As últimas horas de Cunha

 

04/07/2016
Julia Chaib
Paulo de Tarso Lyra
 


Com o destino praticamente selado na Câmara dos Deputados, que não deve salvá-lo da cassação, o presidente afastado da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) é alvo de forte pressão dos próprios aliados, que esperam que ele renuncie entre hoje e quarta-feira. O ato de abdicar do cargo é esperado para até quarta-feira. Amanhã, faz 60 dias que o peemedebista foi afastado do cargo por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). Pela manhã, em Brasília, o peemedebista deve intensificar as conversas com escudeiros.

Há uma pressão de todos os setores da Câmara por novas eleições para substituir Cunha, pela avaliação de que o presidente em exercício Waldir Maranhão (PP-MA) não é capaz de chefiar a Casa, que está travada. Se renunciar, novas eleições são convocadas em até cinco sessões ordinárias, que precisam de quórum mínimo de 54 deputados para contar. Além disso, parlamentares próximos a Cunha afirmaram que ele perdeu a confiança no presidente interino, o que torna a situação política muito instável. “Esse Maranhão é louco”, corroborou um aliado de Cunha, o líder do PTB, Jovair Arantes (GO).

Embora digam que não conversaram com Cunha, aliados do peemedebista esperam que ele renuncie até quarta-feira. O deputado Beto Mansur (PRB-SP), primeiro-secretário da Mesa na Câmara, reiterou que a situação do peemedebista ficou “insustentável”. Na última semana, Mansur defendeu publicamente a renúncia de Cunha. Ao Correio, ele disse esperar que o presidente afastado da Casa deixe o cargo nesta semana. Segundo Mansur, essa situação tem atrapalhado no andamento de matérias importantes na Câmara.

“Se ele tivesse a cabeça no lugar, ele teria renunciado há bastante tempo. Ele teria renunciado no dia seguinte ao impeachment. E teria condições de ajudar a eleger um sucessor. Ele perdeu todas as chances. Eu espero e acho que vai renunciar. É o melhor para ele e o melhor para a Casa.”

Um dos votos favoráveis ao peemedebista no Conselho de Ética, o deputado Laerte Bessa (PR-DF) engrossa o coro dos que esperam a renúncia. “Da última vez que conversei, há cerca de duas semanas, ele achava que não era a hora de ele renunciar. Disse que esperaria o momento apropriado. Nós, que votamos para ele no Conselho de Ética e que entendemos que ele não mentiu na CPI da Petrobras, avaliamos que este é o momento. Ele deve renunciar em favor do país.”

Bessa reforçou o discurso de que a Câmara está parada e que é necessário que se realizem novas eleições para a presidência, porque Waldir Maranhão não tem condições de comandar a Casa. O deputado diz que, desde a decisão sobre o processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff, ele pede a Cunha que renuncie e saia do foco. Bessa acredita que a decisão do Conselho de Ética é soberana e dificilmente o peemedebista se safará da cassação. “Ele já fez um bem maravilhoso, que foi tirar a Dilma e o PT do poder. Agora, ele poderia fazer mais outro, renunciando”, afirmou.

O deputado acredita que o peemedebista pode aproveitar a licença que foi concedida a Cunha pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para ir ao Congresso se defender e fazer o anúncio da renúncia. A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) pode se reunir nesta semana para analisar o recurso de Cunha que foi colocado ao colegiado, mas há a previsão de um pedido de vistas. “Desta semana, eu acho que não passa (a renúncia)”, afirmou Bessa.

Um dos mais ferrenhos defensores de Cunha no Conselho de Ética, o deputado Carlos Marun (PMDB-MS) afirma: “Eu entendo que a permanência de Cunha como presidente não ajuda em nada. Esse é meu pensamento. Ele deveria renunciar e cuidar da sua defesa”.

 

Frase

“Se ele tivesse a cabeça no lugar, ele teria renunciado há bastante tempo. Ele teria renunciado no dia seguinte ao impeachment. E teria condições de ajudar a eleger um sucessor”

Beto Mansur (PRB-SP), deputado federal

 

Correio braziliense, n. 19397, 04/07/2016. Política, p. 3