Queda de juros em outubro

 
05/07/2016
Rodolfo Costa

 

O discurso do presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn, que se comprometeu trazer a inflação para próximo do centro da meta em 2017, animou o mercado financeiro. Com a perspectiva de menos carestia, os analistas ouvidos pelo Boletim Focus, do BC, esperam corte na taxa básica de juros (Selic) em outubro. A expectativa é de que a queda seja de 0,5%  ponto percentual até o fim do ano — maior do que o 0,25 p.p. de projeções anteriores —, levando a Selic para 13,25% ao ano. Para 2017, projeção foi mantida em 11% ao ano.

Alinhado com Goldfajn, o ex-diretor de Política Econômica do BC Altamir Lopes enfatizou na semana passada que a taxa básica no patamar atual é suficiente para trazer a inflação para próximo dos 4,7%. Na opinião do analista Hugo Monteiro, da BullMark Financial Group, a autoridade monetária deu o tom de que pretende priorizar a recuperação do poder de compra do real, gerando confiança entre os agentes econômicos.

Na Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa), os juros futuros refletiram essa expectativa. O DI para janeiro de 2017 caiu de 13,87% para 13,865% no encerramento do pregão regular, enquanto o DI para janeiro de 2018 recuou de 12,72% para 12,68%. E o DI para janeiro de 2021 caiu de 12,2% para 12,13%.

“Muitos pensavam que o presidente do BC assumiria um discurso pouco mais brando, de descer os juros por conta do nível de atividade econômica. Mas o diálogo foi o contrário, falando até um pouco da linguagem que o mercado gosta, de austeridade”, avaliou. Não à toa, após seis semanas consecutivas de alta nas projeções do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a mediana das do Focus caíram de 7,29% para 7,27% para este ano e de 5,50% para 5,43%, para 2017.

Outro fundamento que justifica queda nas projeções de inflação é o movimento de câmbio. Com o presidente do BC ditando os rumos de como deverá ser a política monetária, a expectativa é de mais investidores comprando o real, efeito que revaloriza a moeda brasileira.

Para 2016, a mediana das expectativas de analistas é de um câmbio a R$ 3,46. Na semana passada, essa projeção era de um dólar a R$ 3,60. Para 2017, a previsão é de que a moeda norte-americana fique a R$ 3,70, abaixo da estimativa anterior, de R$ 3,80. Além da menor pressão cambial, o discurso do BC retoma a confiança dos agentes econômicos. Diante de um cenário de melhores perspectivas para a economia, analistas acreditam que o efeito de inércia sobre o mercado de bens e serviços será menor.

 

Lua de mel

Ao que tudo indica, nem mesmo as benesses do presidente interino, Michel Temer, a políticos e categorias do serviço público minaram a lua de mel entre governo e mercado financeiro. Apesar do aumento de gastos para angariar apoio político, a mediana das expectativas para o Produto Interno Bruto (PIB) foi revisada de uma queda de 3,44% para um recuo de 3,35%. Para Monteiro, os analistas estão atentos à capacidade de articulação política do governo e acreditam que dessa forma Temer consiga apoio para a aprovação de reformas importantes no Congresso Nacional.

 

Correio braziliense, n. 19398, 05/07/2016. Economia, p. 8