Puxão de orelhas em casa

Evandro Éboli 

13/08/2016

 

 

Filha repreende ministro da Saúde por dizer que homens trabalham mais que mulheres

Um dia depois da repercussão negativa da declaração de que os homens trabalham mais que as mulheres, o ministro da Saúde, Ricardo Barros, pediu desculpas e afirmou que foi mal interpretado. Em nota, ressaltou que as mulheres, além de trabalhar fora de casa, cuidam também das tarefas domésticas.

“Conhecendo o quanto as mulheres trabalham, eu jamais diria que os homens trabalham mais que as mulheres. Quero deixar claro que eu me referia ao número de homens no mercado de trabalho, que ainda é maior”, disse Barros.

“As mulheres, além de trabalhar fora, têm as tarefas de casa, cuidam da família e ainda arrumam tempo para cuidar da saúde. A campanha que lançamos quer espelhar esse exemplo das mulheres”, acrescentou.

Barros afirmara na véspera que os homens cuidam menos da saúde porque trabalham mais que as mulheres.

A filha do ministro, a deputada estadual Maria Victoria Borghetti Barros (PP-PR), também criticou a fala do pai.

“Hoje eu tive que dar um ‘puxão de orelhas’ no meu pai, que deu a entender que os homens trabalham mais que as mulheres...”, escreveu no Facebook. Em um vídeo, ela fala: — Pai, logo o senhor, com duas mulheres como nós em casa, a vice-governadora do estado do Paraná, Cida Borghetti, e eu, deputada estadual, que trabalhamos tanto quanto o senhor. (...) E não precisa de dados para mostrar o quanto as mulheres trabalham neste Brasil inteiro. Depois de trabalhar fora de casa, ainda tem de trabalhar em casa, a famosa jornada dupla de trabalho. Não é isso, mulherada?

A mulher trabalha cada vez mais que o homem. Em uma década, segundo o IBGE, a diferença aumentou em mais uma hora. Em 2004, as mulheres trabalhavam quatro horas a mais que os homens por semana, somadas a ocupação remunerada e o que é feito em casa. Em 2014, a dupla jornada feminina passou a ter cinco horas a mais, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad). (Colaboraram Cássia Almeida e Daiane Costa)

 

 

O globo, n. 30322, 13/08/2016. País, p. 4.