Valor econômico, v. 17, n. 4086, 08/09/2016. Brasil, p. A6

"Não fomos capazes de superar o atraso", diz FHC

Por: Agência O Globo

 

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse, em entrevista ao portal UOL, concordar com a ideia de que PT e PSDB perderam frescor e integram o que chamou há 20 anos de "velharia" da política brasileira. Ele foi confrontado com frase registrada em 1996 em seu livro de memórias, quando escreveu estar à frente de um país "onde a modernização se faz com a podridão, a velharia e o tradicionalismo o qual, na verdade, ainda pesa muitíssimo".

"PSDB e PT tinham um certo frescor, uma coisa de vanguarda. Hoje não lhe parece que também esses dois partidos, inclusive o vosso, integram a velharia?", perguntou o repórter do UOL ao ex-presidente. "Infelizmente, não fomos capazes de superar esses entraves enormes, que chamo de atraso. Não é direita e esquerda, é cultural. São pessoas que querem tirar proveito do Estado", disse o ex-presidente.

Fernando Henrique criticou o presidente do Senado, Renan Calheiros, e o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski por terem dividido em duas partes a votação do impeachment de Dilma Rousseff (PT), o que permitiu à ex-presidente ter os direitos políticos preservados. "Acho que a obrigação número um do senador é ser a favor da Constituição. Eu tenho muita dificuldade, mesmo quando escrevo, quando critico, com relação à presidente Dilma. Eu procuro ser uma pessoa que a considera. Mas isso é uma coisa no plano pessoal. Outra coisa é você como senador", disse FH. O ex-presidente disse considerar que a decisão de Lewandowski se situa no "absurdo":

Na entrevista, Fernando Henrique disse ainda ser "difícil colar" a versão do ex-presidente Luiz Inacio Lula da Silva, para o uso do sítio de Atibaia, de que recebeu benesses bancadas por empreiteiras investigadas na Lava-Jato, como Odebrecht e OAS.

O ex-presidente prevê uma reação de parte da opinião pública caso seu sucessor seja preso na Lava-Jato. "Se não houver um esclarecimento muito grande das razões pelas quais vai preso, haverá uma reação dos seus partidários e, provavelmente, de uma parte da opinião pública", afirmou.