Título: Mantega teme novo fracasso
Autor: Batista, Vera
Fonte: Correio Braziliense, 28/10/2011, Economia, p. 11

Ministro elogia esforço dos países da Zona do Euro em solucionar a dívida grega, mas vê prazo curto e desconfia da adesão dos bancos

Vera Batista

A saída encontrada para a dívida da Grécia, apesar dos esforços dos 27 países da Zona do Euro e da aparente aprovação dos bancos em assumir 50% do passivo do país, continua suscitando desconfianças em governos fora da Europa, como o Brasil. Para o ministro da Fazenda, Guido Mantega, o que mais preocupa é o prazo curto para uma solução que se quer definitiva. "Houve um avanço nas propostas, mas há dúvidas se os países têm mesmo um instrumental forte. Não sei se terão tempo para resolver o problema sem agravar ainda mais a situação", afirmou. Mantega deu sinais de que não crê na adesão voluntária dos bancos privados à imposição de assumirem metade do endividamento grego.

Todas as medidas anunciadas pelos organismos internacionais para pôr fim à crise entram em vigor em novembro ou em janeiro do ano que vem. "Isso me preocupa", disse o ministro. Entre os pontos frágeis do acordo costurado em Bruxelas, está a presumível incapacidade do sistema bancário europeu, diante da escassez de recursos em que se encontram, de absorver mais 100 bilhões de euros da dívida grega. Para fazer frente a essa necessidade, eles teriam que recorrer ao mercado. Mas, para quem vive dias de aperto fiscal forçado, com a corda no pescoço e dependendo de 106 bilhões de euros para a própria recapitalização, as dificuldades serão enormes.

Manobra Outra questão obscura, segundo Mantega, é a que se refere ao Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (Feef). "A possibilidade de o fundo alavancar em quatro vezes a dívida dos bancos, chegando a um bilhão de euros, também carece de detalhes", afirmou. Além disso, a parte das negociações que autoriza o Banco Central Europeu (BCE) a usar recursos de forma plena para combater a inflação nas economias avançadas também não foi bem explicada. "Não sei se o BCE vai ter um raio amplo de manobra", questionou. O ministro deu a entender que todas as estratégias para tirar a Europa da crise não apontaram soluções convincentes e de ordem prática.

O ministro chegou a brincar com as semelhanças e, ao mesmo tempo, diferenças entre o Brasil e a Europa. "Há uma grande coincidência que tenhamos 27 estados, assim como a "federação" europeia. Só que, aqui, é mais fácil resolver os problemas, porque temos só um parlamento. Eles têm 27", comparou.

Ceticismo O caminho encontrado pelos líderes europeus para pôr fim às incertezas sobre o pagamento da dívida grega não deverá acalmar o mercado, mas, sim, espantar investidores, previu o economista Nouriel Roubini. "Nas próximas semanas, haverá questões sobre a viabilidade do que foi decidido e cada vez mais os mercados se tornarão céticos em relação a se essa é a solução para a Zona do Euro", afirmou.