Valor econômico, v. 17, n. 4086, 08/09/2016. Brasil, p. A4

Serra nega que país esteja em cima do muro na escolha do novo secretário-geral da ONU

Por: Assis Moreira

 

O Brasil não definiu ainda qual candidato apoiará para secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), mas não está em cima do muro, afirmou o ministro das Relações Exteriores, José Serra.

Entre 11 candidatos, o português Antonio Guterres se consolida com um forte avanço nas três votações secretas feitas até agora entre os 15 membros do Conselho de Segurança das Nações Unidas. A expectativa é que um consenso possa se consolidar em outubro, para que o nome possa ser recomendado à Assembleia Geral da organização.

Perguntado sobre se o Brasil tende a apoiar a ministra de Relações Exteriores da Argentina, Susanna Malcorra, o ministro disse: ''Claro que temos simpatia pela argentina Susanna, mas vemos também a possibilidade de Portugal''.

Segundo Serra, o Brasil está ''na expectativa, porque está havendo prévia em relação a isso [na ONU], mas não há posição já definida''. O ministro refuta, porém, a definição de país em cima do muro, ''uma qualificação injusta, errada, que não tem nada a ver''.

Deixar de apoiar a candidata do país vizinho é complicado, assim como fica difícil não defender a candidatura de Guterres depois do esforço feito por Portugal na União Europeia (UE) pela eleição do brasileiro Roberto Azevêdo para a Organização Mundial do Comércio (OMC) há três anos.

Guterres, ex-primeiro-ministro socialista e ex-alto comissário da ONU para refugiados, continua com o maior apoio no Conselho de Segurança da organização. O problema tem sido basicamente a Rússia, com poder de veto. Moscou insiste que a vez é de um candidato do Leste Europeu. O segundo maior favorito no momento é o ministro das Relações Exteriores da Eslováquia, Miroslav Lajcák.

Em terceira posição, Irina Bokova, da Bulgária, atual diretora-geral da Unesco, é vista por muitos como pró-Rússia e sua candidatura gera controvérsias até na Bulgária. Um ex-dirigente do Parlamento enviou uma carta-denúncia a meio mundo, na cena internacional, contestando sua gestão na ONU e falando que a fortuna dela é mal explicada, incluindo a compra de apartamentos em Paris, Londres e Nova York por US$ 5 milhões.

Quanto ao atual secretário-geral, Ban Ki-moon, conseguiu causar a irritação do governo português. De passagem recentemente por Lisboa, insistiu que seria a vez de uma mulher no cargo, ignorando que Guterres continua na frente. Na ONU, muitas vezes é mais fácil passar um candidato fraco, porque não suscita veto de nenhum país, do que um candidato forte, que é vetado justamente por isso.