Valor econômico, v. 17, n. 4086, 08/09/2016. Política, p. A7

PSDB é o partido que mais recebe apoios

Alianças municipais sugerem isolamento do PT e baixa identidade ideológica do PMDB e de partido médios

Por: Ricardo Mendonça

 

O quadro de coligações nos 92 municípios com mais de 200 mil eleitores -aqueles onde poderá haver segundo turno- sugere fortalecimento do PSDB e uma tendência de isolamento do PT. Nesse pequeno grupo de cidades, domicílio de quase 40% do eleitorado, ambos lançaram 56 candidatos, mas as alianças encabeçadas pelo PT são bem menores na comparação direta.

Levantamento feito pelo Valor com dados das 14 maiores siglas (as que têm dez ou mais deputados) mostra que candidatos tucanos recebem 189 apoios partidários. Os petistas têm 69. Entre um e outro estão o PMDB, 123 apoios, e o PSB, 97 .

Nos maiores municípios, coligações maiores costumam render mais tempo de propaganda na TV. Nos menores, a principal vantagem tende a ser um número maior de candidatos a vereador na chapa e, portanto, mais capilaridade e cabos eleitorais.

Nesses 92 municípios não há petista apoiando candidato do PSDB ou do DEM, nem tucano ou democrata apoiando postulante do PT. Mas o corte ideológico é exceção. O que predomina são alianças indiscriminadas, aquilo que alguns estudiosos costumam chamar de "geleia geral".

O comportamento do PMDB reflete isso. O maior partido do país recebe e oferece apoios sem distinção ideológica ou de orientação em relação à Presidência do peemedebista Michel Temer. Há alianças com siglas grandes, médias e pequenas; com as de direita e as de esquerda; com as da base governista e com oposicionistas.

A sigla de Temer tem 44 candidatos nesses municípios. Entre as 13 outras maiores legendas, todas apoiam candidatos do PMDB em pelo menos três localidades. E quase todas recebem apoio do PMDB em ao menos uma cidade.

Os partidos médios PDT, PSB e PSD agem de forma similar. Recebem e oferecem apoios a todos os demais. E agremiações menores, como PRB, PTB e PTN, aparecem em chapas encabeçadas por todos os "concorrentes".

Não faltam indícios de que o governismo local exerce mais influência na definição de alianças do que os programas partidários ou as estratégias no plano federal. O comportamento do PDT pode ser um exemplo. Em São Paulo, apoia a reeleição de Fernando Haddad (PT). No Rio, está na chapa de Pedro Paulo, o candidato do prefeito Eduardo Paes (ambos PMDB). No Recife, vai pela reeleição de Geraldo Julio (PSB).

Outro indício da baixa identidade ideológica são as supercoligações, algumas com mais de 20 partidos. O campeão é o pecuarista tucano André Merlo, ex-secretário de Agricultura de Minas, agora candidato a prefeito de Governador Valadares. A coligação que o sustenta reúne 24 partidos: PSDB, PRB, PP, PDT, PTB, PMDB, PSL, Rede, PSC, PPS, DEM, PSDC, PRTB, PR, PHS, PMN, PMB, PTC, PSB, PV, PPL, PSD, SD e Pros.

Logo atrás dele estão dois candidatos de cidades paulistas chefes de coligações com 23 legendas: Jonas Donizette (PSB), que tenta a reeleição em Campinas, e o empresário Rubens Furlan (PSDB), que disputa em Barueri.

Segundo o cientista político Bruno Bolognese, pesquisador da Universidade Federal do Paraná, a poligamia partidária generalizada é produto do que ele chama de "patológico grau de personalismo" na política brasileira, agravado pela proliferação desenfreada de legendas.

"Com 35 partidos registrados, ninguém consegue identificar nada. O rótulo e a imagem de partido não importam nem para candidatos, nem para eleitores", diz. "E quanto mais micro é o palco da disputa, mais personalista tende a ser a eleição", completa.

Nem tudo, porém, soa como desorganização no emaranhado de coligações costuradas nas maiores cidades. Além da inexistência de alianças PT-PSDB e PT-DEM, é possível notar ao menos outros dois elementos com algum sentido ideológico. O primeiro é a frequência da união PT-PCdoB, a mais repetida no grupo das 92 cidades, com 32 ocorrências. Tradicionais aliados, comunistas sustentam chapas encabeçadas por petistas em 23 cidades; recebem apoio em nove. O segundo é a frequência PSDB-DEM, que também vem de longa data. Tucanos recebem apoio democrata em 24 municípios; entregam em cinco.

Os registros de pedidos de candidaturas nos 5.568 municípios confirmam a afirmação de Bolognese segundo a qual a confusão aumenta conforme diminui o porte da disputa. Na concorrência por prefeituras pequenas, a diversidade de alianças é ainda maior, com cruzamentos para praticamente todos os gostos.

Há numerosos casos de coligações mesmo entre as siglas protagonistas da polarização que orientou a disputa no plano federal nos últimos anos. O PT aparece na chapa de candidatos do PSDB em 143 municípios, e apoia postulantes do DEM em 57. No sentido inverso, candidatos petistas recebem apoios de tucanos e democratas em 60 e 52 localidades, respectivamente.

Em cidades menores, nem o pequeno, ideológico e ruidoso Psol está imune a alianças inusitadas. A sigla de esquerda, que em muitas situações reluta em apoiar candidatos do PT, faz parte de uma coligação encabeçada pelo PSDB em Artur Nogueira, no interior paulista.