Correio braziliense, n. 19448, 24/08/2016. Política, p. 4

A falta de sintonia entre PMDB e PSDB

Disputa entre o partido do presidente interino, Michel Temer, e os tucanos - segunda maior força de apoio ao Planalto - alerta os caciques e estrategistas das duas legendas

Por: Paulo de Tarso Lyra

 

PMDB e PSDB, os dois maiores partidos da coalizão que apoia o presidente em exercício, Michel Temer, travam um embate político para saber quem influencia os rumos do atual governo. O PMDB reclama que os tucanos querem impor a própria agenda e vetar quaisquer candidaturas ao Planalto que não venham das fileiras do PSDB. Já o tucanato diz que não aceitará exercer o mesmo papel coadjuvante tão reclamado pelos peemedebistas nos últimos anos. A briga pode impedir que a gestão Temer chegue a 2018 em condições de tirar o país da recessão econômica em que se encontra.

“Não queremos ter, com o governo Temer, a mesma relação de subordinação que o PMDB teve nos sucessivos governos do PT”, definiu o deputado Nílson Leitão (PSDB-MT). “Temos ideias, achamos que elas podem contribuir para o atual momento. Em alguns momentos, como no caso do projeto da dívida dos estados, setores do PMDB não ajudaram o governo”, afirmou o deputado, referindo-se à pressão para a manutenção dos reajustes dos servidores no texto, apesar do estabelecimento de um limite de gastos.

O PMDB teria, na visão do parlamentar do PSDB, agido de maneira semelhante ao PT em episódios recentes, quando desobedeceu a orientação palaciana e cedeu às pressões sociais. “O Brasil só vai sair da crise que está agora se o governo Temer, pós impeachment, tiver a coragem de fazer as reformas da Previdência, Trabalhista e Política”, cobrou Leitão.

O embate entre as duas legendas tornou-se mais explícito nos últimos dias, após Temer receber a cúpula tucana para um jantar no Palácio do Jaburu. De lá para cá, o presidente em exercício sedimentou o discurso em defesa de um rígido ajuste fiscal e abandonou a defesa de reajustes salariais do funcionalismo, incluindo o aumento nos vencimentos dos ministros do Supremo Tribunal Federal. “Todo mundo sabia que esse aumento seria dado após o impeachment. Agora, vem o PSDB querer posar de mocinho e vetar”? criticou um cacique peemedebista.

Existe, ainda, uma disputa explícita no Senado entre o líder do PMDB Eunício Oliveira (CE) e o líder do governo, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP). Eunício é o sucessor natural de Renan Calheiros, na eleição que acontecerá em fevereiro do ano que vem. Tomou as dores explícitas do partido e ainda reclamou, internamente, que, enquanto os tucanos estavam no Jaburu exigindo coisas de Temer, ele impediu que o Planalto fosse derrotado na votação da Desvinculação dos Recursos da União (DRU).

“Por que o PSDB acha que tem a primazia para governar o país? O PSDB fica pensando em 2018 e esquece que temos de viver 2017 ainda”, avisou um integrante da executiva do PMDB. Uma das vozes mais ponderadas no PMDB, o deputado Jarbas Vasconcelos (PE), acha que, pelo menos em relação ao reajuste do funcionalismo, a gritaria tucana está correta. “Você não pode conceder aumentos após aprovar um déficit de R$ 170 bilhões nas contas públicas. É um sinal, no mínimo, contraditório”.

Mas Jarbas também critica a postura das duas legendas. “Nós ainda estamos em agosto de 2016. Temer precisa chegar ao término do mandato em condições de governar o país”, alertou. Relator da emenda constitucional que propõe a limitação do teto de gastos públicos à inflação do ano anterior, o deputado Danilo Forte (PSB-CE) considera temerária a pressão política que vem sendo exercida sobre o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.

O Secretário executivo do Programa de Parceria de Investimento (PPI), Wellington Moreira Franco, reclamou que Meirelles estava sendo vítima de manipulação eleitoral por parte do PSDB. Mas acabou amenizando o discurso ríspido durante o jantar de Temer com os tucanos, na semana passada.  “Temer e Padilha (Eliseu Padilha, chefe da Casa Civil) têm noção dos riscos de se antecipar o debate sobre 2018. Mas nem todos, no Congresso e no governo, têm a mesma consciência”, lamentou Forte.

O líder do governo no Senado, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), negou que haja desavenças entre o PSDB e o PMDB. “Não existe isso, ninguém está tentando antecipar qualquer debate. Todos nós sabemos que estamos no mesmo barco, que somos responsáveis pelo êxito do governo de Michel Temer”, declarou Aloysio.

Ele acha uma besteira as críticas que vêm sendo feitas ao PSDB, afirmando que a legenda está vetando a candidatura A ou B de outros partidos ao Planalto. “Ninguém está fazendo isso até porque 2018 não está no horizonte de discussões”, afirmou ele. Pouco depois, um tucano lançou uma provocação, para ratificar que esse embate não é tão longínquo assim. “Cá entre nós, quem consegue imaginar Meirelles em uma campanha presidencial?”.