Por Marli Olmos | De Fortaleza
O médico Roberto Cláudio (PDT) foi reeleito prefeito de Fortaleza. Mas ele não é o único vencedor. O resultado confirma os irmãos Ciro e Cid Gomes, seus principais aliados, como lideranças preponderantes no Ceará. E, ainda, abre espaço para que uma corrente de centro-esquerda ganhe força para lançar a candidatura de Ciro Gomes para presidente da República em 2018.
A construção da ascensão política de Roberto Claudio Rodrigues Bezerra, de 41 anos, ocorreu em duas etapas. A mais difícil foi há quatro anos, quando o até então pouco conhecido deputado estadual, filho de um ex-reitor da Universidade Federal do Ceará conseguiu interromper a hegemonia do PT, com dois mandatos consecutivos na administração da capital cearense, a quinta maior do país.
Ontem, Cláudio venceu com 53,57% dos votos. O deputado estadual Capitão Wagner (PR) ficou com 46,43 %. A vantagem do prefeito não parecia tão clara nos últimos dias. No início da campanha, parecia que a reeleição estava fácil. Roberto Cláudio já era conhecido e sua administração no primeiro mandato contava com uma aprovação em torno de 50%, segundo pesquisas. Além disso, como na primeira vez, Ciro e Cid Gomes estavam ao seu lado.
Nos últimos dias, porém, o adversário parecia avançar, embalado, sobretudo, por uma proposta de tornar segura uma cidade com altos índices de criminalidade. Mas, além disso, Capitão Wagner tinha a seu lado forças rivais à família Gomes. Os dois senadores do Ceará, Eunício Oliveira (PMDB) e Tasso Jereissati (PSDB), padrinhos do oposicionista, apareceram na sua campanha com mais força no segundo turno.
Pouco antes de votar, ontem, Eunício, cotado para ser o próximo presidente do Senado, ainda tentou ajudar mais ao garantir que se Wagner fosse eleito a administração de Fortaleza teria muito mais facilidade de acesso ao presidente Michel Temer. Mas o apelo não surtiu efeito.
Ciro Gomes prepara-se para dificuldades. Ele diz que no governo federal "vão perseguir Roberto no que puderem". O Ceará tem muito problemas para resolver e que envolvem negociações com o Planalto. Como a seca. Um total de 175 municípios do Ceará estão em estado de emergência ou calamidade pública.
"Esses canalhas acabaram de adiar para 2018 a conclusão da obra de transposição do rio São Francisco. Isso significa que se não houver uma estação de chuvas minimamente regular haverá um colapso no abastecimento", afirma Ciro. O ex-ministro prevê que o atendimento de pedidos cearenses pelo governo federal só acontecerá na base da denúncia ou exigência.
Por enquanto, Ciro não deixa clara sua pretensão política. Diz que prevê dificuldades caso decida candidatar-se a presidente em 2018 e tampouco conta com eventuais alianças com o PT.
O resultado da eleição em Fortaleza também abre uma trilha para a candidatura de Cid Gomes ao Senado, embora ele diga que é cedo. E, embora seu candidato tenha sido derrotado na eleição municipal, Eunício é também cotado a lançar-se ao governo do Ceará. Nos meios políticos de Fortaleza há quem diga que até Tasso Jereissati poderia sentir-se atraído a disputar um cargo do Executivo.
O senador do PSDB refutou a ideia ontem. Disse que tem um mandato de senador a cumprir. Mas, segundo seus correligionários, é possível que ele ceda à tentação caso sinta que sua candidatura pode reverter tendências.
Cada uma a seu modo, e mesmo em lados opostos, as lideranças políticas do Ceará concordam, no entanto, que as eleições municipais deste ano servirão não apenas para redesenhar mapas partidários como também para que políticos assumam posturas a partir dos recados enviados pelo eleitor.
Tasso diz que o país está dividido entre "dois espectros ideológicos". "O lado que apoiou a Dilma [ex-presidente Dilma Rousseff], que não respeita a iniciativa privada, acha que o Estado é que faz tudo e deve estar presente em tudo. O outro lado entende que o Estado é importante para corrigir desequilíbrios, mas vê na iniciativa privada o grande motor do investimento".
No lado oposto, Ciro Gomes diz que o resultado eleitoral, principalmente nas cidades de São Paulo, Rio e Belo Horizonte, mostram "um retrocesso".
"Os eleitores foram seduzidos por uma tentativa manipulada por politiqueiros no exercício da chamada 'não política'". Para Ciro, nessas cidades, o comportamento do eleitor refletiu "uma exacerbação moralista por conta dos escândalos."
O ex-ministro é contra a ideia de uma frente de esquerda, formada pelo que chama de "vítimas do golpe". "Há um golpe flagrante, mas nós demos o queixo para bater. Para ele, só resta esperar que o presidente eleito em 2018 consiga "restaurar o direito democrático e a autoridade da Presidência da República".