Presidente da OAB critica ‘espetáculo’

 

16/09/2016
Pedro Venceslau

 

O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Claudio Lamachia, criticou ontem a forma como o Ministério Público Federal apresentou anteontem a denúncia contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a mulher dele, Marisa Letícia, e mais seis pessoas no âmbito da Operação Lava Jato.

“O processo é formal e guarda ritos. Não pode ser objeto de um espetáculo. Isso me preocupa.

É preciso aprimorar esse procedimento”, disse o advogado em entrevista à Rádio Estadão.

Em uma apresentação pública feita anteontem, o procurador da República Deltan Dallagnol apresentou Lula como o “comandante máximo do esquema de corrupção identificado na Lava Jato”. Durante a divulgação da denúncia, Dallagnol utilizou o programa PowerPoint para exibir evidências contra o ex-presidente, o que virou motivo de piada nas redes sociais.

Segundo Lamachia, “há um prejuízo” para quem está sendo acusado quando a apresentação do processo não é conduzida de maneira formal. “Me preocupo quando temos algumas manifestações que tomam um contexto muito fora do que nós, advogados, estamos acostumados no processo judicial.” O dirigente disse ainda que os debates e a apresentação das provas devem acontecer de forma “mais serene e técnica”.

 

Dez medidas. O presidente da OAB também criticou parte do pacote de propostas contra a corrupção que o Ministério Público Federal apresentou ao Congresso. Segundo ele, a iniciativa restringe a possibilidade de habeas corpus e permite o uso de provas ilícitas. “Algumas medidas são inaceitáveis, como essa das provas ilícitas. Se procurarmos combater o crime cometendo outro crime, estaremos a um passo da barbárie.” Para ele, provas podem ser produzidas contra inocentes.

Questionado sobre a consistência das provas apresentadas pelo Ministério Público Federal contra Lula, o presidente da OAB afirmou que não cabe a ele fazer “juízo de valor”.

 

O Estado de São Paulo, n. 44894, 16/09/2016. Política, p. A5