Cúpula do PMDB nega as acusações

Julia Chaib, João Valadares e Paulo de Tarso Lyra

16/06/2016

 

 

As novas informações divulgadas a respeito da delação premiada do ex-presidente da Transpetro Sergio Machado atingiram em cheio, mais uma vez, a cúpula do PMDB, além do presidente da República em exercício, Michel Temer. Todos os citados negaram as acusações feitas. A maior parte das acusações diz respeito a doações ilegais para campanhas, financiadas por empreiteiras envolvidas no esquema de corrupção.

Temer divulgou nota rebatendo as denúncias feitas por Machado, que afirmou, em delação premiada, ter repassado a pedido do peemedebista propinas para a campanha de Gabriel Chalita à Prefeitura de São Paulo, em 2012. “Em toda sua vida pública, o presidente em exercício Michel Temer sempre respeitou estritamente os limites legais para buscar recursos para campanhas eleitorais. Jamais permitiu arrecadação fora dos ditames da lei, seja para si, para o partido e, muito menos, para outros candidatos que, eventualmente, apoiou em disputas”, diz a nota da Secretaria de Comunicação da Presidência.

O presidente ainda diz que a versão é “inverídica” e que ele mantinha relacionamento “apenas formal e sem nenhuma proximidade” com Machado. No Planalto, a avaliação é de que a delação ajuda a desgastar o governo. “Todos sabem que isso não vai parar tão cedo. O grande problema é que, na atual fase, inocentes, culpados, doações legais e ilegais estão sendo colocadas no mesmo balaio. E a absolvição posterior sempre terá menos espaço do que a citação ou a denúncia presente”, disse um interlocutor palaciano.

O ex-deputado e ex-secretário municipal de Educação Gabriel Chalita (PDT) também nega as informações, diz que não conhece Machado e nunca pediu recursos ou auxílio. “Esclareço, ainda, que todos os recursos recebidos na minha campanha foram legais, fiscalizados e aprovados pelo Tribunal Regional Eleitoral.” Também citado como alvo de recebimento de propinas, o ex-deputado e ministro do Turismo Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) salientou que as declarações de Machado são levianas e irresponsáveis. Em nota, disse que só recebeu recursos de maneira oficial. E declarou estar à disposição da Justiça para prestar qualquer tipo de esclarecimento.

No Congresso, o Presidente do Senado, Renan Calheiros, ressaltou, em nota, nunca ter recebido recursos de caixa dois “ou vantagens de quem quer que seja”. O peemedebista negou ter indicado Machado para a Transpetro e consentido que pessoas falassem em seu nome. “O senador não conhece Felipe Parente e nenhum dos filhos de Sérgio Machado. Mesmo se tratando de denúncia em que o depoente afirma ter ‘subentendido’, o senador está à disposição, uma vez que já prestou dois depoimentos e fará quantos outros forem necessários.”

O advogado do ex-presidente José Sarney e dos senadores Romero Jucá (PMDB-RR), ex-ministro do Planejamento, e Edison Lobão (PMDB-MA), Antonio Carlos de Almeida Castro, diz que os clientes ficaram “perplexos” e negam ter recebido propina. “Essa delação tem que ser olhada com muita ressalva. Porque é uma delação feita por um homem desesperado, sob risco de ser preso. Ele faz uma delação agressiva, mas não cita provas. Fala que entregou valores estratosféricos, sem provar. Não é crível que ele tenha movimentado tanto dinheiro”, disse Castro.

O presidente do PSDB, Aécio Neves (MG), chamou de “acusações falsas e covardes” as declarações contra ele, de alguém que “não hesita em mentir e caluniar”. Na delação, Machado diz que Aécio recebeu R$ 1 milhão em doação ilegal em 1998 para a campanha que o elegeu deputado e que participou de um esquema para elegê-lo presidente da Câmara em 2000. Aécio afirma que, naquela época, a candidatura a presidência nem sequer era cogitada. “A afirmação feita não possui sequer sustentação nos fatos políticos ocorridos à época”, afirmou.

Em nota oficial, o governador em exercício do Rio de Janeiro, Francisco Dornelles (PP), afirmou que todas as doações recebidas foram registradas oficialmente e homologadas pelos tribunais eleitorais. “O vice-governador Francisco Dornelles não disputou eleições em 2008, 2010 e 2012. Todas as doações relativas a eleições que disputou foram informadas e aprovadas pelos tribunais competentes”, diz o texto. O deputado Luiz Sérgio (PT-RJ), relator da CPI da Petrobras; A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ); e o deputado Felipe Maia (DEM-RN) também negaram ter recebido doações ilegais.

Frase

“Em toda sua vida pública, o presidente em exercício Michel Temer sempre respeitou estritamente os limites legais para buscar recursos para campanhas eleitorais. Jamais permitiu arrecadação fora dos ditames da lei”

Trecho da nota divulgada pela Secretaria de Comunicação da Presidência

O primeiro pronunciamento

O presidente em exercício, Michel Temer, pretende fazer amanhã o primeiro pronunciamento em cadeia de rádio e televisão de seu mandato. O teor do discurso ainda não está pronto, mas o eixo central será apresentar ao país a herança petista, as dificuldades econômicas e, se possível — o levantamento foi solicitado ontem pelo peemedebista aos ministros — uma lista de projetos parados e obras inacabadas para mostrar a paralisia da gestão anterior. Temer também pretende apresentar-se aos brasileiros das classes C, D e E, parcela da população que desconhece o presidente interino e, atualmente, abriga a maior parte dos eleitores do PT, sobretudo na região Nordeste.