Correio braziliense, n. 19449, 28/08/2016. Política, p. 4
Propina bancou festas de administração do PSDB
Polícia Federal prende presidentes da legenda tucana em Goiás e de estatal de saneamento no estado, acusados de desviar R$ 4,5 milhões
Por: Eduardo Militão
Propinas pagas por empreiteiras fornecedoras da estatal de saneamento de Goiás (Saneago) pagaram despesas de partidos políticos, da campanha eleitoral ao governo em 2014, de organizações sociais e até festas no Palácio das Esmeraldas, comandado por Marconi Perillo (PSDB). Ontem, a Polícia Federal deflagrou a Operação Decantação, quando cumpriu ordens de busca e apreensão no PSDB local, e prendeu temporariamente o dirigente estadual do partido, Afrênio Gonçalves, e o presidente da Saneago, José Taveira Rocha, que trabalha com o governador pelo menos desde 1999.
Ao analisar uma amostra de R$ 80 milhões de R$ 1,2 bilhão em contratos com bancos públicos como BNDES e Caixa, auditores da antiga Controladoria-Geral da União (CGU) localizaram desvios de R$ 11 milhões, sendo R$ 4,5 milhões de prejuízo efetivo e R$ 7 milhões de perdas evitadas. Foram cumpridos 120 mandados judiciais em Goiás, São Paulo e Santa Catarina, incluindo 15 ordens de prisão preventiva e temporária (por cinco dias normalmente) e 21 conduções coercitivas. A Justiça determinou o afastamento da função de oito servidores e a proibição de comunicação entre nove envolvidos.
A PF e o MPF não responderam ao Correio sobre eventual envolvimento do governador Perillo no caso.
“Parte era destinada a financiar partido político, dívida de campanha, recursos para pagar organização social e até bancar coquetéis no palácio”, contou o procurador Mário Lúcio Avelar, em entrevista coletiva. Ele disse que houve má gestão, porque obras como o sistema de abastecimento de Luziânia (Corumbá IV) e de esgoto de Goiânia (Meia Ponte), foram contratadas em 2007, mas até hoje não foram concluídas. “Evidentemente, uma organização que adquire esse porte, que detém o controle de uma companhia de peso como a Saneago, não surge de um dia para o outro. Nós temos notícia de que escândalos se sucedem há anos.”
A assessoria do governo de Goiás disse que apoia as investigações, mas que as licitações são feitas legalmente e que “acredita na idoneidade dos diretores e superintendentes da Saneago”.
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Segundo a polícia, dirigentes e colaboradores da Saneamento de Goiás S/A (Saneago) faziam licitações fraudulentas mediante a contratação de uma empresa de consultoria envolvida no esquema. Dinheiro do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), de empréstimos obtidos no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e na Caixa Econômica Federal “foram desviados para pagamento de propinas e dívidas de campanhas políticas”. “Outra forma de atuação da organização criminosa consistia no favorecimento pela consultoria contratada a empresas que participavam do conluio e que eram responsáveis, posteriormente, por doações eleitorais.”
A PF entende que o presidente da Saneago, José Taveira Rocha, e a diretoria da estatal estavam envolvidos em “maquiagem” para obter financiamentos bancários.
Taveira já foi presidente do instituto de previdência do estado (Ipasgo) e secretário de Fazenda. Na última nomeação, para a presidência da Saneago, foi indicado por ser do grupo mais alinhado ao Palácio das Esmeraldas. Funcionário aposentado do antigo Banco do Estado de Goiás (BEG), ele foi responsável por liquidar a Caixa de Goiás (Caixego), no primeiro governo de Perillo, em 1999.
Os crimes investigados são de desvio de dinheiro (peculato), corrupção ativa e passiva, organização criminosa e fraudes em processos licitatórios. O nome Decantação é referência a um processo de tratamento de água, em que ocorre a separação da sujeira.
Em nota, o governo de Perillo afirmou que “tem a plena certeza de que os fatos apresentados serão plenamente esclarecidos”. “Os procedimentos licitatórios realizados pelos órgãos, autarquias e empresas da administração estadual são pautados pela legalidade e pela transparência.” A assessoria da Saneago disse que só comentaria o caso após a conclusão da operação.