Valor econômico, v. 17, n. 4122, 29/10/2016. Política, p. A4

Segundo turno confirma favoritismos

Por: Por Fernando Torres e Toni Sciarretta

Por Fernando Torres e Toni Sciarretta | De São Paulo

 

Favoritismo confirmado e reeleição. Essas foram duas características das eleições municipais nas capitais do país em 2016, com a ressalva de que não ocorreram de forma tão clara nas demais cidades onde houve segundo turno.

Das 18 capitais onde a disputa foi para o segundo turno, em apenas uma delas, Belo Horizonte, o candidato que passou em segundo lugar no primeiro turno venceu as eleições - foi o caso de Alexandre Kalil (PHS).

O número de viradas foi ainda menor do que antecipavam as pesquisas, que sugeriam que poderia haver entre três e cinco.

Nos casos de Curitiba, São Luís, Belém e Aracaju, em que as pesquisas apontavam empate técnico, o candidato que passou para a segunda etapa em primeiro lugar acabou confirmando a vitória.

Na eleição passada, houve virada em sete das 17 capitais em que a disputa teve dois turnos.

Já a reeleição foi outra marca relevante nas capitais - lembrando que neste ano a campanha foi mais curta e teve menos dinheiro, uma vez que as empresas foram proibidas de doar.

Na votação de ontem, dos oito prefeitos que estavam na disputa nas capitais do país, todos foram mantidos no cargo (ainda que não no mesmo partido do qual faziam parte em 2012).

Estes são os casos de Roberto Cláudio (PDT) em Fortaleza, Arthur Virgílio Neto (PSDB) em Manaus, Geraldo Júlio (PSB) em Recife, Zenaldo Coutinho (PSDB) em Belém, Rui Palmeira (PSDB) em Maceió, Edivaldo Holanda Júnior (PDT) em São Luís, Luciano Rezende (PPS) em Vitória, e Clécio Luís (Rede), em Macapá.

Quando se considera também o resultado do primeiro turno, entre os 18 prefeitos que tentaram a reeleição nas capitais, apenas Fernando Haddad (PT), de São Paulo, e Gustavo Fruet (PDT), de Curitiba, e João Alves Filho (DEM), de Aracaju, não venceram as eleições.

O primeiro, apesar da arrancada no fim da campanha, foi derrotado no dia 2 de outubro para João Doria (PSDB), num resultado que acabou surpreendendo, uma vez que a capital paulista sempre decidia suas disputas em duas etapas, desde que o segundo turno passou a ser adotado.

Já Fruet apenas assistiu à vitória de Rafael Greca (PMN) sobre Ney Leprevost (PSD) ontem, ocorrendo o mesmo com Alves Filho, que viu Edvaldo Nogueira (PCdoB) confirmar o favoritismo sobre Valadares Filho (PSB).

Saindo das capitais, nas outras 39 onde houve eleição ontem, as características de favoritismo do primeiro colocado e reeleição não se repetiram. Houve viradas em 13 dessas cidades, o que equivale a 33% do total.

Em 2012, além das sete viradas em 17 capitais, o segundo colocado levou a melhor em outras sete das 33 grandes cidades (excluindo as capitais) onde a disputa foi realizada em duas etapas.

Já quando se analisa o resultado dos que tentaram a reeleição, entre os 15 que tentavam ontem se manter no cargo, 7 venceram.

Algumas das derrotas entre os atuais prefeitos ocorreram no antigo cinturão vermelho do ABC, na Grande São Paulo, o que mostra que a perda de força do PT no Estado não se restringiu à capital. Donisete Braga (PT) e Carlos Grana (PT) perderam as prefeituras de Mauá em Santo André, respectivamente, para Átila Jacomussi (PSB) e Paulo Serra (PSDB). No caso de Santo André, cabe destacar a impressionante marca de 78,21% dos votos válidos para o vencedor, que havia conseguido apenas 35% no primeiro turno, o que denota a rejeição da população ao rival petista que tentava se reeleger.

Em São Bernardo, onde mora o ex-presidente Lula, o candidato do atual prefeito Luiz Marinho (PT), Tarcisio Secoli, não chegou nem ir para o segundo turno; na cidade, venceu Orlando Morando (PSDB). A exceção à onda de mudança de orientação política na região ficou para o prefeito de Diadema, Lauro Michels (PV), que foi reeleito. Em 2012, Michels venceu pela primeira vez na cidade depois de 30 anos de gestão do PT.

Ainda na Grande São Paulo, dois redutos do PT foram para o campo de oposição. Em Osasco, o atual prefeito Jorge Lapas, que deixou o PT para concorrer pelo PDT, perdeu para Rogério Lins (PTN). Em Guarulhos, o prefeito atual Sebastião Almeida (PT), que não concorreu, também não emplacou seu candidato Elói Pietá nem no segundo turno. Na cidade, assumirá a prefeitura Gustavo Costa, conhecido como Guti (PSB), que teve o maior percentual de votos no pleito de ontem, com 83,5% dos válidos, depois do rival Eli Correa Filho (DEM) ter perdido 35 mil eleitores entre o primeiro e segundo turno.

Nas capitais, a disputa mais apertada ocorreu em Florianópolis, onde Gean Loureiro (PMDB) venceu com apenas 50,3% dos votos válidos, uma diferença absoluta de pouco mais de 1 mil votos sobre a rival Angela Amin (PP). Embora as pesquisas mostrassem a ex-prefeita bem atrás nas intenções de voto, havia um momento que apontava para um crescimento na reta final. Durante a apuração, a candidata do PP apareceu em primeiro lugar com mais de 95% das apuradas, o que gerou suspense para o processo.

Já na outra ponta, a capital com resultado mais folgado foi Porto Velho, onde o tucano Dr. Hilton recebeu 65,2% dos votos válidos.