Título: Chances para o Brasil
Autor: Batista, Vera
Fonte: Correio Braziliense, 28/10/2011, Economia, p. 11
No momento em que a Zona do Euro tenta emergir do atoleiro econômico provocado por dívidas soberanas impagáveis e bancos à beira da falência, empresas brasileiras ávidas por expandir seus negócios surgem como salvação para o Velho Continente em crise. Com o anúncio de medidas de austeridade pelos governos dos países do bloco, como privatizações na Itália, e sobretudo em Portugal, as oportunidades se abriram a ponto de levar o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) a demonstrar interesse em financiar investidores nacionais na compra de estatais europeias.
A sinalização do banco nessa direção foi anunciada publicamente pelo vice-presidente da instituição, João Carlos Ferraz. "O BNDES tem que apoiar as empresas brasileiras com bons projetos, inclusive no exterior", disse. "As privatizações na Europa são oportunidades e empresas precisam do instrumento financeiro para participar", defendeu ele, durante um evento em São Paulo. Segundo Ferraz, se for bom, o projeto "vale a pena" ser financiado. O dirigente lembrou que a instituição, inclusive, já dispõe de linhas dedicadas à internacionalização de grupos nacionais, mas nenhuma específica para a Europa.
Conexão Lisboa Contudo, antes mesmo da movimentação do BNDES, empresas brasileiras já estão indo às compras em Portugal. Os investimentos brasileiros ocorrem, principalmente, em áreas como aviação, construção civil, siderurgia e setor bancário. Lisboa foi, em 2010, o sexto destino dos investidores brasileiros no mundo. No ano passado, o país europeu recebeu cerca de US$ 1 bilhão em investimento do Brasil, ficando atrás de Ilhas Caimã, Estados Unidos, Holanda, Luxemburgo e Hong Kong, de acordo com informações do Banco Central.
Em 2009, os investimentos brasileiros em Portugal quintuplicaram em relação a 2008, com US$ 310 milhões. As grandes empresas brasileiras, como a fabricante de aviões Embraer, ou as empreiteiras Odebrecht e Camargo Corrêa, são os maiores investidores. Todavia, as pequenas também vêm buscando o mercado português, informou Maria Carolina Lousinha, representante do serviço econômico da embaixada de Portugal no Brasil.
Oportunidades não faltam. Portugal prepara uma série de privatizações. Estão na lista a companhia aérea TAP, a empresa de gestão de aeroportos e a de obras navais. Para Maria Carolina, o país ibérico será a porta de entrada do Brasil na União Europeia. Sinal de tamanho interesse foi a primeira visita, ontem, do premiê português, Pedro Passos Coelho, à presidente Dilma Rousseff. O objetivo foi preparar o terreno para os negócios.