A Petrobrás em restauração

09/09/2016

 

 

Destroçada durante anos de pilhagem, maus investimentos, endividamento irresponsável e gestão desastrosa, a Petrobrás continua em reforma e recuperação.

A empresa acaba de anunciar um acordo de venda de parte de seus gasodutos, por cerca de R$ 19 bilhões, a um grupo liderado pelo fundo canadense Brookfield. A operação só será concluída depois de aprovada pelo conselho de administração, no fim do mês. Essa venda é parte de um plano de desinvestimento desenhado para aliviar os problemas financeiros da empresa e restabelecer sua capacidade de ação. A ideia é desinvestir, abandonando uma parte selecionada de ativos, para voltar a investir com maior eficiência em seus negócios principais. O objetivo é conseguir até o fim do ano US$ 15,1 bilhões com essas vendas.

Mas o trabalho de recuperação da maior empresa do Brasil é muito mais amplo e envolve reformas tanto legais quanto estratégicas.

Converter a Petrobrás na companhia mais endividada do mundo foi uma das façanhas dos governos petistas. Em 2010, recém-capitalizada, a empresa devia menos de uma vez sua geração de caixa. Em quatro anos essa proporção foi multiplicada por quatro. A orientação imposta pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e mantida, no essencial, no período da presidente Dilma Rousseff, levou a estatal a uma série de investimentos muito dispendiosos e de pouco ou nenhum retorno em prazo razoável.

Um dos exemplos mais escandalosos é o da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, negócio concebido como parte da aliança com o governo venezuelano. A lista é rica e nela se inclui o Comperj, polo petroquímico do Rio de Janeiro, onde se consumiram US$ 13 bilhões sem retorno.

Pilhagem conduzida por um bando nomeado politicamente, controle populista de preços de combustíveis, maus investimentos e custos exacerbados por erros de concepção – como a exigência de conteúdo nacional nas compras de insumos e de serviços – arrasaram as finanças da empresa.

As contas de 2015 foram fechadas com prejuízo recorde de R$ 34,84 bilhões. As do primeiro trimestre de 2016 mostraram perda de R$ 1,25 bilhão.

As do segundo indicaram, afinal, o pequeno lucro de R$ 370 milhões. As demonstrações financeiras desses períodos incluíram importantes baixas nos valores de ativos e o reconhecimento de graves problemas de administração, além dos efeitos da ampla corrupção exposta à opinião pública pela Operação Lava Jato.

Endividada, furtada e entravada por erros de gestão e de concepção de negócios, a Petrobrás tornou-se incapaz de continuar avançando na pesquisa e na exploração de petróleo e na ampliação de seus demais empreendimentos.

Seria preciso alienar ativos de importância secundária para arrecadar dinheiro, melhorar suas finanças e concentrar a capacidade nas atividades principais.

A venda de parte da malha de gasodutos da Nova Transportadora do Sudeste, por R$ 19 bilhões, deve garantir uma boa fatia – cerca de US$ 5,8 bilhões – do dinheiro previsto. A transferência de participação na Gaspetro e de outros ativos proporcionou cerca de US$ 4,6 bilhões. Há negociações para a venda de empresas do complexo petroquímico de Pernambuco e de campos de petróleo maduros em seis Estados. Os planos incluem a transferência, prevista para 2017, de participações na BR Distribuidora.

A recuperação inclui mudanças de concepção. Se ficar livre da obrigação de atuar como operadora e de participar com 30% de todo projeto de exploração, a empresa terá maior agilidade para investir e para desenvolver- se. Um projeto com essa alteração passou pelo Senado e tramita na Câmara. A política de conteúdo nacional no material e nos serviços já está mais flexível. Se essa exigência acabar, a empresa poderá concentrar- se no próprio negócio.

Ao converter a Petrobrás em instrumento de política industrial, desviando-a de seu propósito, o governo petista elevou seus custos, diminuiu sua eficiência e abriu uma porteira à corrupção.