Título: Israel e Egito trocam prisioneiros
Autor:
Fonte: Correio Braziliense, 28/10/2011, Mundo, p. 17
Israel e Egito colocaram ontem em prática um acordo que permitiu a libertação do israelo-americano Ilan Grapel, acusado de espionagem no Egito, em troca de 25 egípcios que cumpriam pena em prisões israelenses. A troca foi realizada nove dias após Israel liberar 477 palestinos para ter de volta o soldado Gilad Shalit, mantido cinco anos em poder do grupo islâmico Hamas na Faixa de Gaza.
Apesar de uma petição apresentada à Suprema Corte israelense contra o acordo e da insatisfação manifestada por setores mais à direita no espectro político, o acordo foi mantido. Grapel, 27 anos, embarcou em um avião particular rumo a Telavive, onde foi recebido pelos pais e depois reuniu-se com o primeiro-ministro premiê Benjamin Netanyahu, antes de seguir para Nova York. O analista egípcio Hassan Nafaa acredita que Grapel foi solto "por pressão dos Estados Unidos", que enviam ao Egito um auxílio de bilhões de dólares para ajudar na transição iniciada com a queda de Hosni Mubarak, em fevereiro. "Esse acordo não beneficia ninguém", afirmou Nafaa.
Ilan Grapel ficou preso por mais de quatro meses, sob a acusação de ser um agente do serviço secreto israelense, o Mossad, mas sua família e Israel garantem que ele trabalhava como voluntário de uma instituição humanitária no Egito. Embora tenha retirado as queixas contra Grapel, o governo do Cairo apresenta uma versão diferente dos fatos, segundo a qual o israelo-americano teria sido flagrado recrutando informantes e instigando confrontos entre ativistas da oposição e a polícia, durante os protestos que derrubaram Mubarak. O governo de Netanyahu já iniciou tratativas para libertar outro israelense, Oudeh Suleiman Tarabin, preso no Egito há 11 anos.
As autoridades egípcias foram instruídas a monitorar com atenção máxima o retorno dos 25 prisioneiros, "por questões de segurança". Os libertados, três deles menores de idade, foram presos por tráfico de armas e drogas e por incursões ilegais em território israelense. Ao atravessar a fronteira e chegar à cidade de Taba, o grupo, majoritariamente formado por beduínos, se ajoelhou em oração e beijou o asfalto. Muitos dos beduínos do Sinai argumentam que fogem para Israel porque são negligenciados pelo Estado egípcio, que exclui os trabalhadores de empregos no motor econômico da região, os luxuosos resorts de Taba e Sharm El-Sheikh. No entanto, Musalam Barakat, um dos homens trocados por Grapel, disse que ficou preso por mais de seis anos e não pretende voltar a Israel, porque "há discriminação e nos sentimos estrangeiros o tempo todo".