Presidente cobra fidelidade de aliados

Tânia Monteiro e Carla Araújo

01/09/2016

 

 

DEPOIS DO IMPEACHMENT - Em sua primeira reunião ministerial, presidente faz críticas indiretas a seu próprio partido e diz que não admitirá acusações de golpismo.

Logo após tomar posse em sessão solene do Congresso para um mandato de dois anos e quatro meses, o presidente Michel Temer participou da primeira reunião ministerial e em seu discurso partiu para o enfrentamento com a oposição, avisando que, daqui para a frente, não aceitará mais ser chamado de “golpista”. Exigiu, também, que seus ministros ajam da mesma forma.

Em sua fala, de cerca de 20 minutos, Temer avisou a aliados que não vai admitir infidelidades e se queixou dos votos que integrantes da base governista, particularmente de seu partido, o PMDB, deram na votação que manteve os direitos políticos da ex-presidente Dilma Rousseff. Nessa votação, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), se alinhou aos aliados de Dilma.

No início da noite, Temer embarcou para a China, em companhia de Renan, depois de passar o cargo para o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

“A partir de agora, nós não vamos levar ofensa para casa”, disse Temer, na reunião com os ministros.

“Agora, falou, nós respondemos”, avisou o presidente, anunciando que é preciso “contestar essa coisa de golpista” porque “golpista é você que está contra a Constituição”.

Temer chegou até a ameaçar os governistas que não rebaterem esta acusação de golpismo.

“Quem tolerar, eu confesso, vamos trocar uma ideia sobre isso pois não é possível tolerar porque isso aqui não é brincadeira, nem ação de amigos, e nem ação contra inimigos”, prosseguiu o presidente. “Ninguém vai fazer caça às bruxas, mas também não vamos deixar que tentem demonstrar que o governo não é capaz de responder.”

Embaraço. Temer reagiu também à atitude de peemedebistas e integrantes da base governista que votaram pela permissão para que a ex-presidente Dilma Rousseff mantivesse seus direitos políticos preservados, “sem combinar” com o Palácio do Planalto. Respondeu também aos aliados como o PSDB e o DEM que, diante destes votos peemedebistas, ameaçaram deixar o governo. Demonstrando irritação, Temer chamou esta defecção de votos de “pequeno embaraço na base governamental”, mas reconheceu ser uma “divisão inadmissível”, repudiando a avaliação de que houve uma “derrota” do governo.

Para Temer, “se é governo, tem de ser governo, e se não concorda com a posição do governo, vem pra cá e conversa conosco, para nós termos uma ação conjunta”. E advertiu: “Não será tolerada essa espécie de conduta.

Quem não quer que o governo dê certo, declare-se contra o governo e saia”.

O presidente salientou que, se houvesse uma combinação “talvez até pudéssemos ter dito, olha, nós vamos fazer um gesto de boa-vontade, vamos abrir mão disso, vamos permitir que sua excelência tenha de não ser inabilitada, mas aí seria um gesto nosso, não pode ser uma espécie de derrota do governo”.

Em seguida, Temer se corrigiu: “não foi derrota do governo, embora os discursos estejam sendo feitos nessa direção”.

Temer fez questão de destacar que a inabilitação de Dilma está “prevista literalmente pelo texto constitucional”.

O peemedebista respondeu a declarações de integrantes do PSDB, que, ao ver o PMDB dar votos a favor de Dilma, ameaçaram deixar a base do governo.

“Já há partidos dizendo que vão sair do governo. Ora, isso é fazer jogo contra o governo. Não dá para fazer isso”, lamentou, e avisou que “não será tolerada esta espécie de conduta”.

Além de rebater todas as críticas a seu governo e responder às acusações de golpismo, Temer avisou que vai exigir a mesma postura de todos os seus ministros e aliados. “Quem dá golpe é aquele que propõe a ruptura constitucional, e nós não propusemos a ruptura constitucional”, afirmou. “Agora que as coisas se definiram, é preciso muita firmeza. e a firmeza, muitas vezes, vem pela elegância da conduta, não vem pelo xingamento, nem pela agressão”.

Temer prosseguiu reagindo às acusações. “Que golpe? Um golpe que durou 108 dias de processo de impedimento, com defesa, com 40 testemunhas de um lado, 40 testemunhas de outro, com o Judiciário presidindo, com a presença do Supremo Tribunal Federal”, justificou. E completou: “Agora, falou, nós respondemos, não pode deixar uma palavra, porque senão eles tentarão desvalorizar, especialmente agora”.

O presidente pediu aos ministros também que defendam a viagem que faria para a China.

“Se indagados a respeito da viagem, divulguem que nós estamos viajando precisamente para revelar aos olhos do mundo que nós temos estabilidade política e segurança jurídica. Isto é importante. E não estamos viajando a passeio.”

Recado

“A partir de agora, nós não vamos levar ofensa para casa. Agora nós respondemos (...) Quem tolerar (tese de golpismo), eu confesso, vamos trocar uma ideia sobre isso, pois não é possível tolerar porque isso aqui não é brincadeira nem ação de amigos nem ação contra amigos (...) Ninguém vai fazer caça às bruxas, mas também não vamos deixar que tentem demonstrar que o governo não é capaz de responder (...) Quem não quer que o governo dê certo, declare-se contra o governo e saia.”

Michel Temer

PRESIDENTE DA REPÚBLICA

PERFIL

Idade

Michel Temer, de 75 anos (completa 76 em 23/9), é a pessoa mais velha a chegar ao cargo de presidente da República.

Política

Temer começou na vida política atuando no movimento estudantil na Faculdade de Direito da USP, no Largo São Francisco, nos anos 1960.

Votos

Temer teve seu melhor desempenho eleitoral como deputado federal em 2002, obtendo 252.229 votos, sendo o sexto mais votado de São Paulo.

Disputa

Em 2006, quando se candidatou pela última vez a deputado, Temer recebeu 99.06 votos, ficando na 54ª colocação.