Título: Empregos ameaçam consumo
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Fonte: Correio Braziliense, 28/10/2011, Economia, p. 12

Ritmo menor na criação de vagas e, sobretudo, redução na renda do trabalhador devem comprometer as vendas de fim de ano

A desaceleração da economia do país atingiu em cheio o mercado de trabalho. Em setembro, mês que, historicamente, as ocupações têm alta — por causa das vagas temporárias de fim de ano —, a taxa de desemprego ficou estável pelo terceiro mês consecutivo. A Pesquisa Mensal de Emprego (PME), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aponta que o número ficou em 6%, o que representa 1,5 milhão de pessoas desocupadas. Além do menor ritmo de criação de vagas formais em todos os segmentos, os analistas destacam a queda do rendimento médio do brasileiro, fator que poderá interferir nas vendas de fim de ano.

"Isso significa que o mercado não está contratando. Se observarmos a série, esta época do ano é de queda do desemprego, o que não ocorreu", ressaltou o gerente do estudo, Cimar Azeredo. Em relação ao mesmo mês de 2010, quando registrou 6,2%, o quadro ainda é de estabilidade. Neste ano, o número de empregados cresceu 1,7%, acréscimo de 369 mil profissionais. "O emprego cresceu, mas não de forma significativa, para atender a demanda", completou Azeredo. Ainda assim, a taxa é a menor para o mês de setembro desde 2002.

O economista do banco ABC Brasil Felipe França observa que a expectativa dos especialistas era de que, no mês passado, o desemprego atingisse uma taxa de 5,8%. "A população economicamente ativa (PEA) continua crescendo e as vagas de emprego, não. Isso é um problema. Assim, é possível imaginar que o fim do ano não seja tão bom também. Ao mesmo tempo, era de se esperar esse freio, por causa das medidas de aperto monetário", explicou. Análise do Bradesco indica que, para os próximos meses, a previsão é de que a tendência de desaceleração no mercado de trabalho permaneça.

Remuneração A renda média do brasileiro também sofreu impacto negativo, uma péssima notícia para o comércio, sobretudo nesta época do ano. Com queda de 1,8% entre agosto e setembro, a remuneração ficou em R$ 1.607,60 — que ficou no mesmo na comparação dos últimos 12 meses. "A previsão é de que as vendas de fim de ano sejam afetadas. Se as pessoas ganham menos, gastam menos. É natural", observou Azeredo.

As entidades do varejo não estão otimistas. Projeções da Divisão Econômica da Confederação Nacional do Comércio (CNC) apontam para este ano uma taxa de desemprego média de 6%, contra 6,7% em 2010, além de crescimento de 2% da população ocupada, ante 2,9% no ano passado, e elevação da renda real de 3,1% — há um ano, a evolução foi de 5,9%.

Na contramão do que mostram os números oficiais, após dois meses em queda, o índice que mede a confiança do consumidor (ICC), da Fundação Getulio Vargas (FGV), teve leve alta, de 0,4% entre setembro e outubro, passando de 114,7 para 115,2 pontos. O item que avalia as expectativas nos seis meses seguintes em relação à situação financeira da família foi o que puxou a melhora do ICC neste mês. Esse indicador subiu de 125,2 pontos para 130 pontos. O percentual de consumidores que acreditam na elevação nas condições do orçamento cresceu de 28,7% para 35,8%.

Tendência Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego, também confirmam a tendência de desaceleração nas contratações. O estudo mostra que o país gerou 209.078 postos formais, pior número para o mês desde 2006. Devido à baixa do nível de ocupações, a expectativa do ministro do Trabalho, Carlos Lupi, de criação de 3 milhões de vagas até o fim do ano foi revista para 2,7 milhões.