Correio braziliense, n. 19449, 25/08/2016. Economia, p. 11

Inflação desacelera e tem alta de 0,45%

Alimentos foram responsáveis por 44% da carestia apurada em agosto pelo IPCA-15, mas pressão diminui. Feijão aumenta 4,74% ante 58,06% em julho

 

O custo de vida dos brasileiros diminuiu em agosto. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo - 15 (IPCA-15), indicador considerado uma prévia da inflação oficial, passou de 0,54% em julho para 0,45% neste mês. O resultado, divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), veio ainda abaixo da expectativa do mercado, que projetava uma taxa de 0,46%. Em agosto de 2015, o IPCA-15 foi de 0,43%.

Os preços dos alimentos subiram menos, mas ainda exerceram a maior pressão sobre a inflação. A alta no grupo Alimentação e bebidas saiu de 1,45% em julho para 0,78% em agosto. Ainda assim, os alimentos foram responsáveis por 44% da inflação deste mês, o equivalente a 0,20 ponto porcentual da taxa de 0,45%.

No acumulado do ano, de janeiro a agosto, a elevação do IPCA-15 é de 5,66%, bem abaixo dos 7,36% registrados em igual período do ano anterior. Já o acumulado dos últimos 12 meses ficou em 8,95%, próximo dos 8,93% registrados nos 12 meses anteriores.

O feijão-carioca, espécie mais consumida no país, desacelerou a alta de 58,06% em julho para 4,74% em agosto. Entre os itens que ficaram mais baratos em agosto estão a cebola (-22,81%), a batata-inglesa (-18%) e as hortaliças (-9,01%).

Quatro entre nove grupos que integram o IPCA-15 registraram taxas de variação menores na passagem de julho para agosto. Além do grupo Alimentação e Bebidas, os resultados deste mês foram menores em Vestuário (-0,13%), Habitação (-0,02%) e Transportes (0,10%). A alta mais acentuada foi em Educação, que passou de 0,10% em julho para 0,90% em agosto, sob pressão dos reajustes de cursos regulares (0,97%) e cursos diversos (1,13%).

A tarifa de energia elétrica recuou 1,87% em agosto, dentro do IPCA-15. O item ajudou a reduzir em 0,02% as despesas das famílias com habitação no mês. A conta de luz ficou mais barata graças aos cortes registrados nas regiões metropolitanas de Curitiba, com queda de 4,76%, São Paulo (-3,94%) e Porto Alegre (-0,34%). O desempenho da energia elétrica foi influenciado ainda pela redução nas alíquotas do PIS/Cofins em seis das 11 regiões pesquisadas. Em Belém, a alta de 1,12% na conta de luz reflete o reajuste de 7,50% na tarifa em vigor a partir de 7 de agosto.

Os maiores aumentos no grupo foram registrados nas regiões metropolitanas de Belo Horizonte (1,31%), Rio de Janeiro (1,15%) e Fortaleza (1,10%), enquanto que a alta menos acentuada foi na região metropolitana do Recife (0,32%). Os demais aumentos foram verificados em Artigos de residência (0,34%), Saúde e cuidados pessoais (0,87%), Despesas pessoais (0,85%) e Comunicação (0,01%).

 

Confiança atinge maior patamar em 19 meses

A confiança do consumidor do Brasil subiu pelo quarto mês seguido em agosto e atingiu o maior patamar em mais de 1 ano e meio, com a melhora do sentimento com a situação atual. Conforme a Fundação Getulio Vargas, o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) subiu 2,6 pontos em agosto em relação ao mês anterior, atingindo 79,3 pontos, maior leitura desde janeiro de 2015 (81,2 pontos). “A maior contribuição veio do aumento da satisfação com a situação atual, um sinal favorável, considerando que houve melhora na percepção tanto em relação ao mercado de trabalho quanto à situação financeira das famílias”, disse Viviane Seda Bittencourt, coordenadora da pesquisa.

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Dívidas sem fim

 

Brasileiros inadimplentes estão descrentes quanto ao reequilíbrio das finanças pessoais a curto prazo. Essa falta de perspectiva levou quase metade da pessoas que responderam a uma pesquisa da SPC Brasil (46%) a afirmar que não terá condições de quitar as dívidas em atraso, pelo menos, nos próximos três meses.  Segundo o estudo, apenas uma em cada cinco pessoas (20,6%) diz ter condições de pagar integralmente os compromissos nos próximos 90 dias.

Para seis em cada 10 entrevistados (61,2%), a situação financeira piorou em relação ao ano passado em razão do endividamento (24,4%), porque estão desempregados (16,4%), ou pelo fato de a renda ter diminuído (20,4%). Entre as principais contas em atraso estão serviços de água e luz (57,6%), cartão de loja (47,5%), telefone (41,9%) e cartão de crédito (40,4%).

Desempregado há mais de um ano, o vigilante Ailton Souza, 27 anos, teve o nome incluído na lista de maus pagadores depois de acumular mais de R$ 2 mil em dividas. “Minha intenção é voltar a ter as contas em dia, mas, sem emprego, não dá”, explicou. “Reconheço que, se houvesse um pouco mais de planejamento da minha parte, provavelmente não estaria nessas condições”, disse Neila Azevedo, 33. “Mas a situação econômica precisa melhorar para que o aumento de preços não pese tanto no nosso bolso”, desabafou.

Segundo a pesquisa, 71,4% das pessoas endividadas se tornaram inadimplentes pela primeira vez.