Título: Inflação terá repique
Autor: Nunes, Vicente; Batista, Vera
Fonte: Correio Braziliense, 14/11/2011, Economia, p. 7

A decisão do Banco Central de incentivar o crédito neste fim de ano foi tomada mesmo com os indícios de alta da inflação em novembro, por causa dos alimentos, e no início de 2012, devido às mensalidades escolares, à alta de 14% do salário mínimo e ao álcool, em período de entressafra. Na avaliação do governo, esse é o risco a correr para evitar uma retração mais forte da economia. "Pode ser que a inflação dê algum repique, mas será um movimento passageiro. Com a atividade interna mais fraca e o recuo dos preços das commodities (produtos básicos com cotação internacional) diante do agravamento da crise na Europa, o alívio na inflação acabará se confirmando", afirmou um técnico do Ministério da Fazenda.

Para ele, ao contrário do que pregou boa parte do mercado, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deste ano ficará abaixo do teto da meta, de 6,5%. Em 2012, o indicador tenderá a se situar entre 5% e 5,5%, patamar confortável para que o Banco Central continue reduzindo a taxa básica de juros (Selic). "Tudo está correndo como prevíamos em relação à inflação. Mas temos que admitir a desaceleração mais forte da economia, o que reverterá rapidamente, a começar pelo incentivo ao crédito", acrescentou um funcionário do BC.

Na opinião de Álvaro Bandeira, diretor da Ativa Corretora, o Brasil está longe de uma recessão, a despeito da possível queda do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre do ano. A seu ver, o país encerrará este ano com avanço próximo de 3%, o que deve ser visto como um bom resultado, diante da gravidade da crise mundial. Segundo o economista César Bergo, da Planner Corretora, o ritmo mais fraco da economia brasileira era esperado, por causa das medidas macroprudenciais adotadas pelo governo no fim do ano passado e no início deste, para controlar a inflação. Agora, ressaltou, com o fim de parte dessas amarras, conforme anunciou o BC na última sexta-feira, e a continuidade da queda dos juros, a atividade tem tudo para melhorar. (VN e VB)

BC ouve o mercado

O Banco Central marcou para as próximas quinta e sexta-feiras uma série de conversas com economistas do mercado financeiro. O objetivo é saber como eles estão vendo a inflação e o ritmo de atividade da economia. A sintonia entre o BC e o mercado não anda muito boa. Os analistas não pouparam críticas à instituição, quando o Comitê de Política Monetária (Copom) começou a reduzir a taxa básica de juros em agosto último. Desde então, a Selic caiu um ponto percentual, para 11,50% ao ano. De uma semana para cá, parte dos investidores passou a indicar que o BC está atrasado no processo de baixa do juros, por causa da fragilidade da economia.