas da estatal.

Machado afirmou que Aécio e o ex-senador Teotônio Vilela se uniram para ajudar a campanha de 50 deputados e conseguir viabilizar a campanha do ex-candidato à Presidência da República para comandar a Câmara dos Deputados a partir de 2001. Usando recursos ilegais, foram arrecadados R$ 7 milhões, sendo R$ 1 milhão para Aécio, ficando assim com “a maior parcela das verbas”. O tucano presidiu a Câmara dos Deputados entre 2001 e janeiro de 2003. Machado diz que Aécio recebeu dinheiro proveniente de Furnas Centrais Elétricas.

Multas

Machado se comprometeu a pagar R$ 75 milhões no acordo de delação premiada fechado com o Ministério Público, sendo R$ 10 milhões como entrada. O restante será quitado em 18 parcelas. No acordo, a Procuradoria-Geral da República aceitou pedir pena máxima de 20 anos para os crimes cometidos pelo ex-presidente da Transpetro. Os primeiros 2 anos e 3 meses seriam cumpridos em regime fechado “diferenciado”, com uso de tornozeleira eletrônica — ou seja, em sua própria casa, em Fortaleza.

Apesar disso, Machado informou à Receita Federal este ano que tem patrimônio de apenas R$ 1 milhão, composto por sociedade em empresas, como uma rádio do Ceará; a metade de uma gleba de terra de 62 hectares; um terreno no Ceará; um Ford Taurus 1996; R$ 25 mil em um cofre; depósitos bancários e investimentos. Dívidas de empréstimos somavam mais que o patrimônio declarado oficialmente: R$ 1,18 milhão. Ele e seus três filhos fecharam o acordo de delação: Daniel Firmeza, Sérgio Firmeza e Expedito Machado. Para garantir o pagamento da multa, foram empenhados R$ 76,2 milhões em depósitos dos dois últimos na Alemanha, nas Bahamas e no Brasil.

R$ 104 Milhões

Valor repassado, segundo Sérgio Machado, para integrantes do PMDB

Os citados

Confira os nomes de quem o delator Sérgio Machado relatou repasses a partir de desvios de dinheiro da Transpetro. Os acusados negam as afirmações

Michel Temer (PMDB) em favor de Gabriel Chalita (PDT)    R$ 1,5 milhão

José Sarney (PMDB), ex-presidente    R$ 18,5 milhões

Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), ministro    R$ 1,55 milhão

Francisco Dornelles (PP-RJ), governador interino do Rio    R$ 250 mil

Senadores

Renan Calheiros (PMDB-AL) R$ 32,2 milhões

Romero Jucá (PMDB-RR)    R$ 21 milhões

Jader Barbalho (PMDB-PA)    R$ 4,25 milhões

Edson Lobão (PMDB-MA)    R$ 24 milhões

Aécio Neves (PSDB-MG)    R$ 1 milhão

Valdir Raupp (PMDB-RO)    R$ 500 mil

Garibaldi Alves (PMDB-RN)    R$ 450 mil

José Agripino Maia (DEM-RN)    R$ 300 mil

Deputados

Edson Santos (PT-RJ)    R$ 142 mil

Sérgio Guerra (PSDB-PE), falecido    R$ 1 milhão

Jandira Feghali (PCdoB-RJ)    R$ 100 mil

Luiz Sérgio (PT-RJ)    R$ 400 mil

Valter Alves (PMDB-RN)    R$ 250 mil

Felipe Maia (DEM-RN)    R$ 250 mil

Heráclito Fortes (PSB-PI)    R$ 500 mil

Ex-parlamentares

Cândido Vaccarezza (PT-SP)    R$ 500 mil

Ideli Salvatti (PT-SC)    R$ 500 mil

Jorge Bittar (PT-RJ)    R$ 200 mil

Fonte: Depoimentos de Sérgio Machado (PET nº 6.138 no STF)