Correio braziliense, n. 19452, 28/08/2016. Política, p. 2

A difícil missão de Dilma para evitar o adeus

O cenário está praticamente sacramentado pelo afastamento definitivo da petista, com o provável placar de 59 a 21 . Aliados tentam virar o voto de 11 senadores ainda "indecisos"

Por: João Valadares

 

Após três dias de julgamento, oito testemunhas ouvidas, longos embates técnicos entre defesa e acusação e muito bate-boca em plenário, o quadro em desfavor da presidente afastada, Dilma Rousseff, parece consolidado. O sentimento é de que cada senador, juiz do processo, já entrou no julgamento com a convicção política do seu voto. Argumentos técnicos não são levados em consideração por ambos os lados. Levantamento do Correio, atualizado ontem, indica que, dos 64 parlamentares que declararam como vão se posicionar, 46 vão pelo impeachment e 18 contrários. Os senadores Acir Gurgacz (PDT-RO) e Omar Aziz (PSD-AM), que votaram pela admissibilidade do processo de impeachment e também pela pronúncia, são os dois únicos que permanecem indecisos.

Há 14 senadores que preferiram não revelar o voto. Desses, apenas Elmano Ferrer (PTB-PI), Otto Alencar (PSD-BA) e Roberto Muniz (PP-BA) disseram “não” à pronúncia da presidente afastada, Dilma Rousseff. Desta maneira, se os posicionamentos forem mantidos, o placar final ficaria 59 a favor do impeachment e 21 contra. Para afastar a presidente de maneira definitiva, são necessários 54 votos.

No levantamento publicado pelo Correio na última terça-feira, os senadores Antônio Carlos Valadares (PSB-SE), Lúcia Vânia (PSB-GO) e José Maranhão (PMDB-PB) não haviam sido localizados. Agora, José Maranhão afirmou que votará pelo impeachment e os outros dois preferiram não revelar como se posicionariam.

Aliados da petista, mesmo reconhecendo reservadamente que a missão é extremamente difícil, ainda apostam na virada de pelo menos cinco ou seis votos. Todas as fichas são colocadas no discurso de defesa que a presidente fará amanhã no Senado e no poder de articulação da maior estrela do partido, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Na sexta-feira, ele esteve no Palácio da Alvorada para articular com a presidente afastada as últimas estratégias. Também recebeu alguns senadores. Um dos planos é identificar os conflitos políticos regionais para tentar atrair votos para o lado da presidente.

O grupo político da presidente afastada ainda tenta virar ou atrair o voto dos senadores Edison Lobão (PMDB-MA), João Alberto (PMDB-MA), Roberto Rocha (PSB-MA), Benedito de Lira (PP-AL), Ivo Cassol (PP-RO), Davi Alcolumbre (DEM-AP), Acir Gurgacz (PDT-RO), Omar Aziz (PSD-AM), Pedro Chaves (PSC-MS), Dário Berger (PMDB-SC) e Romário (PSB-RJ).

O plano é não colocar parlamentares petistas como interlocutores para tentar virar o posicionamento dos colegas. Desta maneira, os aliados de Dilma dividiram a tarefa de angariar votos com um grupo suprapartidário formado pelos senadores Roberto Requião (PMDB-PR), Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e as senadoras Kátia Abreu (PMDB-TO) e Lídice da Mata (PSB-BA).

O senador Pedro Chaves, que substituiu Delcídio do Amaral, cassado após ser flagrado bolando um plano para a fuga de Néstor Cerveró, ex-diretor da Área Internacional da Petrobras, é um dos mais assediados. Ele votou “sim” na sessão de pronúncia da presidente. O empresário tem vínculos familiares com o pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Lula, preso em regime domiciliar por envolvimento no esquema de corrupção da Petrobras. Uma filha do senador é casada com um dos filhos de Bumlai.

Entre os parlamentares que não declaravam o voto e resolveram abrir após a sessão que decidiu levar a presidente a julgamento final, destacam-se Eduardo Braga (PMDB-AM), Cristovam Buarque (PPS-DF), Jáder Barbalho (PMDB-PA) e Romário (PSB-RJ). Todos disseram que vão votar pelo afastamento definitivo de Dilma Rousseff.

O Palácio do Planalto trabalha com uma margem de votos favoráveis ao impeachment que varia entre 60 e 62. O presidente do Senado, Renan Calheiros, ainda não decidiu se vai votar. “O que os deixa irritados é que estamos chegando até o fim do processo e eles não conseguem descobrir como me posicionarei. E não direi. Não gosto de me explicar, prefiro que me interpretem”, destacou. O Planalto conta com o voto de Renan. O governo já prepara a posse de Temer na tarde do dia 31. À noite, ele viaja para a China em missão oficial.

 

Rito

Amanhã, Dilma terá 30 minutos, que podem ser prorrogados por tempo indeterminado a critério do presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, para fazer suas considerações. Logo após, a presidente afastada é inquirida. O primeiro a perguntar é Lewandowski. Em seguida, os senadores podem fazer perguntas à presidente.

Por fim, podem questioná-la a acusação e a defesa, nesta ordem. São concedidos cinco minutos para as perguntas e não há tempo determinado para as respostas, para que seja assegurado o direito de defesa. Com o fim das perguntas, começa o debate entre defesa e acusação.

 

Colaboraram Julia Chaib e Paulo de Tarso Lyra

 

Frase

“O que os deixa irritados é que estamos chegando até o fim do processo e eles não conseguem descobrir como me posicionarei. E não direi. Não gosto de me explicar, prefiro que me interpretem”

Renan Calheiros, presidente do Senado