PIB recua 0,6%, mas investimento reage

Daniela Amorim, Mariana Durão, Mariana Sallowicz, Nathália Larghi, Gustavo Porto e Maria Regina Silva

01/09/2016

 

 

ATIVIDADE EM QUEDA - Queda no segundo trimestre, a sexta consecutiva, foi puxada pelo setor de serviços, que responde por cerca de 70% da atividade econômica brasileira; para analistas, crescimento da indústria e dos investimentos pode sinalizar o início da mudança de rumo.

No dia em que o Senado bateu o martelo sobre o impeachment de Dilma Rousseff, o Instituto Brasileiro Geografia e Estatística (IBGE) divulgou os últimos dados da atividade econômica no País ainda sob o comando da presidente petista. No segundo trimestre, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro recuou 0,6% em relação ao primeiro trimestre. Foi a sexta retração consecutiva. A boa notícia é que houve ligeira recuperação na indústria e nos investimentos, mas isso ainda não foi suficiente para compensar o recuo no setor de serviços e tirar a economia do vermelho.

“O interessante é ver onde a recuperação está mais positiva, que é na indústria e nos investimentos. Além da expectativa pela mudança no governo, houve recomposição de estoques, substituições de importações, além de aumento nas exportações. Mas o consumo, os serviços e o mercado de trabalho seguem fracos e a retomada será lenta”, disse Gustavo Loyola, sócio da Tendências Consultoria Integrada.

A reviravolta na trajetória da indústria e da Formação Bruta de Capital Fixo - medida dos investimentos no PIB - pode sinalizar o início de uma mudança de rumos na economia brasileira, acreditam alguns analistas. Os investimentos avançaram 0,4% na passagem do primeiro para o segundo trimestre do ano, após dez trimestres de retração. Houve impacto da ligeira melhora na construção, da alta na importação de máquinas e equipamentos e da maior produção interna de bens de capital, que também ajudou no crescimento de 0,3% registrado pela indústria nacional, o melhor desempenho do setor industrial desde o primeiro trimestre de 2014.

A construção esboçou reação por conta, sobretudo, da finalização das obras para a Olimpíada no Rio de Janeiro. Ao mesmo tempo, a melhora no humor dos empresários propiciou a modernização do maquinário em prol da produtividade e competitividade. Mas não há retomada, e sim um “estancamento da crise”, avaliou Rafael Cagnin, economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial.

“As empresas vêm procrastinando os projetos de investimentos e chega uma hora em que são obrigadas a desengavetá-los para proteger a sua competitividade. Modernizar alguma unidade produtiva pode significar redução de custos e dá algum alívio financeiro às empresas”, explicou Cagnin.

Serviços. Por ora, a mudança na trajetória da indústria e dos investimentos não compensa a queda no setor de serviços, que respondem por 70% de toda a economia e recuaram 0,8% entre o primeiro e o segundo trimestre, também a sexta queda consecutiva. A deterioração no mercado de trabalho e a inflação elevada inibem o consumo das famílias, enquanto a crise fiscal nos estados e municípios limitam os gastos públicos.

Apesar da piora, economistas ouvidos pelo Projeções Broadcast suavizaram as expectativas de queda no PIB fechado de 2016: a previsão passou de -3,50% em junho para -3,13% após o resultado de ontem. A aposta é que o PIB industrial e os investimentos continuem se recuperando, enquanto os serviços e o consumo das famílias sigam desfavoráveis. Analistas divergem se o PIB do terceiro trimestre ficará perto da estabilidade ou negativo, mas concordam que a retomada do crescimento deve ocorrer apenas no quarto trimestre do ano.