Título: Ásia está sob risco, alerta FMI
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Fonte: Correio Braziliense, 13/11/2011, Economia, p. 21

Fundo elogia mudanças políticas na Grécia e na Itália, mas diz que dificuldades na Zona do Euro podem aumentar e nenhum país ficará imune se o pior acontecer

Tóquio — Diante das dificuldades enfrentadas pela Europa e pelos Estados Unidos de saírem do atoleiro, a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, afirmou ontem que a Ásia, puxada pela China e pela Índia, continuará evitando o pior para a economia mundial. Mas, a seu ver, se a pressão sobre a Zona do Euro aumentar, o que já está no radar dos principais economistas do planeta, o continente asiático será negativamente afetado, seja pela queda das exportações, seja pela escassez de crédito internacional.

Não à toa, depois de um encontro com o ministro das Finanças do Japão, Jun Azumi, Lagarde pediu o fortalecimento da cooperação global e uma ação política decisiva para assegurar um crescimento forte, sustentado e equilibrado da economia mundial. Na sua avaliação, é bom deixar claro "que nenhum país estará imune sob as presentes circunstâncias, e não importa quão desenvolvido ou quão emergente ou quão longe estiver".

Apesar dos sérios alertas e de admitir que as economias desenvolvidas podem mergulhar na recessão se os formuladores de política não agirem com urgência para aprovar medidas que fortaleçam o crescimento, Lagarde considerou significativos "os progressos" na Grécia e na Itália, países enterrados na crise da dívida. A Grécia já está sob o comando de um novo governo e o primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, deve renunciar a qualquer momento para que medidas de arrocho fiscal sejam implantadas no país.

"O que desejamos, no FMI, é a estabilidade política e a clareza política nesses dois países. Acredito que ambos realizaram progressos significativos", disse Lagarde. "Celebro a nomeação de Lucas Papademos como primeiro-ministro grego. Eu o conheço bem e tenho a certeza de que, com ele, poderemos retomar os trabalhos para o pagamento à Grécia da sexta parcela (de 8 bilhões de euros de um empréstimos de 110 bilhões)."

Sucessão Em relação à Itália, Lagarde afirmou celebrar o fato de o Senado (e ontem a Câmara dos Deputados) ter votado o plano de reformas submetido ao Parlamento. "O primeiro-ministro (Berlusconi) anunciou a sua intenção de abandonar o cargo e suponho que haverá uma nomeação nos próximos dias, o que também será um sinal de credibilidade das instituições políticas, um dos elementos fundamentais para estabilizar a situação no plano geral", frisou. O corte de gastos, a privatização de estatais e o aumento de impostos na Itália são exigências da União Europeia e do FMI, para que a dívida do país, de 1,9 trilhão de euros, possa ser estancada.

Por não acreditar na capacidade de Berlusconi de implantar o ajuste fiscal necessário, o mercado passou a cobrar juros cada vez maiores da Itália. A taxa passou dos 7% ao ano, limite apontado como uma ruptura, ou seja, risco de calote. Quando tiveram de arcar com taxas nesses níveis, Portugal e Irlanda foram obrigados a pedir socorro externo. A expectativa é de que Mario Monti, ex-comissário europeu, suceda Berlusconi. "Conheço bem Mario Monti. Tenho muita estima e respeito por ele. É um homem de grande qualidade, com quem sempre tive um diálogo frutífero e extremamente amigável", enfatizou Lagarde.

Sarkozy e Merkel cobram Papademos

Pesquisa realizada pela empresa MRB e publicada no jornal Realnews mostra que 68% dos gregos são favoráveis ao governo de coalizão chefiado por Lucas Papademos. O novo primeiro-ministro da Grécia, particularmente, é apoiado por 75% dos entrevistados. Ele recebeu ontem telefonema do presidente francês, Nicolas Sarkozy, e da chanceler alemã, Angela Merkel. Os dois pediram que Papademos respeite e execute integralmente, e com urgência, todos os compromissos de reforma da Grécia. "O pagamento da próxima parcela de ajuda não pode ocorrer sem que haja um passo decisivo nessa direção", disse Sarkozy. Merkel e o líder francês também reafirmaram a total determinação de defender o euro.