Desfecho do processo alimentará ódios e teorias conspiratórias

Alberto Bombig

01/09/2016

 

 

A mais longa crise política brasileira desde a redemocratização encerrou ontem seu mais exaustivo capítulo, o do impeachment da presidente Dilma Rousseff, da maneira como ele começou: com nervos exaltados, trocas de acusações e suspeitas de acordos espúrios.

Dos dois lados da disputa, muitos feridos ficaram pelo caminho, abatidos por escândalos ou pela força da lei. Outros permanecerão sangrando em decorrência dos petardos verbais da guerra retórica sobre a legitimidade ou não do impeachment.

Mesmo a cassação de Dilma tendo sido aprovada por 61 votos dentre os 81 possíveis, vantagem expressiva porque eram necessários apenas 54 votos, os debates vão prosseguir e continuarão tensos.

O cansativo processo no Congresso legitima a cassação do mandato de Dilma do ponto de vista jurídico e político. Isso é óbvio.

Mas não esgota a questão sobre a origem do impeachment numa Câmara dos Deputados sob o comando de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) em dezembro de 2015.

Naquela ocasião, o PT acusava Cunha de chantagear Dilma, e os aliados de Cunha acusavam o PT de buscar um acordo com ele para salvar Dilma da aceitação do pedido de impeachment.

Agora, a suspeita de um novo e mais amplo acordão, deixada pelo Senado após a votação que manteve direitos de Dilma Rousseff, servirá para fomentar novas teorias conspiratórias e turbinar as disponíveis desde sempre na praça. Os políticos continuarão a ser vistos como pouco ou nada confiáveis e assim por diante.

Ao acusar o novo governo de “corrupto” ontem, Dilma contribuiu para mais enfrentamentos.

Temer era vice dela, Edison Lobão e Eliseu Padilha foram ministros da gestão dela e Renan Calheiros, seu grande esteio no Congresso. Ainda assim, Dilma preferiu inflamar seus apoiadores a fazer uma autocrítica ou mesmo uma confissão. Afinal, ela os acusa de corruptos porque viu roubalheira no governo dela ou apenas imagina o que eles farão daqui para a frente? Por tudo isso, nossa política terá a partir de agora a sua “Taça das Bolinhas”, a sua “Copa União”, para motivar eternas discussões em mesas de bar e redes sociais. A Copa União foi um módulo do Campeonato Brasileiro de 1987, que terminou com dois campeões, o Flamengo e o Sport. Em março deste ano, o STF reconheceu o clube pernambucano como o legítimo e único dono do título. Essa decisão tira do Flamengo o direito sobre o troféu Taça das Bolinhas, mas vá dizer isso para os flamenguistas.