Título: UNE, Câmara, mensalão...
Autor: Lyra, Paulo de Tarso; Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 28/10/2011, Política, p. 2

Para quem assumiu a Presidência da Câmara logo depois das denúncias de cobrança de propina que derrubaram Severino Cavalcanti (PP-PE), no ápice da crise do mensalão, assumir o Esporte diante do cenário atual não será o primeiro desafio. Aos 55 anos, com seis mandatos de deputado federal, o alagoano Aldo Rebelo (PCdoB-SP) é considerado no partido "pau para toda obra". De presidente da CPI da Nike a relator do código florestal, fez um pouco de tudo no Parlamento e fora dele. A partir de segunda-feira, será o primeiro ministro dessa área que invariavelmente despacha com um cigarro aceso. De palha. Desde que dirigiu a União Nacional dos Estudantes (UNE), em 1980, até hoje, entretanto, fumou mais quando chefiava a Câmara, a função mais difícil que já exerceu.

Aldo, nos tempos de presidente da União Nacional dos Estudantes: militância

Aldo pilotou a Casa em plena crise do mensalão, período conturbado com uma profusão de comissões parlamentares de inquérito (CPIs) e ainda plenários cheios de embates, como o que ocorreu entre Roberto Jefferson e José Dirceu. Assumiu com a missão de tirar o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva do epicentro da crise e afastar pedidos de cassação. Ali, enquanto alguns torciam para que ele deixasse o caso se arrastar e não colocar as cassações em pauta no plenário, ele optou por enfrentar homens como o próprio Dirceu e proteger Lula. "Era preciso resolver e a única maneira de resolver era votando", contou ele, certa vez ao Correio.

E, por isso, ele virou hoje ministro do Esporte. Aldo é visto como alguém que resolve. Não enrola ou "tergiversa", como prefere dizer a presidente Dilma Rousseff. Foi o primeiro líder do governo Lula em 2003, o que lhe deixou bem próximo de Eduardo Campos, então líder do PSB, e de Eunício Oliveira, do PMDB. Dali, foi guindado à condição de ministro de Relações Institucionais, para ajudar José Dirceu a ficar mais livre. Ocupou o cargo até julho de 2005, quando o PT forçou a porta para ter, naquele cargo, um dos seus. Aldo voltou à Câmara e, dois meses depois, se elegeu presidente da Casa.

Desde que largou a presidência da Câmara, tentava retornar à ribalta. Conseguiu ao relatar o Código Florestal, visto por muitos como um dos pontos que o afastou de Dilma. Aldo, entretanto, conseguiu colocar a proposta em votação. O problema mais grave foi a emenda do PMDB, sobre as áreas de preservação devastadas. Mal ou bem, dizia-se ontem no Planalto, como relator, resolveu. E conseguiu colocar o projeto no Senado.

De esporte, o novo ministro entende apenas de futebol. Presidiu a CPI da Nike, em 1999, e entrou em colisão com Ricardo Teixeira, o todo-poderoso da CBF. Até ontem, no final da tarde, Teixeira não havia dado um telefonema a Aldo e nem ele se importava. Afinal, existe tempo para reconstruir essa relação. O mesmo vale para o PT. Alguns integrantes do partido sempre tiveram uma certa inveja do comunista alagoano, jornalista, que fez política em São Paulo, berço petista. Em 2007, quando Aldo tentou reconquistar a Câmara, o PT foi de Arlindo Chinaglia em acordo com o PMDB. Depois, na recente disputa pelo Tribunal de Contas da União, os petistas ficaram com Ana Arraes, do PSB. Como em 2005, Aldo agora leva a melhor. Depois da presidência da Câmara, o Esporte será seu maior desafio. (DR)