Título: Berlusconi sai e Itália luta para superar falência
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Fonte: Correio Braziliense, 13/11/2011, Economia, p. 20

Câmara aprova arrocho fiscal e abre as portas para a renúncia do polêmico politico, há 17 anos no poder. Sucessor será Mario Monti

Roma — Os olhos de todo o mundo se voltaram ontem para a Itália, para a esperada renúncia do primeiro-ministro Silvio Berluconi. Depois de 17 anos no poder, marcados por denúncias de corrupção e escândalos sexuais, Il Cavalieri (O Cavaleiro) deveria anunciar oficialmente o pedido de demissão. Ele será substituído por Mario Monti, ex-comissário da União Europeia. Uma multidão tomou as ruas da capital italiana para comemorar. A perspectiva é de que, com Berlusconi fora de cena, a Itália, que está à beira da falência, saia da linha de tiro do mercado financeiro, que passou a exigir juros exorbitantes para financiar uma dívida superior a 1,9 trilhão de euros.

A estimativa dos economistas é de que a Itália precise de pelo menos 700 bilhões de euros em ajuda da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional (FMI) para começar a sair do atoleiro. Somente em 2012, o país terá de arcar com 300 bilhões de euros em dívidas. Por isso, a importância da aprovação do arrocho fiscal — corte de gastos, privatização de estatais e aumento de impostos — pela Câmara dos Deputados ontem. As medidas já haviam sido ratificadas pelo Senado um dia antes. Essa era a condição final de Berlusconi para renunciar.

O arrocho italiano foi aprovado, na Câmara, por 380 votos a favor, 26 contra e duas abstenções. Após a oficialização da renúncia de Berlusconi, o presidente da República, Giorgio Napolitano, deverá anunciar um governo de coalização, que comandará a Itália até as próximas eleições. "Hoje (ontem) se encerra uma longa e dolorosa página de nossa história", disse Dario Franceschini, deputado da maior formação de esquerda, o Partido Democrático (PD). "Amanhã (hoje) se inicia uma nova era, começaremos do zero. Temos que reconstruir das cinzas nossa economia, a Justiça, a lei eleitoral", acrescentou. Já Fabrizio Cicchitto, porta-voz do partido de Berlusconi, Povo da Liberdade (PdL), defendeu o primeiro-ministro por seu gesto de responsabilidade ao renunciar para tentar reverter a crise que solapa a Itália.

Interesses Multimilionário, Berlusconi criou muitos desafetos, inclusive o presidente francês, Nicolas Sarkozy, e a chancele da Alemanha, Angela Merkel. Eles trabalharam arduamente para que O Cavaleiro, o protagonista da era "bunga bunga", fosse expurgado do poder. A aprovação popular de Berlusconi também estava em baixa, o que podia se constatado pelas centenas de placas e cartazes ostentadas ontem por manifestantes em frente ao Parlamento. "Bye, bye, Berlusconi". A população também gritava "adeus, adeus".

Berlusconi, de 75 anos, será substituído por um tecnocrata, o economista Mario Monti, 68, um especialista em assuntos europeus, que conta com o apoio de quase todos os partidos políticos, entre eles o Partido Democrático (de esquerda) e industriais. Segundo a imprensa italiana, o multimilionário lamenta por não ter sido consultado sobre seu sucessor e exige garantias para o futuro de seu império da comunicação, que seria gravemente afetado por novas leis de publicidade. Além disso, o polêmico movimento popular, Liga Norte, aliado chave de Berlusconi, disse que se opõe a um governo que não seja eleito com o voto popular e anunciou sua total oposição.