Gilmar teme presença do crime organizado

 
30/09/2016
Carolina Oms
Andrea Jubé
 
 
O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Gilmar Mendes, afirmou que o quadro de violência nas eleições preocupa e pediu pressa nas investigações. "Estamos nos preocupando, sim, com esse quadro de violência", disse.

Ontem o ministro da Defesa, Raul Jungmann, afirmou que pelo menos 25 mil militares vão reforçar a segurança das eleições municipais no domingo. Ao lado do ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Sergio Etchegoyen, Jungmann anunciou as linhas gerais da Política e da Estratégia Nacional de Defesa e do Livro Branco das Forças Armadas, que serão enviados na próxima semana ao Congresso Nacional.

Sobre o efetivo que atuará nas eleições, o ministro explicou que esse contingente estará distribuído em 408 municípios de 14 Estados, ressalvando que o número pode crescer, havendo demanda da Justiça Eleitoral. O custo estimado da operação é de R$ 23 milhões, previstos no orçamento da Justiça Eleitoral.

Jungmann disse que episódios de violência, como o assassinato do candidato a prefeito de Itumbiara, em Goiás, nessa quarta-feira, preocupam o presidente Michel Temer e o governo como um todo, mas não são atribuições específicas da Defesa.

O ministro Gilmar Mendes também lamentou o ocorrido em Itumbiara, região sul de Goiás, quando o candidato à prefeitura José Gomes da Rocha (PTB) foi baleado enquanto participava de uma carreata. O candidato chegou a ser socorrido, mas não resistiu e morreu no hospital. Além dele, o atual governador em exercício de Goiás, José Eliton Júnior, também foi baleado e está hospitalizado.

"As investigações ainda estão sendo feitas, ainda não se tem claro qual foi a motivação, mas parece estar associado a contexto ou atuação política. Isso certamente será devidamente esclarecido. Mas realmente se trata de episódio chocante e deplorável", disse o ministro.

O ministro se mostrou preocupado com a participação do crime organizado nas eleições e lembrou que o governo federal e o TSE estão atendendo pedidos dos Estados para que as forças federais, como Forças Armadas e Força Nacional, estejam presentes durante o processo eleitoral. "Certamente, a Polícias e órgãos de inteligência têm que dar atenção a esses desdobramentos. [...] Última coisa que podemos desejar é a presença do crime organizado no sistema político", disse Gilmar.

O presidente do TSE enviou telefonou para o ministro da Justiça, Alexandre Moraes, para que a Polícia Federal acompanhe as investigações sobre os assassinatos de candidatos nas eleições deste ano.

Segundo Jungmann, esses fatos competem às polícias Civil e Militar dos Estados. Mas destacou que a Força Nacional de Segurança atuará para garantir a paz e a tranquilidade no dia das eleições, e o transporte seguro das urnas. "As Forças Armadas prestarão apoio como sempre fizeram e atenderão ao pedido da Justiça Eleitoral, assegurando as condições para a realização das eleições", disse Jungmann.

Segundo o Tribunal Superior Eleitoral, houve em agosto 20 registros de homicídios a candidatos ou pré-candidatos nessas eleições.

Jungmann divulgou as linhas gerais da nova Política e Estratégia Nacional de Defesa, que seguem para o Congresso na semana que vem, junto com o novo Livro Branco. A última edição do Livro Branco remonta a 2012, quando o então ministro Nelson Jobim estava à frente do Ministério da Defesa. O livro branco é o repositório de informações sobre o componente militar.

Segundo Jungmann, a palavra de ordem da nova estratégia de Defesa é "transparência". "Estes documentos pertencem à Nação, são abertos ao público, representam os rumos da defesa nacional pelo Executivo e vão à apreciação do Congresso", afirmou.

Jungmann ressaltou que a orientação crescente em países democráticos é buscar a "transparência", engajar a sociedade no debate via Congresso e gerar a confiança dos países vizinhos.

O ministro disse que o foco estratégico da política de defesa são os países da América do Sul, vizinhos do Brasil. E destacou que um dos setores estratégicos, num mundo digital, é o combate aos ataques cibernéticos.

 

Valor econômico, v. 17, n. 4102, 30/09/2016. Especial, p. A18