Título: Nome com bom trânsito
Autor: Lyra, Paulo de Tarso; Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 28/10/2011, Política, p. 2

Bem relacionado entre os partidos do governo e também da oposição, Aldo Rebelo foi o único nome que o PCdoB defendeu com toda a garra perante a presidente Dilma Rousseff na quarta-feira, quando foi decidida a saída de Orlando Silva. A intenção era não dar brecha para a escolha dos dois outros nomes levados a Dilma, o do presidente da Embratur, Flávio Dino, e o da deputada Luciana Santos, que Dilma queria ver ministra na primeira leva, anunciada em dezembro do ano passado.

A defesa de Aldo foi feita porque, na avaliação dos comunistas, o alagoano paulista era o único a reunir todas as credenciais para estancar a crise que começava a levar o nome da legenda para fora do Ministério do Esporte.

Primeiro, Aldo tem pontes sólidas com a oposição bem antes de ter sido presidente da Câmara, em 2005. Ele conta com uma boa relação com o DEM do deputado ACM Neto, um dos mais ácidos críticos de Orlando Silva no início da semana, quando o ex-ministro ainda tentava se manter no cargo. Além disso, Aldo é amigo de longa data do ex-governador de São Paulo José Serra (PSDB), seu companheiro nas tardes de domingo no Parque Antártica, onde várias vezes já assistiram juntos aos jogos do Palmeiras.

Esses laços foram considerados cruciais para ajudar o PCdoB a tentar cavar uma trégua junto aos oposicionistas, dando a Aldo tempo para reorganizar o ministério e, assim, tirar o partido da beira do abismo. Uma solução que Flávio Dino ou Luciana, ambos mais jovens, teriam mais dificuldades em conseguir. Luciana está no primeiro mandato de deputada federal e Dino já chegaria provocando briga com o PMDB de José Sarney. O presidente da Embratur é um dos principais adversários da governadora do Maranhão, Roseana Sarney, filha do presidente do Senado. Além disso, Dino aparece como pré-candidato a prefeito de São Luís, e, assim, não poderia assumir o Ministério do Esporte para sair em janeiro.

Simpatia Aldo, alagoano como Renan Calheiros, não tinha plano de concorrer a nenhum cargo eletivo no ano que vem. E, para completar, conta com a simpatia do PMDB e é um dos mais próximos do prefeito de Olinda, Renildo Calheiros, irmão de Renan. O PCdoB, aliás, ajudou Renan nos bastidores quando da crise que atingiu o então presidente da Câmara, em 2007.

Feita a avaliação, faltava apenas obter o sim de Dilma Rousseff. O partido levou a ela todas as ponderações positivas a respeito do nome de Aldo. A presidente concordou com todas e encerrou a conversa com presidente do PCdoB, Renato Rabelo, na quarta-feira à noite inclinada a aceitar a indicação de Aldo. Na conversa, ela lembrou que o novo ministro "mal ou bem" fez o Código Florestal caminhar quando foi relator.

A presidente fez questão ainda de afastar qualquer constrangimento pelo fato de o Código Florestal não ter saído da Câmara do jeito que o governo queria. Afinal, disse Dilma, o projeto nem sempre é o que relator deseja. Ela destacou ainda o que o jeito conciliador de Aldo tinha tudo para ajudar a estancar a crise. Foi então que, certos de que nem tudo estava perdido, os integrantes do PCdoB foram até a casa de Orlando Silva para se despedir do ministro e aproveitar para dar um abraço em dona Vanda, que aniversariava justamente no dia em que o filho deixou o governo. O alívio final, entretanto, só veio ontem pela manhã, quando Dilma se reuniu com Aldo no Alvorada, oficializou o convite e anunciou a escolha. Agora, os deputados do PCdoB esperam ter motivos para voltar a sorrir.